Cotado para secretário de Estado de Trump diz que relação com Bolsonaro não afetaria diálogo com Lula

MILWAUKEE, EUA (FOLHAPRESS) – Richard Grenell, apontado como uma possível escolha para secretário de Estado em um eventual governo Donald Trump, afirmou que a política externa do republicano será exatamente o que foi no primeiro mandato. “Donald Trump é quem determina as políticas. Ele quer que as economias cresçam e que os conflitos cessem. Esta é a premissa”, disse.

Questionado pela Folha sobre como seria a relação do republicano com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), considerando a proximidade dele com a família Bolsonaro, Grenell respondeu que Trump “vai lidar com o mundo como ele é” e que não vai “tentar fazer mudanças de regimes” em outros países.

Em seguida, o cotado para chefiar a diplomacia dos Estado Unidos fez uma defesa da pluralidade e acusou os democratas de “esmagarem a dissidência” ao caracterizá-la como desinformação. “Donald Trump vai lidar com quem quer que esteja no cargo, e vamos falar com eles”, declarou.

A reportagem também perguntou que avaliação ele faz da atual relação entre Brasil e EUA em áreas como energia limpa e direitos trabalhistas. Sem se referir diretamente a esses temas, Grenell disse que Trump falará com “cada líder para entender como será essa relação” e que vai apresentar as políticas que tornem os EUA mais fortes.

Pouco antes, ele havia feito uma defesa da exploração de petróleo em território americano e criticado a importação do produto de países como Venezuela e Irã. “Nós temos leis mais seguras, melhores leis trabalhistas, ambientais. Nós deveríamos poder explorar nossos recursos e usá-los para o nosso povo. Isso é uma grande questão na Pensilvânia”, afirmou, em referência ao estado-pêndulo em que a disputa com Joe Biden está acirrada.

Grenell foi embaixador na Alemanha, diretor interino de inteligência nacional e enviado especial para a região dos Bálcãs durante o governo Trump. Nesta quinta (18), ele falou com jornalistas da imprensa estrangeira durante a convenção republicana, que ocorre em Milwaukee (Wisconsin).

O diplomata também ecoou as críticas feitas à Otan por Trump, que acusa os aliados europeus de não contribuírem financeiramente com a organização como deveriam.

“Eu sei exatamente o que os europeus querem. Eles querem o benefício da responsabilidade compartilhada e da proteção compartilhada e querem nos ridicularizar por dizer: ‘Espere um minuto, é melhor vocês pagarem a sua parte justa'”, afirmou.

“Trump vai fortalecer a Otan trazendo mais dinheiro para a Otan. Eu argumentaria que a pessoa que tenta reformar uma entidade e lhe dar mais dinheiro é a pessoa que mais se importa com ela”, afirmou.

Grenell também disse que nenhum novo membro deve ser admitido na entidade enquanto os atuais não cumprirem suas obrigações.

Em relação à Guerra da Ucrânia, elogiou os acordos de Minsk 1 e Minsk 2, assinados em 2014 e 2015, que estabeleciam um cessar-fogo nunca respeitado pelas partes -estima-se que 14 mil pessoas tenham morrido na guerra civil– e uma saída para reintegrar à Ucrânia as regiões separatistas, outro ponto jamais implementado.

Ele atribui o fracasso dos acordos ao fato de ninguém ter acompanhado as respostas dos russos aos planos. ” Talvez os russos nunca quisessem realmente implementar o acordo. E eles apenas o assinaram. E [Barack] Obama e [Angela] Merkel foram enganados. Eu não sei. Mas direi que acho que há elementos ali que podemos construir”, afirmou.

Apesar do tom amigável, Grenell fez diversas críticas à imprensa, que acusou de ser democrata. Ao ser questionado sobre o Projeto 2025, plataforma conservadora construída por diversos nomes ligados a Trump, disse que repórteres “precisam relaxar sobre isso” e que a “imprensa fica parecendo ridícula” por tratar do plano.

“Sabe o que parece para mim? Parece que há uma pessoa que decide qual é o problema, e todos vocês são como ovelhas”, disse. “Sim, há algumas pessoas que são conservadoras e que trabalharam na administração que estão dando ideias ali. É uma coisa de ONG externa”, afirmou, chamando em seguida o Projeto 2025 de “estúpido”.

Questionado se gostaria de se tornar secretário de Estado, ele desconversou e disse que “está completamente focado na eleição”, mas declarou que fará qualquer coisa que Trump lhe peça. “Minha preferência seria fazer isso de Manhattan Beach, Califórnia”, onde mora, disse, rindo.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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