Congonhas e Brasília representam menos da metade dos passageiros do Santos Dumont

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os voos que conectam o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, a Congonhas (SP) e Brasília respondem por menos da metade dos passageiros que embarcam ou desembarcam no aeroporto carioca atualmente.

É o que indicam dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) referentes a 2022 e 2023.

Dependendo do cenário dos próximos meses, Congonhas e Brasília serão as únicas ligações disponíveis no Santos Dumont, localizado no centro do Rio.

Isso pode ocorrer porque o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), anunciou na semana passada um plano que pretende restringir as operações no aeroporto carioca a essas duas rotas.

Segundo Paes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aceitou a limitação de voos no Santos Dumont.

Assim, as demais rotas domésticas que envolvem o Rio devem ser concentradas no aeroporto do Galeão, na zona norte do município.

Autoridades locais entendem que a medida é necessária para reverter o esvaziamento visto nos últimos anos no Galeão.

De acordo com dados da Anac, o Santos Dumont recebeu um total de 9,9 milhões de passageiros pagos em 2022. A conta inclui voos com origem ou destino no terminal.

No mesmo período, as ligações do aeroporto carioca com Congonhas e Brasília, somadas, movimentaram 4,1 milhões de passageiros.

Esse contingente equivale a 41,4% do total embarcado ou desembarcado no Santos Dumont em 2022 (9,9 milhões).

Os dados parciais de 2023 indicam um cenário semelhante. De janeiro a abril deste ano, o Santos Dumont recebeu 3,8 milhões de passageiros, entre embarques e desembarques, segundo a Anac.

Na soma das ligações com Congonhas e Brasília, o número de viajantes foi de quase 1,5 milhão no mesmo período.

Essa quantia corresponde a 38,9% do total de passageiros que decolaram ou pousaram no Santos Dumont de janeiro a abril de 2023 (3,8 milhões).

O aeroporto central do Rio opera apenas voos domésticos. Atualmente, está sob administração da estatal Infraero.

Os voos envolvendo Congonhas e Brasília são os mais movimentados no Santos Dumont. A ponte aérea com o terminal de São Paulo, aliás, é a rota mais demandada no país.

À reportagem a Infraero disse que segue as diretrizes do governo federal e que está em tratativas junto ao Ministério de Portos e Aeroportos para que sejam cumpridas as determinações relacionadas ao Santos Dumont.

Questionada se as conexões com Congonhas e Brasília seriam suficientes para sustentar o aeroporto carioca, a empresa pública afirmou que a “conclusão dessas tratativas irá apontar a questão da sustentabilidade financeira”.

O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, declarou na segunda-feira (19) que a redução de voos no Santos Dumont entrará em vigor a partir de outubro. Esse processo seria feito de maneira gradual.

Prefeitura fala em melhorar coordenação

Na visão da Prefeitura do Rio, as restrições são necessárias para melhorar a coordenação entre o aeroporto e o Galeão, ampliando o número total de passageiros que pousam ou decolam no município.

“O mundo coordena os aeroportos quando existem dois na mesma região metropolitana. Se você não coordenar, um canibaliza o outro”, diz Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio.

“No passado, o Santos Dumont foi pensado para a ponte aérea. O aeroporto não tem mais capacidade para crescer. Há uma limitação operacional.”

Em 2019, no pré-pandemia, o Santos Dumont recebeu 8,9 milhões de passageiros pagos, entre embarques e desembarques, conforme a Anac.

No mesmo ano, as ligações com Congonhas e Brasília, somadas, alcançaram 5,2 milhões de viajantes. Essa quantia correspondeu a mais da metade (58%) do total de passageiros no aeroporto carioca à época (8,9 milhões).

É uma proporção que ainda não foi alcançada após os efeitos da pandemia. A expansão de rotas no terminal vem sendo criticada por lideranças do Rio.

Bulhões avalia que uma melhor coordenação com o Galeão ajustaria a oferta de voos e diminuiria a pressão sobre os preços das passagens aéreas na capital fluminense.

Na visão do secretário, isso poderia levar para a ponte aérea Santos Dumont-Congonhas, por exemplo, viajantes que passaram a fazer o deslocamento Rio-São Paulo de ônibus nos últimos anos devido à carestia dos bilhetes de avião.

Em 2022, os voos entre os dois aeroportos movimentaram quase 3 milhões de pessoas, segundo a Anac. O dado ficou abaixo dos cerca de 4,1 milhões de 2019.

O Santos Dumont está ao lado de negócios instalados na região central do Rio e mais próximo do que o Galeão dos pontos turísticos da zona sul, como o Pão de Açúcar e as praias de Copacabana e Ipanema.

O Galeão, por sua vez, fica na Ilha do Governador e tem uma infraestrutura maior, que opera tanto voos nacionais quanto internacionais. O terminal também exerce papel relevante no transporte de cargas do estado.

Em 2022, o empreendimento recebeu 5,7 milhões de passageiros pagos, conforme a Anac. Ao longo da década passada, contudo, chegou a registrar mais de 16 milhões de viajantes por ano.

Para autoridades do Rio, com menos opções de voos nacionais, o Galeão não consegue ampliar suas rotas internacionais. Essa seria uma das razões para restringir o Santos Dumont.

Parte dos usuários, por outro lado, costuma reclamar de uma dificuldade maior de acesso ao Galeão. Essas queixas voltaram a aparecer nas redes sociais na semana passada, após o anúncio da redução nos voos do terminal doméstico.

O acesso ao aeroporto internacional é feito por vias como a Linha Vermelha. Usuários reclamam de engarrafamentos e apontam uma sensação de insegurança na região.

Galeão vive incerteza em meio a esvaziamento

O futuro do Galeão ainda depende da resolução de um impasse envolvendo sua concessionária. Em 2022, a RIOgaleão iniciou um pedido de devolução do aeroporto. Uma possível permanência da concessão, porém, passou a ser ventilada em 2023.

O governo Lula resolveu consultar o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a viabilidade jurídica de um eventual acordo com a empresa. A RIOgaleão é controlada pela Changi, de Singapura.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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