Corvos conseguem ‘contar em voz alta’ de forma parecida à de crianças pequenas

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Os corvos, já famosos por suas capacidades cognitivas muito acima da média das aves, conseguem “contar em voz alta” de 1 a 4 de um jeito muito semelhante ao de crianças pequenas, mostra um novo estudo. Segundo os responsáveis pela pesquisa, eles exibiriam uma combinação de habilidades numéricas e controle vocal que é muito rara entre animais não humanos.

A façanha dos bichos, membros da espécie Corvus corone, está descrita em artigo publicado nesta quinta-feira (23) no periódico especializado Science. A equipe liderada por Diana Liao e Andreas Nieder, do Instituto de Neurobiologia da Universidade de Tübingen, na Alemanha, ensinou três indivíduos a emitir um número específico de vocalizações de acordo com certos estímulos.

Diversos tipos de habilidades matemáticas simples já tinham sido identificados em aves e em outros animais. Passarinhos conhecidos como chapins, por exemplo, emitem um chamado de alerta em que há um som semelhante à sílaba “di” em português. Quanto maior o tamanho do predador, mais vezes o “di-di-di” do chamado de alerta é repetido, justamente para indicar a intensidade da ameaça.

O grupo dos corvos, por sua vez, é famoso pela sua flexibilidade comportamental e capacidade de solucionar problemas, incluindo o uso e a fabricação de ferramentas (na natureza, com galhinhos e folhas; em laboratório, com arames e outras matérias-primas fornecidas por cientistas).

O C. corone, também conhecido popularmente como gralha-preta, é uma espécie de ampla distribuição no Velho Mundo, capaz de se adaptar a diversos ambientes e, segundo experimentos realizados anteriormente pelo grupo de Nieder, uma habilidade natural para discriminar diferentes quantidades de objetos.

No novo experimento, os três corvos aprendiam a associar números coloridos numa tela clicável (como a de um tablet), bem como sons que os acompanhavam, à necessidade de emitir o número correto de vocalizações. (Os números eram os mesmos que usamos para 1, 2, 3 e 4). Depois de grasnar um número de vezes correspondente, eles “clicavam” com o bico na tela, indicando que tinham terminado a tarefa.

De modo geral, os três espécimes de gralha-preta aprenderam corretamente a tarefa, apesar de alguns erros -e a própria maneira como as aves erravam foi instrutiva. A performance dos bichos, segundo os cientistas, foi típica do que eles chamam de “estimativa numérica não simbólica”.

Isso significa que, embora não tivessem aprendido a relação simbólica entre o número 3 ou 4 e as quantidades correspondentes -que equivale mais ou menos à função da linguagem humana–, eles conseguiam usar as próprias vocalizações para chegar a um resultado próximo do correto. Tanto é assim que os erros tendiam a se concentrar em números próximos do correto. Se o total certo era 4, os corvos, quando erravam, emitiam 3 ou 5 vocalizações, e não duas ou uma.

É aí que fica clara a semelhança com o sistema de contagem de crianças humanas que estão começando a falar e andar, por exemplo. Quando estão aprendendo a contar, é comum que elas peguem objetos e “contem” dizendo “um… um… um…”, mas ainda assim se aproximem da quantidade correta de brinquedos, doces etc. que querem separar durante a contagem. “Isso pode ser um precursor evolutivo da contagem verdadeira”, dizem os autores do estudo.

REINALDO JOSÉ LOPES / Folhapress

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