Corrimento vaginal pode ocorrer por variações hormonais ou infecções

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Coceira, cheiro ruim e uma secreção amarelada. Foi assim que a adolescente Ana (nome fictício), 13, percebeu que alguma coisa estava errada em seu corpo. Como ela, grande parte das mulheres já teve corrimento vaginal, que pode ser resultado de infecção ou apenas uma variação hormonal. Saber a diferença é fundamental.

“Existe o corrimento normal, decorrente das variações hormonais durante o ciclo menstrual, que toda mulher vai ter”, diz a ginecologista Marair Sartori, vice-presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). Ele não tem cheiro nem coceira, é transparente e fica mais grosso durante o período fértil.

Os demais tipos de corrimentos vaginais são sintomas de infecção, quando as bactérias normais da vagina são substituídas por outros agentes infecciosos. “Podemos ter infecções por fungos, bactérias ou protozoários. O tratamento depende da causa”, afirma a médica.

Algumas mulheres costumam ter repetidas infecções vaginais, com risco maior para aquelas com vida sexual ativa, principalmente as que não usam preservativo. As diabéticas, mulheres na pós-menopausa ou que usaram antibióticos também estão mais propensas às infecções, fala a médica.

A maioria dos corrimentos vaginais não são transmissíveis, mas há os resultantes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que atingem cerca de um milhão de pessoas por dia em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, em 2019, última atualização do Ministério da Saúde, um milhão de brasileiros contraíram ISTs.

Algumas delas, porém, não causam corrimento vaginal, como o HPV, o papilomavírus humano. “Nesse caso, o exame preventivo vai encontrar a infecção. Ele faz parte da avaliação na consulta ginecológica de rotina”, esclarece Sartori.

A prevenção deve estar presente desde cedo e não ser assunto tabu entre as famílias. “As adolescentes precisam conhecer seu corpo e saber diferenciar o que é secreção normal do que é doença. Os pais devem orientar que o corrimento anormal é aquele que causa algum sintoma, como coceira, ardor, dor ou cheiro ruim”, diz ela.

Os três principais corrimentos vaginais

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VAGINOSE BACTERIANA

Resultado do desequilíbrio da flora vaginal, é o corrimento mais comum entre as mulheres. Apesar de ser uma infecção, não é sexualmente transmissível. Causa secreção esbranquiçada, acinzentada ou amarela, com forte odor, que piora após a menstruação e as relações sexuais.

Apresenta um micro-organismo chamado Gardnerella vaginalis em abundância e diminuição de bacilos de Doderlëin, lactobacilos que protegem a vagina.

CANDIDÍASE

Causada pelo fungo Cândida albicans, a candidíase é uma infeção não sexualmente transmissível que causa corrimento branco ou amarelado, coça e faz fissuras na vulva e na entrada da vagina, causando dor durante a penetração. “A presença da Cândida na vagina, porém, não é doença. Apenas quando ela está em quantidade aumentada é que provoca a candidíase”, explica o ginecologista Gilberto Utida, professor da Faculdade de Medicina Pequeno Príncipe.

A candidíase pode aparecer ainda na região perianal (ânus) e no períneo (entre o ânus e a vagina), além de possível associação à baixa imunidade, uso de medicamentos, gravidez, diabetes, alergias e ao vírus HPV.

TRICOMONÍASE

Infecção sexualmente transmissível, causa corrimento amarelo-esverdeado, bolhoso, com odor forte, coceira, inchaço, pus e dor ao urinar ou manter relações sexuais. É causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis e pode atingir tanto mulheres quanto homens, mas eles geralmente são assintomáticos.

ASSINTOMÁTICAS

Utida alerta que algumas mulheres podem não perceber o problema, como no caso da gonorreia ou clamídia, que em geral não apresentam sintomas. “A maioria das pacientes com estas infecções são assintomáticas.”

Além delas, a vaginose bacteriana (Gardnerella vaginalis) também pode não ser notada pela mulher, mas é detectada no exame físico, por isso, reforça Utida, a importância das consultas e exames de rotina. Todas podem ser prevenidas e curáveis, desde que tratadas.

CAUSAS

Algumas infecções, como Vaginose bacteriana e Candidíase podem estar relacionadas a diabetes, uso de antibióticos e corticoides, excesso de umidade (como em roupas de praia ou academia), uso prolongado de protetor diário de calcinhas ou mesmo doenças como ansiedade e depressão, o que é menos comum.

“Sempre que fazemos o diagnóstico, investigamos outras ISTs, como as de colo de útero (cervicite), que podem descer para a vagina, como a gonorreia (Neisseria gonorrhoeae), e apresentar secreções amareladas e pus”, diz Utida.

A orientação para prevenir as infecções é manter hábitos saudáveis, usar camisinha, evitar compartilhar objetos sexuais e não usar duchas vaginais. “Elas são péssimas para a flora vaginal e retiram a secreção da mucosa, expondo a vagina a infecções”, enfatiza Utida.

MAUREN LUC / Folhapress

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