SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Parece muito simples uma batida eletrônica com vocais falados por cima. Mas a economia de elementos na sonoridade da dupla britânica Sleaford Mods está longe de ser banal. Ela age a serviço de músicas dançantes com letras críticas ao estado da sociedade e da política da Inglaterra no século 21.
Considerado um dos principais grupos no panorama musical britânico da atualidade mas praticamente desconhecido no Brasil, o Sleaford Mods trará a São Paulo sua mistura de eletrônica de videogame e vocais irônicos para um show no dia 2 de novembro, no Carioca Club.
Jason Williamson, o vocalista, e Andrew Fearn, responsável pela parte instrumental, desembarcam na capital paulista no rastro do sucesso de popularidade de seu disco mais recente, “UK Grim”, lançado no ano passado e tido como um álbum mais fácil de ser ouvido em relação aos seis LPs anteriores da dupla.
Em entrevista por vídeo, Williamson concorda que “UK Grim” soa mais palatável. “Não tenho certeza se ficará mais acessível [que isso]. Nós tendemos a nos agradar e temos a sorte de ter uma gravadora que nos permite fazer isso, mas ao mesmo tempo estamos cientes de que se houver um pouco de acessibilidade, isso é melhor para trazer mais pessoas para um show. Que é a ideia, não é?”
Agradar aos ouvidos de mais gente não significa que a banda tenha perdido a verve contestatória e a atitude punk. No vídeo da faixa “UK Grim”, vemos um dos arautos da ultradireita da Inglaterra, o político Nigel Farage, sendo colocado numa caçamba de lixo. Segundos depois, o ex-primeiro ministro Boris Johnson surge nu pilotando o cavalo que puxa uma carruagem igual à da família real.
Os músicos do grupo vão atrás da trupe, num carrinho de choque de parque de diversões, enquanto ironizam na letra da música os homens de negócio de Londres, com suas “camisas brancas e barrigas de almoço”, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que aparece no vídeo sem camisa, mostrando músculos absurdamente exagerados. “Merda, ele está tão em forma”, canta Williamson.
Segundo o vocalista, o público presta atenção nas letras, às vezes longas e cheias de gírias e jogos de palavras que exigem o domínio da linguagem das ruas da Inglaterra para serem compreendidas por inteiro. Ele diz que há muita gente com bom domínio do inglês em outros países, de modo que a mensagem da banda pode se expandir para além do canal da Mancha. Mas as pessoas, acrescenta, “em sua maioria estão investidas no pacote completo, não só nas letras”.
Questionado por que é relevante cantar sobre as mazelas britânicas do século 21, ele divaga ao afirmar que é importante abordar a vida e a existência, um tempo que deve ser preenchido até a morte com uma “medida de razão”. Mas “há muita gente que não quer a razão, que não sabe o que quer”.
“Há muitas pessoas más por aí. E todas essas coisas criam regras, ideologias, pressões e conformidades que são tão insanas quanto a ideia da vida em si. Então é a única coisa sobre a qual falar. A existência em si talvez seja política. Você não precisa apenas falar sobre a mecânica do governo, sabe? Tudo é político.”
Ouvindo as letras da banda há de se pensar que Williamson cultiva um amargor em relação a seu país natal, mas ele diz que não é bem assim. “É de onde você é. Tenho certeza que você sente o mesmo sobre o seu país. Você tem dias bons e dias ruins.”
SLEAFORD MODS
– Quando 2 de novembro, sábado, a partir das 18h
– Onde Carioca Club – r. Cardeal Arcoverde, 2899, São Paulo
– Preço A partir de R$ 190
– Link: https://www.clubedoingresso.com/evento/sleafordmods-saopaulo
JOÃO PERASSOLO / Folhapress