Conheça 9 momentos dos 90 anos de história da USP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A USP (Universidade de São Paulo) chega aos 90 anos nesta quinta-feira (25). Nesse período, a instituição já abrigou Jogos pan-americanos e foi resistência à ditadura militar. Assim como adiou a contratação de professores negros e teve apenas uma mulher na reitoria.

Saiba nove fatos marcantes ocorridos no principal centro de ensino da América Latina desde a sua fundação.

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A ORIGEM

Era 1934. Os paulistas haviam sido derrotados na sua tentativa de Revolução Constitucionalista dois anos antes, e Armando Salles de Oliveira, nomeado interventor no estado pelo presidente Getúlio Vargas.

Para o Estado, as principais mentes de São Paulo não eram dignas de confiança por tramarem uma insurreição. Foi concebida então por Salles de Oliveira a ideia de um novo espaço para o alvorecer de novos pensadores, os futuros líderes do estado mais rico da nação —então ao lado de Minas Gerais. Daí, surgia a Universidade de São Paulo.

O primeiro passo para a criação da instituição foi reunir algumas faculdades e institutos já existentes, como a Escola Politécnica de São Paulo, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito. Depois, surgiu a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Logo, profissionais estrangeiros renomados chegaram para dar peso ao quadro docente, casos dos sociólogos Donald Pierson, americano, e Claude Lèvi-Strauss, francês.

MUDANÇA PARA A CIDADE UNIVERSITÁRIA

O projeto de um espaço para abrigar todas as faculdades da USP circulava desde os anos 1930. Foi só em meados dos 1950, porém, que ele saiu do papel. O endereço escolhido pela equipe gestora foi a antiga Fazenda Butantã, hoje nome do bairro da zona oeste de São Paulo.

Sua construção foi inconstante em razão dos poucos recursos repassados pelo governo estadual. Primeiro, foi erguido o prédio da reitoria. Depois, a Escola Politécnica, pronta em 1963, quando os primeiros alunos puderam pisar naquelas salas.

A Cidade Universitária possui mais de 3,7 milhões de metros quadrados.

SURGE O CRUSP

Os Jogos pan-americanos de 1963, única edição realizada em São Paulo, tiveram seus atletas abrigados na USP. Lá, foram erguidos modernos alojamentos para nomes como Jairzinho, atacante posteriormente campeão do mundo com a seleção brasileira de futebol, e Maria Esther Bueno, estrela do tênis nacional.

Ao fim das competições, os quartos foram tomados por alunos. Era o nascimento do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), hoje abrigando cerca de 4.000 pessoas.

Os edifícios, já sessentões, carecem de reparos, como mostrou a Folha.

ANOS DE CHUMBO

O período ditatorial brasileiro (1964–1985) foi marcante para os uspianos. A instituição era reduto de movimentos democráticos. Por isso, alunos e docentes foram perseguidos, torturados e mortos —ao menos 47, segundo a Comissão Nacional da Verdade.

Em 2011, por iniciativa do Núcleo de Estudos da Violência, foi inaugurado um memorial em homenagem aos membros da comunidade da USP que foram perseguidos e mortos por motivações políticas durante o regime militar, conforme inscrição feita no monumento de concreto aparente.

A obra está exposta na Praça do Relógio, no coração do campus, e flores são deixadas nela todas as semanas.

PRIMEIRO DOCENTE NEGRO

A USP levou 46 anos para ter seu primeiro professor negro. Em 1980, Kabengele Munanga começou a lecionar na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).

Munanga nasceu na República Democrática do Congo, onde concluiu em 1969 sua graduação em Antropologia Social e Cultura. Em 1975, chegou ao Brasil para cursar o doutorado na área de antropologia social. Apaixonou-se pelo país e ficou. Hoje, é uma das principais referências para o estudo da educação antirracista.

Mais de cinco décadas após a contratação de Munanga, apenas 4% dos docentes da universidade são negros.

ÚNICA MULHER NO COMANDO

Desde a sua fundação, 29 pessoas se sentaram na cadeira de reitor da USP. Apenas uma era do sexo feminino, Suely Vilela. Ela dirigiu a instituição de 2005 a 2009.

Graduada em farmácia e doutora em ciências pela universidade, Vilela tornou-se professora titular em 1996. É membro da Academia de Ciências de Ribeirão Preto, da Academia Nacional de Farmácia e da Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura.

A reitoria do centro de ensino é atualmente ocupada pelo médico Carlos Gilberto Carlotti Júnior.

CRIAÇÃO DA USP LESTE

A população da zona leste paulistana cobrava um campus universitário na região desde meados dos anos 1980. Na década seguinte, com apoio de grupos políticos, negociações foram feitas com Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ambas sem sucesso.

O assunto ficou escanteado até 2001, quando um estudo sobre o ensino superior no estado deixou clara a necessidade de novas vagas e descentralização das oportunidades. A USP abraçou a ideia e aprovou a construção de um campus do lado leste da cidade. Ermelino Matarazzo foi escolhido como endereço.

A unidade, que abriga a EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), foi inaugurada em 27 de fevereiro de 2005.

OCUPAÇÃO DA REITORIA

Uma multidão de estudantes entrou no prédio da reitoria da USP em 2 de novembro de 2011. Eles alegavam postura autoritária por parte do então reitor, João Grandino Rodas. Este havia acordado convênio com a Polícia Militar para segurança do campus, atitude considerada repressora.

Dias antes da invasão, agentes tinham detido três alunos por uso de maconha nos arredores da FFLCH, desencadeando a ira dos discentes.

A ocupação durou seis noites. No dia 8 de novembro, 400 PMs invadiram o edifício para, à força, expulsar os ali presentes. Mais de 70 pessoas foram detidas. A ação policial foi pretexto para uma greve geral iniciada na universidade naquele ano e encerrada em 2012.

SISTEMA DE COTAS

A USP foi a última universidade pública do país a adotar cotas socioeconômicas e raciais para o ingresso de estudantes, em 2018. No início do programa, foram reservadas 37% das vagas de cada uma das unidades, que normalmente oferecem mais de um curso.

Gradualmente, a inclusão se ampliou anualmente e atingiu a meta final em 2021, quando 50% de cada curso e turno foram reservados para alunos de escolas públicas e, dentro desse conjunto, 37,5%, destinados ao grupo PPI (Pretos, Pardos e Indígenas)

A porcentagem de 37,5% equivale à proporção dessa população no Estado de São Paulo, mas, conforme aplicada na cota de 50%, ficam garantidas para alunos PPI 18,75% de todas as vagas da USP.

BRUNO LUCCA / Folhapress

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