BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (15) que a discussão dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária) se apoiou em critérios técnicos e defendeu que todos os argumentos foram considerados no debate.
A declaração foi dada depois dos ruídos gerados após uma decisão dividida do colegiado do BC. Na última quarta-feira (8), o Copom cortou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,50% ao ano, por 5 votos a 4.
O placar colocou os quatro membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de um lado, como voto vencido por um novo corte de 0,50 ponto percentual. Do outro lado, os diretores indicados ou reconduzidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o chefe da autoridade monetária formaram maioria pela desaceleração do corte de juros.
O dissenso no comitê foi interpretado pelo mercado financeiro como um sinal de que a autoridade monetária será mais leniente no combate à inflação ao término da gestão de Campos Neto, em 31 de dezembro.
“O entendimento da maioria foi claro, que as mudanças tinham sido relevantes e que deveríamos responder com uma mudança do ritmo do pace [tamanho do corte da Selic]. Dentro deste grupo, alguns inclusive achavam que tínhamos os argumentos para mudar o balanço de risco, como foi explicitado na ata”, afirmou Campos Neto na abertura da Conferência Anual do BC.
“O debate foi centrado em critérios técnicos e todos os argumentos foram levados em consideração”, acrescentou.
Campos Neto emendou esse pronunciamento “para esclarecer alguns pontos” sobre a decisão do último Copom logo após o discurso de abertura da conferência na sede da instituição, em Brasília.
A ata divulgada nesta terça (14) mostrou que os indicados por Lula citaram o “custo reputacional” de descumprir sinalização dada no encontro de março, que previa repetir um novo corte de 0,5 ponto percentual, o que não se concretizou.
De acordo com o chefe da autoridade monetária, o debate foi sobre “a gradação dos condicionantes, e não sobre a validade dos condicionantes”, em referência aos argumentos apresentados pelo Copom para a manutenção ou não do “forward guidance” (sinalização dos próximos passos).
No pronunciamento, Campos Neto abordou a deterioração da conjuntura global e doméstica para justificar o posicionamento da maioria, citando a força do mercado de trabalho, a piora nas expectativas de inflação e o impacto da mudança na política fiscal sobre o trabalho da autoridade monetária.
“A incerteza política também foi discutida, continua sendo elevada e gera uma incerteza no preço do petróleo. Falamos também sobre as expectativas que estavam piorando, tanto as implícitas quanto o Focus. O Focus, depois de parado por meses, iniciou um movimento com tendência de alta. Decidimos então reconhecer que a expectativa estava desancorada [longe da meta], e não com reancoragem parcial”, disse.
O boletim Focus divulgado pelo BC na semana do Copom mostrava que a projeção de inflação para 2025 que hoje tem maior peso na determinação do nível da Selic por causa da defasagem dos efeitos da política monetária na economia subiu a 3,64%. Nesta semana teve outra ligeira alta, a 3,66%.
O dado vem sendo revisado para cima depois de ter ficado um longo período estacionado em 3,50%. No ano passado, houve recuo parcial após mudança no sistema de metas de inflação para alvo contínuo.
Em uma fala dura, o presidente do BC reforçou o compromisso do Copom com o atingimento das metas para a inflação. “Discutimos a importância da convergência da inflação para a meta de 3%. Na verdade, o debate de política monetária não deveria nem falar em centro e banda, nossa meta é 3%”, afirmou.
A meta de inflação estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e perseguida pelo BC neste e nos próximos anos é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
NATHALIA GARCIA / Folhapress