SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Coreia do Sul e os Estados Unidos estão “monitorando de perto”, segundo as Forças Armadas do país asiático, os movimentos da ditadura de Kim Jong-un visando a celebração dos 70 anos do armistício entre Seul e Pyongyang.
A data será lembrada nesta quinta (27) e, a exemplo do que ocorre desde que uma delegação americana representando as forças das Nações Unidas e outra de norte-coreanos e seus aliados chineses assinaram o cessar-fogo após três anos de guerra entre Norte e Sul, está imersa no contexto global.
Saiu a Guerra Fria, que teve no conflito da Coreia seu primeiro lance “quente”, e entrou a versão 2.0 do embate entre potências estabelecidas e emergentes. O primeiro grupo segue sendo ocupado pelos EUA e seus aliados, enquanto no segundo o papel da União Soviética foi tomado pela China secundada pela Rússia de Vladimir Putin, por sua vez em ação no primeiro grande embate desta nova fase, na Ucrânia.
Com efeito, também nesta terça (25) foram anunciados os convidados de honra para o Dia da Vitória na Guerra de Libertação da Pátria, como pomposamente é chamada a data na ditadura comunista de Kim.
Estarão no país o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, e uma delegação chinesa encabeçada por um membro do Politburo, a cúpula do Partido Comunista, Li Hongzhong. Oficialmente, é a primeira visita de autoridades estrangeiras ao país desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020.
A crise sanitária isolou ainda mais o regime de Kim, em um momento de rompimento de contatos com o Sul e com os EUA, ensaiados em 2018 e 2019. Agora, com sua renovada campanha de testes de mísseis balísticos, ele enfrenta uma oposição mais assertiva militarmente de Seul e Washington, e as relações na península estão nos piores níveis em anos.
Na segunda (24), Kim havia disparado dois mísseis no mar do Japão, em protesto pela passagem de um submarino de ataque convencional e propulsão nuclear americano pela ilha de Jeju, ao sul da Coreia do Sul. Na semana passada, havia feito o mesmo quando o primeiro submarino nuclear armado com ogivas atômicas aportou no Sul, em Busan, desde 1981.
A presença faz parte dessa nova atitude americana e sul-coreana. Anteriormente, demonstrações de força de Pyongyang acabavam levando a negociações, nas quais a ditadura buscava levantar o cerco econômico contra si, mas fracassavam porque Kim não quer abrir mão de seu arsenal nuclear. Agora isso parece incerto.
Assim, a presença russa e chinesa serve como lembrete de um mundo ainda dividido, embora com muito mais nuances do que no período da primeira Guerra Fria, do fim dos anos 1940 até a dissolução da União Soviética em 1991. Na penínsua coreana, contudo, as áreas cinzentas são menos visíveis.
Os americanos celebrarão juntos o dia do armistício com os sul-coreanos. Os EUA foram a principal força de apoio ao Sul capitalista contra o Norte comunista na guerra iniciada com a invasão promovida por Pyongyang em 1950. Apoiados pela China e pela União Soviética, os norte-coreanos quase dominaram todo o país, mas acabaram sendo empurrados de volta às suas fronteiras.
Naquele que foi o primeiro grande conflito após a Segunda Guerra Mundial (1939-45), os americanos chegaram a estudar o emprego de bombas atômicas, como haviam feito cinco anos antes no Japão.
Segundo a agência sul-coreana Yonhap, está identificado até aqui o movimento de tropas e material militar para o desfile da comemoração. Há a expectativa, entre analistas, de que Kim revele alguma arma nova, talvez um novo tipo de míssil balístico intercontinental, capaz de atingir os EUA. Novos lançamentos de mísseis são possíveis, mas talvez não ocorram devido à presença dos representantes estrangeiros.
A presença de Choigu também levanta especulações, sempre negadas pelo Kremlin, de que Kim pode estar auxiliando secretamente as forças russas na Guerra da Ucrânia com o fornecimento de munições para artilharia pouco sofisticadas e usadas em grande quantidade.
IGOR GIELOW / Folhapress