Consultora de comida cria receitas e faz até dublê de Brie Larson em série

LONDRES, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – “Uma Questão de Química”, série recém-lançada na Apple TV, conta a história de Elizabeth Zott, interpretada por Brie Larson. Ela é uma química brilhante, mas ressentida com a falta de reconhecimento. Devido aos percalços da vida, precisa cozinhar para se sustentar.

Até aí, poderia ser uma versão feminista de “Breaking Bad”. Não é. Diferentemente do senhor Walter White, a senhorita Zott tem comida na panela. Sabotada por homens de terno em um laboratório em Los Angeles, ela torna-se estrela de um show culinário na TV -ao vivo, com auditório e em preto e branco.

Um programa de culinária precisa de comida. Uma série sobre um programa de culinária também. Providenciar essa produção é algo complexo, que requer profissionais especializados. Essa é a função de Courtney McBroom, consultora de comida de “Uma Questão de Química”.

A texana McBroom construiu sua reputação ao trabalhar com David Chang, famoso chef de Nova York. Foi diretora culinária do Momofuku Milk Bar e escreveu dois livros para o restaurante antes de seguir como consultora.

Em “Uma Questão de Química”, McBroom foi responsável pela concepção e execução das receitas que aparecem nos episódios, além de atuar como dublê de Brie Larson (“Capitã América”), sua amiga.

“São minhas as mãos que aparecem nas cenas em close-up”, conta McBroom em entrevista à Folha. Então a cozinheira da série não manja do riscado? “Ela cozinha muito bem”, explica a consultora.

Ocorre que as tomadas em questão, feitas do alto, fecham em mãos que cortam vegetais velozmente e com técnica profissional. Presumir que Brie Larson deveria tê-las feito é como querer que Adrien Brody se tornasse concertista para atuar em “O Pianista”.

Courtney sacode as mãos para a câmera e brinca: “Estas são minhas máquinas de fazer dinheiro”. A contribuição da consultora, por mais belas e habilidosas que suas mãos possam ser, vai além.

“Trabalho com roteiristas, produtores e elenco para resolver qual será a comida, sua aparência e seu papel na trama”, diz. “Depois preparamos a comida, fisicamente falando, e a arrumamos no set.”

Esse trabalho em conjunto com toda a equipe, longe de ser exclusivo de Courtney ou dessa produção, tem sido comum nas séries em que a cozinha tem papel relevante.

Em “O Urso” (Star +), série que se desenrola quase toda dentro de um restaurante, são dois os consultores culinários. Um é Matty Matheson -chef, dono de restaurante, produtor-executivo da série e intérprete do personagem Fak.

Para a série “Hannibal” (Amazon Prime Video), o chef espanhol José Andrés, à frente de um grupo de restaurantes, encarou a pedreira de criar pratos que fossem apetitosos, porém remetessem à carne humana -especialidade do personagem Hannibal Lecter, assassino e canibal.

O desafio de McBroom para “Uma Questão de Química”, foi criar uma coleção de salgados e doces que parecessem plausíveis para os EUA dos anos 1950. “Sou uma grande fã desse período e tenho uma coleção de livros antigos de cozinha” afirma. “Já era versada nesse gênero de culinária.”

A produção da protagonista Elizabeth Zott, contudo, parece um tanto avançadinha para sua época. A personagem chega a criticar, sem empregar o termo, o consumo de comida ultraprocessada -conceito formulado décadas depois.

“A gente precisou tomar decisões”, diz a consultora. “Sabíamos que Elizabeth era uma mulher à frente de seu tempo, então quisemos que sua culinária fosse mais fresca e mais vibrante.”

McBroom afirma que, contrariando os hábitos culinários de então, concebeu para a protagonista receitas feitas a partir do zero, sem recorrer a atalhos como alimentos pré-prontos. Para a lasanha, por exemplo, ela segue a receita tradicional do ragu bolonhês, um molho de carnes de boi e porco, legumes, vinho e leite, uma coisa que nenhuma californiana faria no pós-guerra.

“Havia ótima comida nos anos 1950, não me entenda mal”, diz. “Mas muito da culinária priorizava a conveniência, com comida enlatada e coisas do tipo.”

Para entregar a comida que aparece na tela, McBroom e sua equipe precisaram que uma estrutura fosse montada nos fundos do cenário aparente. “Tínhamos uma cozinha profissional completa, com maçaricos e muitos fornos.”

Além de Courtney e seus cozinheiros, outra categoria profissional prestou consultoria nos bastidores de “Uma Questão de Química”: químicos, evidentemente.

A série é pontuada por diálogos com aminoácidos, nucleotídeos e uma infinidade de termos técnicos que o espectador provavelmente vai ouvir e boiar. Tudo bem, não é preciso entendê-los para acompanhar a história.

Mas a equipe precisava ter alguma noção para que Elizabeth Zott misturasse cebolas e moléculas sem cometer asneiras. Para inserir química no contexto culinário, McBroom submetia o conteúdo à validação de consultores científicos. “E tem o Google também”, ri. “É uma ótima ferramenta.”

UMA QUESTÃO DE QUÍMICA

Quando Já disponível

Onde Apple TV +

Classificação 16 anos

Autoria Lee Eisenberg

Elenco Brie Larson, Aja Naomi King, Stephanie Koenig, entre outros

Produção Apple Studios

Direção Sarah Adina Smith

MARCOS NOGUEIRA / Folhapress

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