BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O coronel Jean Lawand Júnior afirmou nesta terça-feira (27) em depoimento à CPI do 8 de janeiro que queria uma mensagem “apaziguadora” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e não um golpe de Estado contra a vitória de Lula (PT).
Em mensagens apreendidas pela Polícia Federal, Lawand Júnior pede para que o principal ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, convencesse o então presidente a dar uma “ordem” ao Exército.
À CPI, o coronel disse que conversava com Cid apenas para “entender o que estava acontecendo”. Segundo ele, “se o presidente supremo [Bolsonaro] desse a ordem para apaziguar o país”, o Exército atuaria e “o povo entenderia que não haveria nada” e “retornaria aos seus lares”.
“A ideia minha desde o começo era que viesse alguma manifestação para poder apaziguar aquilo, as pessoas voltarem às suas casas e seguirem a vida normal”, disse. “O ex-presidente Bolsonaro tinha uma liderança sobre a população, pelo menos sobre seu eleitorado.”
A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), rebateu: “O senhor não pode infantilizar essa comissão. Aqui, como se diz no meu Maranhão, o mais besta conseguiu se eleger deputado federal, senador e senadora. As colocações que vossa excelência coloca aqui são totalmente incompatíveis com o conteúdo de mensagem que o senhor próprio escreveu”.
No dia 10 de dezembro, o coronel escreveu a Cid: “Se a cúpula do Exército não está com ele [Bolsonaro], de Divisão pra baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”. Cid, segundo a PF, respondeu: “Muita coisa acontecendo… Passo a passo…”.
Lawand Júnior disse à CPI que sua observação sobre o Exército foi “infeliz”, que não tem contato com ninguém do Alto Comando e que está arrependido. Ele pediu desculpas ao Exército e ao povo brasileiro e disse que apenas deu sua opinião “no calor do momento”.
“Essa colocação minha foi muito infeliz. Eu sou um simples coronel conversando em um grupo de WhastApp com um amigo, não tinha comandamento, não tinha condições, não tinha motivação para qualquer tipo de golpe. Essa observação minha foi muito infeliz porque eu não tenho contato com ninguém do Alto Comando. Fui infeliz, me arrependo.”
Lawand Júnior havia sido designado para representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos, mas o Comando do Exército decidiu anular a nomeação após o surgimento do relatório da PF sobre o conteúdo do celular de Mauro Cid.
As mensagens citadas pela PF são do período entre 27 de novembro de 2022 e 4 de janeiro de 2023. Em uma delas, o coronel pede “pelo amor de Deus” para que Bolsonaro dê a ordem para o golpe.
“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele [Bolsonaro] dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprir a ordem do, do Comandante Supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um General, que não recebeu, que não aceitou a ordem do Comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer”, disse Lawand em um dos áudios, segundo transcrição da PF.
Em uma das conversas, o coronel Lawand afirma ter se encontrado no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, com o general Edson Skora Rosty, subcomandante de Operações Terrestres do Exército à época das mensagens.
“Meu amigo, na saída do QG encontrei bom o Rosty, SCmt COTER. Foi uma conversa longa, mas para resumir, se o EB receber a ordem, cumpre prontamente. De moto próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR”, escreveu em 2 de dezembro.
O coronel era um dos 12 integrantes de um grupo de WhatsApp com militares da ativa. O grupo é intitulado “Dosssss!!!” e possui, como imagem de perfil, um desenho de dois bonecos, um chutando o outro, com a frase em inglês “cuidado: isso é Esparta” uma referência ao filme “Os 300 de Esparta”.
Questionado pela relatora, ele afirmou desconhecer o grupo.
“Afirmo aos senhores que em nenhum momento eu falei sobre golpe. Em nenhum momento atentei contra a democracia brasileira. Em nenhum momento eu quis quebrar, destituir, agredir qualquer uma das instituições”, disse à CPI.
O coronel recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para não prestar depoimento. A ministra Cármen Lúcia entendeu que ele deveria comparecer à sessão, mas poderia ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress