SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No começo dos anos 1950, a rua Galvão Bueno, no centro de São Paulo, ganhou o Cine Niterói, um cinema de rua voltado para produções asiáticas e administrado por imigrantes japoneses. Com uma média de 20 mil espectadores por semana, ele deu início ao movimento de difusão da cultura japonesa naquela região, conhecida como bairro da Liberdade. O bairro chegou a abrigar três salas de cinema dedicadas às produções asiáticas.
A vivência audiovisual do bairro será revitalizada com a inauguração do Sato Cinema em 16 de julho, um novo cinema de rua voltado para conteúdos asiáticos. Ele acompanha a empolgação do bairro, com novidades constantes, especialmente na gastronomia, e sendo cada vez mais frequentado nos fins de semana.
Localizado no prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, onde está o Museu de Imigração Japonesa, o cinema foi idealizado por Nelson Sato, proprietário da Sato Company, uma distribuidora de filmes reconhecida por trazer para o Brasil produções asiáticas, como os animes “Naruto” e “My Hero Academia”. A criação do cinema foi motivada pela comemoração dos 115 anos da imigração japonesa no Brasil.
A paixão de Sato pelo cinema é antiga. Seu primeiro filme adquirido foi “Akira”, de Katsuhiro Otomo, em 1991. Na época, nenhum exibidor aceitou, pois só exibiam desenhos animados dublados da Disney ou do estúdio Hanna-Barbera.
Com persistência, ele conseguiu exibir sete cópias de 35 mm do filme, que ficou um ano em cartaz no Brasil e atraiu 250 mil espectadores, um número significativo. Agora, ele tem sua própria sala para essas produções.
O anfiteatro destinado ao cinema possui 1.100 assentos, dos quais 700 serão utilizados na parte inferior da plateia. A tela motorizada é a maior desse tipo em São Paulo. Por ser um prédio tombado, a estrutura do espaço deve permanecer a mesma, inclusive as poltronas. Apesar de antigo em sua estrutura, os projetores são modernos, assim como o sistema de som Dolby 5.1.
Uma das motivações por trás da criação da sala de cinema, segundo Sato, é o fato de que o mercado se tornou mais comercial, tornando difícil competir com outros títulos exibidos nas grandes salas de cinema, especialmente no caso dos filmes asiáticos.
Abrir uma sala de cinema especializada parece ir contra a corrente do cenário atual, com o streaming ganhando força e o mercado de exibição enfrentando problemas. Apesar dos desafios, Sato mantém a esperança. “Percebi que os jovens estão cada vez mais curiosos em relação à cultura asiática, não apenas a japonesa, mas também a coreana”, afirma. Além disso, para ele, a experiência do cinema vai além de qualquer outra.
A ideia é que o cinema atenda a todas as idades e qualquer brasileiro que tenha curiosidade por essa cultura, desde os fãs de anime até as pessoas mais velhas saudosistas. Será exibido shows e documentários do BTS, grupo de k-pop que faz sucesso entre a geração Z, mas também filmes como “Hachiko Monogatari”. Ainda há uma pegada cinéfilo com a exibição de “O Deus do Cinema”, já em julho, está sendo planejada uma mostra com filmes de Bruce Lee em comemoração aos 50 anos de sua morte.
Em julho, serão três dias de programação, com cinco sessões das 10h às 18h30. No dia 16, serão exibidos “O Deus do Cinema”, de Yoji Yamada, e “Kamen Rider Zero One”, série live-action do gênero tokusatsu, que utiliza muitos efeitos especiais. No dia 23, será a vez das animações “The Promised Neverland” e “Human Lost”, que será exibida novamente no dia 30.
“Ter um cinema dando espaço para esses tipos de cinema chega em mais pessoas é muito significante”, afirma Jacqueline Sato, que administrará o cinema ao lado do pai.
O local disponibilizará pipoca e café e planeja expandir o cardápio com itens da culinária japonesa, como doces e salgadinhos. O valor do ingresso é de R$ 35, com opção de meia entrada.
SATO CINEMA
Quando Dom., das 10h às 18h30. A partir de 16/7
Onde R. São Joaquim, 381, Liberdade, região central
Preço R$ 35
VITÓRIA MACEDO / Folhapress