RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto, anunciou nesta quinta-feira (16) que se desfez de sua participação acionária na Vale. A venda, por R$ 9 bilhões, de uma fatia de 4,05% na mineradora encerra uma tentativa frustrada de conseguir influência na mineradora.
A Cosan entrou na Vale em setembro de 2022, com a compra de 4,9% das ações e expectativa de chegar a 6,5% do capital, alegando “mais um passo na jornada de diversificação de portfólio da companhia, investindo em ativos irreplicáveis nos setores em que o Brasil tem clara vantagem competitiva”.
O movimento surpreendeu o mercado e derrubou o valor de mercado do grupo de Ometto, um império econômico com operações no agronegócio, energia, transporte, combustíveis e gás natural. A maior preocupação se referia aos impactos da aquisição sobre a dívida do grupo.
O anúncio da venda agradou investidores: as ações da Cosan subiam mais de 2% por volta das 12h30 desta quinta. Em comunicado ao mercado, a empresa disse que a operação tinha o objetivo de “otimizar sua estrutura de capital”.
O comando da Cosan já vinha reconhecendo que o elevado endividamento provocado pela ofensiva sobre a Vale se tornara um problema para a companhia. A empresa fechou o terceiro trimestre com dívida líquida de R$ 21,7 bilhões, quase três vezes superior à do mesmo período do ano anterior.
Em relatório divulgado em outubro, analistas do UBS BB destacaram que o endividamento “acima do que o cenário atual permite” impede a companhia de entregar aquilo que fazia de melhor: “gerar valor por meio da alocação de capital”.
“Isso ocorre em um período em que as taxas de juros não apenas continuarão altas mas devem crescer ainda mais”, escreveram. “Nesse contexto, os investidores estão menos interessados em empresas alavancadas e a Cosan é particularmente desafiadora”.
Em nota distribuída nesta quinta, Ometto e o presidente da Cosan, Marcelo Martins, disseram que a decisão de venda das ações foi “pragmática”. A operação foi considerada positiva pelo banco Itaú BBA, por eliminar um peso ao valor dos papéis.
“O patamar atual da taxa de juros nos obriga a reduzir a alavancagem da Cosan”, afirmou o Ometto. “Na minha trajetória de empreendedor, fui ficando mais pragmático. Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo”
A ofensiva de Ometto sobre a Vale foi planejada em um momento de proximidade da empresa com o governo Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas logo depois. Tinha como objetivo garantir influência sobre uma das maiores empresas brasileiras, grande consumidora de combustíveis, energia e logística.
Ao mesmo tempo, Vale e Cosan discutiam parceria no porto de São Luís, no Maranhão, projeto orçado em pouco mais de R$ 1 bilhão, que ficaria a seis quilômetros da EFC (Estrada de Ferro Carajás) e teria capacidade para movimentar mais de 100 milhões de toneladas ao ano.
“Vamos entrar para somar e garantir que a companhia e os executivos terão os recursos necessários, o alinhamento necessário em relação a alavancar todas as possibilidades que o portfólio da Vale permite”, disse na época o então presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães.
Guimarães foi eleito para o conselho da Cosan e, depois, se tornou candidato de Ometto ao comando da companhia. A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o histórico recente bolsonarista do empresário afastaram a companhia do governo e dificultaram os planos.
A Vale acabou elegendo seu diretor Financeiro, Gustavo Pimenta, com apoio da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, hoje o principal veículo de influência do governo sobre a mineradora.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress