Controle da respiração melhora desempenho de PM em abordagens, diz pesquisa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais que aprenderem a controlar seus batimentos através da respiração conseguem responder melhor e mais rápido às situações de perigo. Essa é a conclusão da pesquisa de Tânia Pinc, doutora em ciência política na Universidade de São Paulo e oficial da reserva da Polícia Militar paulista.

Para isso, ela selecionou 52 participantes, divididos em dois grupos: um de tratamento, outro de controle, cada um com 26 agentes da cidade Barueri, na Grande São Paulo. O primeiro foi equipado com um dispositivo de biofeedback, que capta a frequência cardíaca e alertava ao policial como respirar melhor, junto com um treinamento operacional. O segundo não recebeu nada.

O dispositivo foi originalmente criado na corrida para Lua, na década de 1960, para auxiliar os astronautas a controlarem suas emoções e batimentos em situações de estresse agudo. Cada aparelho se ajusta a seu hospedeiro, capta qual frequência é a usual e como chegar no ideal, através de sinais sonoros ou visuais.

A pesquisa avaliou os policiais antes e depois da intervenção, medindo a autorregulação (frequência cardíaca máxima) e o desempenho (procedimentos seguidos e tempo de resposta) em um ambiente simulado de reação armada.

Os resultados mostraram que o grupo de tratamento apresentou uma redução significativa na frequência cardíaca máxima, indicando uma melhoria na autorregulação (também chamada de homeostase), além de uma diminuição nos erros procedimentais e no tempo de resposta, evidenciando um melhor desempenho.

“Não achava muita literatura disso na minha área”, diz Pinc. “Pesquisas avançadas sugerem que qualquer ser humano posto em perigo reage como um policial numa abordagem. Isso é algo que ultrapassa o profissional, é uma herança hereditária primitiva.”

Esse traço genético faz com que humanos, ao sentir perigo, aumente seu batimento cardíaco e libere cortisol –o hormônio do estresse. “Carregamos isso porque nos faz mais atentos, fortes e rápidos. Mas também nos deixa mais propenso ao erro, afeta a memória e coordenação motora”, afirma Pinc.

Em termos mais técnicos, o cérebro ativa o sistema nervoso simpático, que regula funções involuntárias do corpo, como a respiração, a digestão e o batimento cardíaco. Uma forma de por ele no eixo após sensação de perigo é através da respiração diafragmática, lenta e mais profunda que a normal, explica a pesquisadora.

Ela diz que a respiração em repouso gira em torno de 15 respiradas por minuto. Já a diafragmática reduz esse número para 7, em média.

Nos Estados Unidos, que lideram as pesquisas com o biofeedback, um policial em Seattle numa abordagem de carro roubado chega a 145 batimentos, frequência associada a uma sensação de mal-estar, fraqueza ou desmaio. Após tratamento, os batimentos diminuíram a níveis normais e, consequentemente, o agente esteve menos propenso ao erro.

Apesar dos resultados da pesquisa, o procedimento não foi adotado oficialmentepara frente. “A força em Barueri foi muito receptiva, mas não implementaram por questão financeira. Os dispositivos de biofeedback saíram do meu bolso, e tive que comprar os nacionais, que não são ideais para a pesquisa, pois importar seria muito caro”, diz Pinc.

“A abordagem humanizada não é bem recebida para questão de segurança pública. Precisamos reconhecer que há um humano debaixo da farda.”

DIEGO ALEJANDRO / Folhapress

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