SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um confronto entre gangues em um presídio feminino de Honduras terminou em incêndio e deixou pelo menos 41 mulheres mortas nesta terça-feira (20). O centro penitenciário, que abrigava cerca de 900 detentas, fica em Támara, a 25 km ao norte da capital, Tegucigalpa, e recebeu durante a tarde centenas de familiares das presas, que chegavam desesperados por informações.
Delma Ordóñez, presidente de uma associação de familiares de presos, afirmou à imprensa local que integrantes de uma das facções invadiram e incendiaram o setor do grupo rival. Parte das vítimas seria da Mara Salvatrucha, segundo ela, o que levantou a suspeita de que o ataque foi cometido pela gangue rival, a Barrio 18. Não há informações oficiais que confirmem tal alegação.
“O módulo está destruído, foi completamente queimado”, disse Ordóñez. Cinco mulheres ficaram feridas após o motim e foram levadas para um hospital na capital.
A maioria das vítimas morreu queimada e outras foram baleadas, segundo afirmou o porta-voz do Ministério Público, Yuri Mora, à agência de notícias AFP. Segundo ele, ainda não se sabe como o conflito começou, e o caso está sendo investigado.
“Chocada com o monstruoso assassinato de mulheres no Cefas (Centro Feminino de Adaptação Social), planejado por gangues aos olhos e com a complacência das autoridades de Segurança”, afirmou a presidente hondurenha, Xiomara Castro. A dirigente anunciou uma reunião com o ministro de Segurança, Ramón Sabillón, e a presidente da comissão interventora dos presídios, Julissa Villanueva, para prestarem contas sobre o episódio. “Tomarei medidas drásticas”, afirmou.
Antes disso, Villanueva já havia declarado situação de emergência no centro penitenciário. “Bom, ação e reação linha-dura agora”, afirmou. “Não vamos tolerar atos de vandalismo nem irregularidades nessa prisão. Está autorizada a intervenção imediata com acompanhamento de bombeiros, policiais e militares.”
Antes do episódio desta terça, o país já assistia a enfrentamentos nas prisões –razão pela qual Villanueva, que também é vice-ministra da pasta de Segurança, foi nomeada para a comissão interventora em maio. À época, ela anunciou um plano para retomar o controle das 26 prisões do país, nas quais a superlotação e a falta de infraestrutura são comuns. Conflitos nos centros, que abrigam aproximadamente 20 mil detentos no total, haviam deixado um morto e sete feridos em abril.
O plano inclui um “desarmamento real por meio de revistas manuais e eletrônicas permanentes em 100% das instalações” e “o bloqueio total de sinal de celular”, para que os presos não possam comandar ações criminosas de dentro da cadeia.
Segundo as autoridades, lideranças do crime organizado que estão presas ordenam extorsões, sequestros e assassinatos nesse país onde funciona um narcoestado, segundo especialistas, devido à influência do narcotráfico na polícia e na política.
Em abril do ano passado, o ex-presidente Juan Orlando Hernández foi extraditado aos Estados Unidos por uma acusação de tráfico de drogas, um ano depois de seu irmão Tony ser condenado à prisão perpétua pelo mesmo crime em Nova York.
Desde o final do ano passado, parte do país está sob estado de exceção sob justificativa da crescente violência. A taxa de homicídios disparou em 2022 e chegou a 40 a cada 100 mil habitantes, quatro vezes mais que a média mundial.
Ao lado da Guatemala e de El Salvador, Honduras compõe o Triângulo Norte, uma das regiões mais violentas do mundo. Essa parte da América Central se converteu, aos olhos do narcotráfico internacional, em um corredor de drogas para os EUA. Nos últimos anos, políticas de linha-dura têm ganhado tração na região, que sofre com retrocessos democráticos.
Redação / Folhapress