SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Baterias de íons de lítio, LED azul, microscópio, RNA mensageiro e raio-X. Com finalidades bem distintas, essas invenções científicas têm em comum o fato de terem feito com que seus criadores ganhassem o prêmio Nobel.
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Ao longo de mais de um século de existência, a premiação que homenageia Alfred Nobel reconheceu uma série de estudos que serviram de base para invenções e tratamentos de saúde importantes que estão no cotidiano das pessoas. Conheça algumas delas.
BATERIA DE CELULAR
O Nobel de Química de 2019 foi entregue aos cientistas John B. Goodenough (1923-2023), M. Stanley Whittingham e Akira Yoshio pelo desenvolvimento das baterias de íons de lítio, essenciais para o funcionamento de smartphones, laptops e tablets, dispositivos médicos essenciais, como desfibriladores cardíacos, e veículos elétricos limpos e silenciosos, que reduzem a emissão de gases do efeito estufa, diminuindo o impacto das mudanças climáticas.
Esse tipo de bateria foi produzido na década de 1970 durante a crise do petróleo. O primeiro modelo criado por Whittingham tinha capacidade de produzir pouco mais de dois volts. Nos anos 1980, Goodenough aperfeiçoou o modelo utilizando óxido de metal na fabricação das baterias e conseguiu dobrar seu potencial energético. A descoberta permitiu que Yoshino desenvolvesse a primeira bateria comercializável de íons de lítio em 1985.
Ao público geral, as baterias chegaram apenas em 1991.
LED
Os três cientistas vencedores do Nobel de Física de 2014, Isamu Akasaki (1929-2021), Hiroshi Amano e Shuji Nakamura foram os inventores do LED azul, que permitiu a criação de fontes de luz branca brilhantes e eficazes. Os LEDs verdes e vermelhos já existiam desde os anos 1960, mas só no início dos anos 1990 os compostos semicondutores criados pelos laureados permitiram a existência dos dispositivos na versão azul.
Com a combinação das três cores foi possível produzir a luz branca, que substituiu as lâmpadas incandescentes e fluorescentes. Os LEDs são usados também em TVs e telas de celular.
Em 2023, o Nobel de Química foi entregue a Moungi Bawend, Louis Brus e Alexei Ekimov por pesquisas relacionadas à descoberta de pontos quânticos, que deram cor à nanotecnologia. A descoberta já está presente em televisores e monitores com tecnologia QLED -o “Q” se refere exatamente aos pontos quânticos-, luminárias LED e também tem potencial para ser usada na medicina, para guiar remoções de tecidos tumorais.
MICROSCÓPIO
Foi nos anos 1930 que o primeiro microscópio eletrônico foi inventado pelo cientista alemão Ernst Ruska (1906-1988). O objeto foi fundamental para vários campos da ciência. Ruska foi laureado com o prêmio Nobel de Física em 1986. Ele dividiu a láurea com outra dupla de pesquisadores, Gerd Binnig e Heinrich Rohrer (1933-2013), que trabalhou no desenvolvimento do microscópio de tunelamento em paralelo.
O aprimoramento da microscopia foi reconhecido pelo Nobel novamente em 2014, quando o pesquisador William Moerner foi laureado juntamente com Eric Betzig e Stefan Hell com o Nobel de Química pelo desenvolvimento da microscopia de fluorescência de alta definição. O trabalho do trio tornou possível a visualização do funcionamento das células e o que acontece quando elas estão doentes.
Em 2017, novamente um aperfeiçoamento dos microscópios foi laureado. O Nobel de Química foi entregue para Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson pela técnica de criomicroscopia eletrônica. Com ela, é possível congelar moléculas em meio a processos bioquímicos, o que permite visualizar e analisar a precisão da superfície e seu funcionamento orgânico. Essa técnica foi utilizada nos estudos sobre Zika vírus durante o surto de microcefalia no Brasil.
VACINA CONTRA A COVID-19
A bioquímica húngara Katalin Karikó e o médico americano Drew Weissman receberam o Nobel de Medicina em 2023 por pesquisas que levaram ao desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro, fundamentais na produção dos imunizantes contra a Covid-19.
A descoberta também é apontada como um caminho para o combate de outras doenças, como dengue, malária, chikungunya e Zika.
Os primeiros resultados das pesquisas foram publicados inicialmente em 2005. Com o desenvolvimento dos estudos, a partir de 2010, várias empresas que trabalhavam na produção de vacinas começaram a se interessar pela tecnologia. Durante a pandemia, a Pfizer e a Moderna foram as que desenvolveram vacinas em tempo recorde graças à tecnologia.
PCR
Outra tecnologia que ganhou destaque durante a pandemia foi a do teste PCR, que se tornou o padrão mais confiável para detecção do vírus da Covid-19 e de outras doenças, como a dengue.
Seu inventor, Kary Mullis (1944-2019), foi laureado com um Nobel de Química em 1993. As letras que compõem o nome do exame que se popularizou significam reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês. A técnica que se tornou rotineira nos laboratórios permite fazer muitas cópias de uma região específica do DNA.
Além de ser aplicada na prática de diagnósticos médicos, a PCR pode ser utilizada em investigações forenses e testes genéticos.
DERTILIZAÇÃO IN VITRO
A inglesa Louise Brown, nascida em 25 de julho de 1978, foi a primeira bebê nascida da fertilização in vitro. Criada há mais de 45 anos, a técnica se tornou um procedimento de rotina e já gerou mais de 10 milhões de bebês no mundo. Em 2010, o procedimento foi premiado com o Nobel de Medicina. O laureado foi o pesquisador britânico Robert Edwards (1925-2013), que trabalhou ao lado do cirurgião ginecológico Patrick Steptoe.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
No ano de 2003, o químico americano Paul Lauterbur (1929-2007) e o físico britânico Peter Mansfield (1933-2017) foram os ganhadores do Nobel em Medicina pela invenção da ressonância magnética. A técnica tornou-se uma das mais seguras e precisas no diagnóstico de diversas doenças e o equipamento que realiza o exame está presente em milhares de hospitais pelo mundo.
Além da aplicação clínica, a ressonância magnética é utilizada para entender diferentes áreas do cérebro, possibilitando diversos estudos sobre pensamentos e emoções humanas.
RAIO-X
O primeiro prêmio Nobel de Física da história, em 1901, foi entregue ao físico e engenheiro Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923) pela invenção do raio-X, uma tecnologia que revolucionou o campo da medicina. No final do século 19, o alemão estava fazendo experimentos com equipamentos criados por outros colegas e acabou sofrendo uma descarga elétrica.
O incidente levou o pesquisador a fazer outros testes que culminaram na descoberta da técnica de raio-X. Durante a Primeira Guerra Mundial, a também laureada pelo Nobel Marie Curie -única mulher vencedora do prêmio duas vezes, uma em 1903 e outra em 1911- inventou a primeira “máquina portátil” de raio-X, que consistia num carro adaptado para transportar uma máquina de raio-X usada para diagnosticar soldados feridos.
HIV
Nos anos 1980, a Aids era uma doença nova, desconhecida e considerada uma sentença de morte. Foi o virologista Luc Montagnier (1932-2022) quem descobriu o HIV em 1983. Vinte e cinco anos depois, em 2008, o francês recebeu o prêmio Nobel de Medicina pela descoberta. Ele foi o responsável por isolar o vírus, que foi identificado mais tarde como causador da síndrome da imunodeficiência adquirida.
Seus achados foram a base para os tratamentos contra a doença que permitem que os portadores de HIV levem vidas quase normais atualmente.
A partir de 2017, Montagnier fez várias declarações contra vacinas e se tornou uma figura controversa na comunidade científica. O pesquisador morreu em 2022.
HEPATITE C
Os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina em 2020 foram os cientistas Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice, que contribuíram para a identificação do vírus da hepatite C, uma inflamação no fígado que pode causar cirrose hepática, câncer e outros problemas de saúde.
A descoberta foi feita em 1989. Até então, apenas as hepatites A e B eram conhecidas. Com isso, inflamações do fígado que não eram causadas por essas duas doenças eram tratadas como hepatite “não A, não B”.
O trio conseguiu identificar a ação do vírus da hepatite C por meio de anticorpos. Nos anos 1990, Rice identificou o mecanismo pelo qual o vírus poderia, de fato, causar a patologia.
Os estudos sobre o vírus permitiram a evolução de exames diagnósticos e tratamentos eficazes para a doença.
LETÍCIA NAÍSA / Folhapress