Corinthians procura saída para Luan, o jogador de R$ 70 milhões

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Questionado sobre a contratação de Luan, Andrés Sanchez diz que se arrepende de ter feito a transação quando era presidente do Corinthians. Afirma não se eximir da responsabilidade, mas que, em primeiro momento, recusou-se a assinar a documentação, em dezembro de 2019. Achou ser muito dinheiro e salário alto demais.

Decidiu ir adiante com o argumento apresentado pelo diretor de futebol: era um pedido de Tiago Nunes, treinador acertado no mês anterior. O dirigente que ressaltou a solicitação do técnico foi Duilio Monteiro Alves, o atual presidente, que tem nas mãos o pepino de resolver a situação do meia-atacante.

Sem atuar pela equipe há 17 meses, Luan foi agredido por grupo de torcedores quando estava com mulheres em um quarto de motel na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na madrugada da última terça-feira (4). Levou tapas na cara, socos na região da costelas e foi agarrado pelo pescoço.

Pouco depois, ele publicou em sua conta no Instagram foto de sua bermuda ensanguentada. Relato no boletim de ocorrência registrado diz que uma pessoa estava armada. A exigência era que deixasse o clube.

A última vez que Luan entrou em campo pelo Corinthians foi em 19 de fevereiro de 2022, em partida contra o Botafogo, pelo Campeonato Paulista. Ele nem sequer foi inscrito no Estadual deste ano.

Comprado por R$ 28,95 milhões do Grêmio, Luan recebe cerca de R$ 800 mil mensais por um contrato que termina apenas em dezembro de 2023. Por ano, são cerca de R$ 10,4 milhões. Até o final do acordo, R$ 41,6 milhões.

Somados os valores da aquisição e dos vencimentos, são cerca de R$ 70,5 milhões. Sem contar os encargos trabalhistas.

Até agora, desse total, o Corinthians apenas não pagou R$ 500 mil. Por cinco meses no ano passado, ele esteve emprestado ao Santos, que ficou responsável por R$ 100 mil por mês do salário do atleta. O restante continuou com o dono do vínculo contratual. Para aplacar a revolta da torcida com a aquisição, o presidente Andrés Rueda afirmou que Luan chegava à Vila Belmiro a “custo zero”.

Desde sua contratação, ele jogou 78 vezes pelo Corinthians e anotou nove gols. A expectativa causada pela sua chegada esteve longe de ser correspondida. Ele foi comprado pela fama de quem havia sido eleito o melhor jogador da América em 2017, craque do Grêmio campeão da Copa Libertadores daquele ano.

Pelo Santos, foi um gol anotado em oito partidas.

Nesta sexta-feira (7), o técnico Renato Gaúcho manifestou o interesse em levar o atleta de volta a Porto Alegre.

“Comigo aqui, ele fazia algumas coisas que está fazendo em São Paulo, mas era o primeiro a chegar ao treino, um dos últimos a ir embora e rendia em campo. Comigo, o Luan rendeu e rendeu muito”, disse Renato, treinador campeão continental com o jogador há seis anos, para em seguida usar a expressão que mais tem sido usada para definir o estarrecimento com a queda de rendimento: “Ninguém desaprende a jogar”.

Esse Luan descrito por Renato foi visto no Corinthians apenas na referência a problemas extracampo. Com a bola nos pés houve muito pouco. Várias vezes, segundo pessoas do clube, ele foi alertado sobre atrasos e o baixo rendimento em treinos. Seu futebol mostrado nas partidas também começou a irritar os torcedores. Nervosismo que está no limite com a situação atual da equipe, que luta para não entrar na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.

Luan afirma ter se empenhado nos treinamentos e pedido chances para treinadores. Foi ignorado.

“Quando o Vanderlei [Luxemburgo] chegou, fui trocar ideia com ele. Joguei o papo reto: ‘Professor, não preciso contar história triste aqui, você sabe da minha situação. A única coisa que peço é para você me botar para treinar com o grupo e me dar oportunidade’. Falei: ‘Só deixa eu treinar com os caras, e você vai ver. Deixa eu treinar com o grupo que eu me garanto’”, disse para o podcast Denílson Show.

Ele diz ter feito pedido semelhante a Vítor Pereira no ano passado. Não foi utilizado por nenhum deles. Também lembrou ter tido problemas pessoais em 2020 que o atrapalharam. Em poucos meses, morreram seu irmão e seu melhor amigo.

“Sai de cima de mim e pergunta para a torcida do Corinthians. Ele conversou comigo, mas, para ser bem claro: o torcedor do Corinthians foi lá e disse que não quer, então por que você vai comprar essa briga? Em podcast você fala o que quiser”, respondeu Luxemburgo, dizendo em público o que todos no Parque São Jorge já haviam percebido desde o ano passado: não há mais como Luan atuar pelo time.

O Corinthians tenta a rescisão de Luan desde 2022. Em fevereiro deste ano, fez nova tentativa sem sucesso. Nova reunião ocorreu após a agressão no motel. Não houve acordo.

Em entrevista à TV Bandeirantes, Duilio Monteiro Alves disse que gostaria de rescindir o contrato de Luan, mas não há dinheiro para isso. A dívida do clube está em R$ 930 milhões.

ALEX SABINO / Folhapress

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