SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Netflix sabe que brasileiro ama um reality show. Depois de fazer o Casamento às Cegas nacional virar uma obsessão dos românticos, filmar cenas picantes em Brincando com Fogo: Brasil, e fracassar com a versão do americano The Circle, a plataforma decidiu se arriscar na seara musical.
Nova Cena é a primeira incursão do braço nacional da empresa numa competição de música, formato que há décadas faz barulho na TV aberta. Dedicado a artistas de rap e hip-hop, o reality é uma adaptação do americano “Rhythm & Flow”. Quatro capítulos chegam à plataforma nesta terça-feira, dia 12, e os dois últimos estreiam uma semana depois.
No programa, artistas novatos que vivem em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo competem por R$ 500 mil. O vencedor poderá também atuar na quinta e última temporada da série “Sintonia”, que há cinco anos deu início à paquera da Netflix com ritmos da quebrada, como o funk, e depois o rap.
Quem mentora os participantes são os rappers Djonga, que é mineiro, o carioca Filipe Ret, febre entre os jovens, e as irmãs paulistanas Tasha e Tracie. Ao longo dos episódios Karol Conká, Marcelo D2, Negra Li e outros cantores surgem para dar pitaco nas avaliações.
A ideia é que os competidores testem habilidades fundamentais a qualquer bom rapper, como velocidade do flow, nível de composição e inovação nas rimas. No primeiro episódio, por exemplo, um rapaz não avança da primeira fase porque se embanana com o fluxo de uma cantoria.
A Netflix, que chegou ao Brasil há mais de uma década, demorou para lançar um reality musical porque queria estrear com um formato que não fosse conhecido, para, assim, melhorar a chance de causar algum impacto, diz Elisa Chalfon, responsável pelos produtos de não ficção da empresa no país.
“Dois momentos nos deram certeza de seguir com o Nova Cena: o lançamento do documentário dos Racionais, em 2022, e a quarta temporada de ‘Sintonia’, neste ano. Com eles, a gente viu que existia mesmo uma conexão entre o rap e a nossa audiência.”
Nova Cena estreia em meio a um aparente desgaste dos realities musicais no Brasil. A Globo, que há anos abusa do formato, cancelou o The Voice Brasil por causa da audiência baixa. Este ano a emissora tentou emplacar o Estrela da Casa, espécie de Big Brother com cantores, que tampouco empolgou.
A crise pode ter a ver com a mudança nos gostos dos fãs do gênero, afirma Chalfon, que tem experiência de anos na área. Ela produziu realities como o Popstars, do SBT, que lançou o grupo Rouge em 2002. “O público quer ver mais coisas autênticas, que sejam de verdade, relacionáveis.”
Nessa busca por ser diferente, o Nova Cena escolhe retratar a íntima relação entre rap, hip-hop e a vida de pessoas que foram impactadas em algum nível por esse tipo de música, que, apesar de popular, ainda não aparece entre as mais ouvidas do país.
Há gente de todo o tipo no reality, alguns mais estabelecidos que outros na área artística. O mineiro Novak, por exemplo, vem se dividindo entre o trabalho na música e o de motoboy. No time do cantor Djonga, ele conta que o hip-hop o ajudou a escapar da vida de crime. “Esses ritmos ainda não alcançaram lugares o suficiente. Imagino que o reality vá trazer perspectiva para muita gente, mais ainda para minha quebrada”, diz.
Quem pensa parecido é a paulistana Maria Preta, que joga sob a batuta da dupla Tasha e Tracie. Para ela, o rap é marginalizado.
“É um tipo de música feita quase totalmente pelo povo periférico. Faltam ferramentas para popularizá-la, e falta a mídia levantar esses gêneros, mostrar quanto interesse existe.”
No elenco estão ainda a rapper OGCapitu, que diz ser uma Capitu, aquela do Machado de Assis, só que gostosa. Ela, que prepara um clipe com orçamento bancado pela Lei Paulo Gustavo, diz que vai fugir de contratos com gravadoras depois do reality. A mineira é assessorada por uma amiga, e está ainda bolando estratégias para não ser esquecida com o fim do programa.
Pouquíssimos vencedores de realities musicais deslancham. Um raro exemplo é o pagodeiro Thiaguinho, que participou do programa Fama, da Globo, em 2002.
“A carreira artística tem muita concorrência, é desafiador continuar no topo. Não acho que os competidores somem. Alguns seguem por um caminho, outros pensam ‘isso não é para mim’. Mas no Nova Cena, todos os participantes já são artistas. Eles só precisam de um empurrãozinho”, diz Chalfon, a produtora da Netflix.
NOVA CENA
Quando Quatro episódios disponíveis, e os dois últimos estreiam em 19/11
Produção Brasil, 2024
Onde assistir Na Netflix
GUILHERME LUIS / Folhapress