SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, participou de uma sabatina com jornalistas para avaliar a sua gestão. E disse que o time alvinegro não perde para Flamengo e Palmeiras em termos administrativos.
“Nesses últimos três anos, não tenho dúvida nenhuma [que a diferença para Flamengo e Palmeiras foi só títulos]. O trabalho do Corinthians, administrativamente e profissionalmente. (…) Muito se fala que ninguém sabe os números do Corinthians. É só entrar no site. Tenho visto muita entrevista de que é uma caixa preta, que ninguém sabe nada. Está lá, é só ler. Se olhar para esse trabalho, não perde nada para Palmeiras e Flamengo. Agora, dentro de campo, nós fomos piores que eles sim. Nós não ganhamos, e eles ganharam”, disse Duilio.
A coluna do Rodrigo Mattos, do UOL, mostrou que o Corinthians estima fechar 2023 com uma receita entre R$ 900 milhões e R$ 1 bilhão. Caso se confirme essa projeção, o clube terá praticamente dobrado a arrecadação em três anos.
Duilio assumiu o clube em 2021 com uma dívida de R$ 928 milhões. No último balanço, de agosto deste ano, a dívida estava em R$ 892 milhões.
O presidente corintiano se despede do cargo em 31 de dezembro como o único mandatário em 36 anos a não conquistar títulos no futebol masculino pelo clube. A última vez que isso aconteceu foi com Roberto Pasqua, que comandou a equipe entre 1985 e 1987.
Comparação com os outros clubes: “Mais profissional que o Corinthians? O problema é que não ganhamos. Os outros times tiveram resultado no campo. Flamengo fez lição de casa lá atrás, o Palmeiras não terá dívida muito diferente. Está no mesmo patamar. Organização igual a essa? Nenhum clube do Brasil. O Flamengo teve excelente trabalho com o Bandeira [de Mello, ex-presidente], chamado de cheirinho, quase foi expulso. Teve coragem, era o que o Flamengo precisava, está colhendo os frutos. Fortaleza e Athletico fazem excelente trabalho. Citavam o Atlético-MG, que o Corinthians não tem mecenas. Empréstimo o Corinthians tem muito crédito pelo trabalho, relação receita e despesa. Muitas empresas investiram no Corinthians. Infelizmente não tivemos títulos em campo, nos dois primeiros anos não fomos mal. Esse ano fizemos escolhas que não deram certo”.
Aumento da receita. “Invertemos. A receita é maior que a dívida. Isso no mercado financeiro representa muito. Devemos chegar a R$ 1 bilhão. Último número é R$ 955 mil de receitas. Vamos bater R$ 1 bilhão para uma dívida de R$ 850 milhões ou até menos, temos negócios a serem fechados ainda”.
Por que a dívida cai pouco? “Pagamos mais de 300, 400 milhões de juros no período. Receita mais que dobrou. Vendemos R$ 175 milhões com jogadores, nem 20% de toda a receita. Clubes muitas vezes vivem de venda de jogador, mas se a venda não existisse, clube fecharia praticamente no azul”.
Comparação com rivais. “Compromisso era não gastar mais do que iríamos arrecadar. E não chegamos a 74%. Sobre gestão, recuperamos o clube, com receita de R$ 1 bilhão. Flamengo teve, Clubes de São Paulo em nenhum momento tiveram. Não sei se no mundo algum clube dobrou receita em três anos”.
E como acabar com a dívida? “A dívida está administrada. O Corinthians não tem problema ter dívida. Citei um apartamento, que compra-se um apartamento, paga em dia. Há dívida, mas pagando em dia está tudo certo. Se o Corinthians pagar sua dívida equalizada em dia, zero problema. O Corinthians não precisa dar lucro, mas não pode dar prejuízo”.
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VEJA OUTROS ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS DA ENTREVISTA DE DUILIO MONTEIRO ALVES
Vendas de jogadores
“Orçamento é responsabilidade, a guia. Não podemos gastar mais do que arrecadamos. Não contratamos no começo, tiramos não sei quantos jogadores, abrimos espaço na folha. Não tem ninguém que criticou os jogadores que chegaram no segundo semestre de 2021. Todos comemoraram. Depois não vai bem e é culpa do presidente. O orçamento tem que ser seguido. Tenho 850 e poucos milhões de dívida ainda, mesmo pagando tudo que pagamos. Por isso, optamos pelas oportunidades de mercado”.
Por que não priorizou o futebol?
“Era impossível [focar no futebol]. Acompanharam o não pagamento do Fausto Vera porque não recebi do Vasco. É sequência, programação de caixa. Não me arrependo pois sou homem de palavra. Esses jogadores todos que vieram e foram comemorados, nível de seleção, vieram por isso. Que o Corinthians não pagava, que não iam aceitar. Falavam de Cruzeirar, que venci a eleição mais importante da história. O único que fez falta para o time e que eu não gostaria de ter saído é o Róger Guedes, valor que não ajudou em nada. Mas foi combinado, tratado, jogador quis ir, e palavra se cumpre”.
Contratações caras
“Falavam que fiquei louco, que perdi responsabilidade, que eu não conseguiria pagar. Que o presidente ficou doido, trouxe Renato Augusto, Róger Guedes, que responsabilidade foi embora. Todos pagos”.
Transfer ban
“Muitas dívidas com atletas, algumas coisas de clubes. Reclamações na Fifa que podem gerar Transfer Ban [proibição da Fifa para registrar novos jogadores]. Não tivemos ban. O Palmeiras não pagou sei lá quem, foi acionado na Fifa. Vi duas notinhas e o Corinthians saiu no Jornal Nacional e Fantástico. Contas podem gerar punição e ficarmos proibidos de contratar. Tivemos muito trabalho para colocar em dias essas ações”.
Acordos
“Sobre o FGTS: fizemos acordo, temos certidões negativas de débito. Estamos com impostos equacionados. Há dificuldade em breve, administrar o Corinthians é uma loucura diária, não dorme. Atrasamos três ou cinco dias uma folha, já atrasamos quatro meses. Estão pagos. As dívidas anteriores eram em direitos de imagem. Salário atual está na CLT e essa parte para trás foi dividida em parcelas durante o contrato e vem sendo pagas, como do Cássio, Gil e outros. Essas algumas vezes atrasaram na minha gestão. Direito de imagem como salário, 60% na carteira e 40% na imagem, não atrasamos. Pretendo sair sem um real devido aos atletas, da minha gestão ou de trás. Os que estão aqui… Meu objetivo é que saia zero. Se ficar algo de trás, será muito pouco”.
“Muitos atletas entram não só sobre o FGTS, tem hora extra, direito de arena, falta de adicional noturno. Folga não remunerada. Que são errados, injustos e indevidos. Ganham parcialmente, não ganham o que é injusto. Não dá para fazer acordo? Mas pedem coisa indevida, não vou fazer acordo para pagar hora extra por ter jogado domingo. Prefiro ir para a Justiça e o atleta ganha o que é devido”.
Dívidas antigas
“Eu paguei mais de R$ 500 milhões de dívida, são dívidas do Corinthians. O presidente assume o que é o do Corinthians”.
Base ficou devendo?
“Mudamos muita coisa no Corinthians. Trocamos toda a diretoria, com profissionais em todas as áreas. A base fornece muito jogador, mas pode melhorar muito. Pelo alojamento. É a única coisa que não consegui fazer, mas vou trabalhar para ao menos fechar contrato de investimento até o fim do ano. Fizemos parcerias, usamos marketing, e isso ajudou muito em melhorias no Parque São Jorge. A base é um lugar que dá para melhorar, mas, diferente do que falam, a base revela, está aí, e as vendas estão aí”.
“Tem que melhorar em todos os sentidos. Temos centro de treinamento maravilhoso, mas sem alojamento. Isso atrapalha para trazer jovens de outros estados, por exemplo. Nessa disputa com outros clubes, levamos desvantagens por não alojar. Já vimos acontecer coisas, tem que ter responsabilidade”.
Redação / Folhapress