SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o início do ciclo de queda dos juros nesta quarta-feira (2), os investidores passam a buscar as alternativas que ofereçam os rendimentos mais atraentes na classe da renda fixa.
Levantamento realizado pela plataforma de comparação de aplicações financeiras Yubb mostra que, beneficiados pela isenção tributária, as opções de renda fixa em que o investidor não precisa pagar imposto são as que apresentam a maior rentabilidade real (descontada a inflação).
Com a taxa Selic reduzida em 0,50 ponto percentual nesta quarta pelo BC (Banco Central), para 13,25% ao ano, as debêntures incentivadas são as que têm o maior rendimento real dentre os principais investimentos de renda fixa, de 9,62%.
As debêntures incentivadas são títulos emitidos por empresas de infraestrutura para financiar grandes obras no setor de energia, transportes, telecomunicações e saneamento. O governo isenta a tributação dos títulos de modo a incentivar os investimentos na área no país.
Líder de alocação do escritório de agentes autônomos Manchester Investimentos, Rodrigo Ferreira diz que as crises no início do ano envolvendo Americanas e Light acenderam um alerta no radar dos investidores em relação ao mercado de crédito privado, com forte retração na demanda das empresas em acessar o mercado via emissão de dívidas e do apetite dos investidores pela aplicação.
No entanto, para gestores experientes nesse tipo de mercado, o cenário nos primeiros meses do ano serviu para que eles conseguissem comprar ativos de boa qualidade com remuneração acima da média, com fundos de debêntures incentivadas entregando retornos entre 150% e 200% acima do CDI, diz Ferreira.
Sparta, ARX, JGP e XP estão entre as gestoras apontadas pelo especialista que conseguiram navegar bem mesmo com o estresse no mercado de crédito.
Ainda de acordo com o levantamento, na sequência entre os maiores retornos na renda fixa vêm as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), que também são isentas do IR (Imposto de Renda) e têm um rendimento real de 7,99% e 7,61%, respectivamente.
Dentre as alternativas isentas do IR, a poupança é a que tem o menor rendimento real, de 3,32%. Isso ocorre porque a remuneração da caderneta é de 0,5% ao mês sempre que a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial). Já quando a Selic é de até 8,5%, o rendimento equivale a 70% da Selic mais a TR.
Segundo Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, é importante que o investidor continue a buscar a diversificação de ativos para aproveitar oportunidades em renda fixa diante do cenário de redução da taxa Selic, “ao mesmo tempo em que poderá, de forma paulatina e caso seja adequado ao seu perfil de risco, aumentar sua exposição à Bolsa de Valores”.
Ferreira, da Manchester, diz que a recomendação sobre a distribuição da carteira vai depender essencialmente do perfil de cada investidor.
Para o que tem perfil mais conservador, que não gosta de volatilidade na carteira, os investimentos em renda fixa do tipo pós-fixado, que acompanham a trajetória da Selic, seguem como os mais recomendados.
Ferreira diz que, ainda que tenha começado o ciclo de queda dos juros, a expectativa dos agentes financeiros é de que a Selic seguirá em um patamar elevado por um bom tempo, em torno de 12% no fim de 2023.
Já para o investidor mais arrojado que mira uma rentabilidade acima da taxa básica, o especialista diz que as opções são os títulos prefixados e os indexados à inflação.
No caso dos indexados à inflação, que pagam uma taxa prefixada mais a variação do IPCA, a recomendação do assessor é que a aplicação seja feita por aquele investidor com uma visão de mais longo prazo, que busca alternativas que assegurem o poder de compra ao longo do tempo.
Os prefixados, por sua vez, tendem a ser os mais voláteis dentro da renda fixa, e, portanto, devem ser direcionados para aquele tipo de investidor que sabe do risco que está correndo e busca garantir uma taxa de retorno paga pelo papel acima da que está sendo praticada hoje pela Selic, diz Ferreira.
Em relação ao investimento em ações, o especialista da Manchester diz que a alta recente da Bolsa já antecipou boa parte da expectativa de queda dos juros à frente.
Isso não significa, no entanto, que não seja mais possível tirar proveito do desempenho das ações nos próximos meses, afirma.
Ele diz que, conforme a Selic for sendo reduzida, os resultados das empresas tendem a se recuperar, com uma dívida menos custosa pesando nos balanços. E a melhora nos números que será reportada nos próximos trimestres será um catalisador para o desempenho das ações que ainda não foi embutido nos preços, diz o especialista, acrescentando que setores mais sensíveis às oscilações nos juros, como o imobiliário e o de consumo, devem ser os mais beneficiados em um cenário de Selic mais baixa.
LUCAS BOMBANA / Folhapress