SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A causa da morte de três crianças e internação de outras quatro em São João del Rei, no interior de Minas Gerais, permanece indeterminada. Entre as possibilidades investigadas pelas autoridades prevalece a suspeita de infecção bacteriana.
Na declaração de óbito da primeira vítima, um menino de 10 anos, a bactéria Streptococcus pyogenes foi apontada pelo médico como causa da infecção na ocasião, contudo, não houve coleta de material para confirmação em laboratório.
Trata-se de uma bactéria comum, responsável por uma série de infecções em seres humanos. Normalmente os quadros são leves e o tratamento é simples, embora alguns pacientes, principalmente crianças, desenvolvam sintomas mais graves.
Amigdalite, faringite, febre, dor no corpo e infecções de pele estão entre os principais efeitos da bactéria, também chamada de estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Quando a infecção é grave, porém, pode resultar em pneumonia e septicemia, condição que em muitos casos leva o paciente à morte.
“Algumas cepas são muito agressivas e produzem toxinas que podem levar à morte do tecido. E é muito grave, porque a bactéria cai no sangue, se multiplica e pode invadir os órgãos, provocando a septicemia”, explica o infectologista Marcelo Simão Ferreira, professor da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
A bactéria é facilmente transmitida por meio de secreções respiratórias provenientes, por exemplo, de espirros e tosses. Por isso, é comum que se multiplique entre crianças no ambiente escolar. “Essa bactéria pode ser encontrada em superfícies, de maneira geral. Nas carteiras, nos bebedouros e em outros objetos”, acrescenta Ferreira.
Segundo o médico, o diagnóstico clínico costuma ser suficiente para identificar a presença da bactéria e orientar o tratamento adequado. “A grande vantagem é que a bactéria não é resistente a penicilina. Você cura com qualquer antibiótico derivado”, diz Ferreira, que orienta pais e mães a buscarem atendimento médico para os filhos rapidamente ao perceberem os primeiros sintomas.
Recentemente, outra bactéria do mesmo gênero, chamada Streptococcus sp. alfa-hemolítico, foi apontada como causa do adoecimento de outra criança na cidade. Uma menina de 9 anos foi internada com febre e lesões no pé, mas já recebeu alta.
Segundo Ferreira, esse tipo de bactéria é “um habitante normal da nossa garganta”, mas pode causar infecções graves em outras regiões do corpo.
A causa das mortes ocorridas no interior de MG é investigada pela Funed (Fundação Ezequiel Dias), instituto vinculado à SES (Secretaria de Estado de Saúde). A pasta não informou se tem previsão para divulgação dos laudos.
As mortes motivaram o fechamento de escolas em São João del Rei, onde duas crianças continuam internadas, e em outros municípios vizinhos. Em seus canais oficiais, as prefeituras de Tiradentes, Santa Cruz de Minas, Ritápolis e Conceição da Barra de Minas todas na região do Campo das Vertentes anunciaram a suspensão temporária das aulas para desinfecção das unidades de ensino.
Em nota, a autoridade estadual disse que “não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João Del Rei, bem como nenhuma evidência epidemiológica que justifique a alteração na rotina das atividades da população, como paralisação nas escolas”.
A SES-MG reforça que, em casos de sintomas como febre e garganta inflamada, a orientação à população é procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para diagnóstico correto e tratamento adequado.
A secretaria destaca ainda que o melhor meio de informação para a população são os canais oficiais, evitando o compartilhamento de notícias falsas e o alarme injustificado da população.
LEONARDO ZVARICK / Folhapress