SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O crime organizado voltou a montar barracas e guarda-sóis na rua dos Gusmões, via do centro de São Paulo onde atualmente está a principal concentração da cracolândia. Os equipamentos são um indício que o tráfico de drogas segue dominando a região, já que são usados para manter a venda e o consumo de crack escondidos das forças de segurança.
As estruturas de lona e tecido foram erguidas nesta quarta (12), um dia após os usuários de drogas entrarem em confronto com policiais.
De acordo com a Polícia Militar, técnicas de controle de multidão, como disparo de bombas de efeito moral, foram deflagradas nesta terça-feira (11) após um grupo depredar um ônibus e um carro de polícia em rua próxima ao local onde estavam os dependentes químicos. Duas pessoas foram detidas.
Na tarde desta quarta, cavaletes de ferro e uma espécie de corda foram instalados para delimitar a área ocupada pelos usuários de drogas e a parte da rua onde funcionam lojas de artigos eletrônicos. Segundo lojistas, as estruturas foram colocadas por seguranças privados dos estabelecimentos comerciais.
No lado oposto do quarteirão, na esquina com a avenida Rio Branco, barracas improvisadas foram montadas.
Outro grupo pequeno de usuários de drogas ocupava trechos da rua dos Protestantes, a poucos metros de distância, onde há concentração de ferros-velhos que compram e vendem materiais de reciclagem.
O trecho da rua dos Gusmões entre a Rio Branco e a rua Santa Ifigênia se consolidou como o novo endereço da cracolândia há algumas semanas.
Até então, a aglomeração de dependentes químicos se alternava entre quarteirões das ruas Guaianases, Vitória e Conselheiro Nébias. Antes, o consumo e tráfico de drogas ocupou o quarteirão da rua dos Gusmões na esquina com a alameda Barão de Limeira.
Moradores das vias ocupadas relataram ameaças por parte de criminosos, que exigem a retirada de câmeras de segurança da fachada dos condomínios e, quando não são atendidos, quebram os equipamentos para evitarem serem monitorados.
As movimentações, quase sempre, são coordenadas pelos chamados disciplinas, integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que comanda o tráfico de drogas na cracolândia.
A exceção à regra ocorreu no último final de semana, quando uma operação deflagrada pelas policias Civil e Militar e pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) escoltou os usuários de drogas da região central até um viaduto no Bom Retiro.
Embora o prefeito Ricardo Nunes e a secretaria de Segurança Pública, integrante da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmem que se tratou de uma dinâmica própria do fluxo de usuários, equipes das polícias Civil e Militar que atuam na região central de São Paulo foram comunicadas que participariam de uma operação na cracolândia durante o fim de semana.
Moradores do Bom Retiro relataram terem visto carros da GCM e da PM posicionados em ruas do bairro horas antes do fluxo de dependentes químicos serem escoltados pelas vias na noite de sábado. Alguns comerciantes foram orientados a fechar as portas mais cedo por causa da operação.
A expectativa das autoridades era manter os dependentes químicos distantes das ruas onde há grande concentração de comércios e endereços residenciais e próximos do complexo Prates, equipamento municipal que presta atendimentos médicos e de assistência social a moradores de rua e usuários de drogas.
Integrantes da prefeitura e do governo estadual têm sido alvos de reclamações constantes de quem vive e trabalha na região central diante do aumento de casos de violência na região após a dispersão da cracolândia em maio do ano passado.
A tentativa de mover o fluxo (como é chamada a concentração de usuários) não durou 24 horas e, na manhã seguinte, a aglomeração voltou a ocupar ruas do centro. A estratégia não foi uma unanimidade entre as autoridades policiais e houve discordâncias sobre a efetividade da ação.
Em nota, a prefeitura afirmou que é solicitado a desmontagem das barracas encontradas durante as operações de limpeza na cracolândia. A gestão municipal também informou que a GCM aciona a Polícia Civil quando presencia tráfico de drogas durante as patrulhas na região.
Já a Secretaria de Segurança Pública afirmou em nota que reforçou as ações de inteligência e policiamento preventivo na região. Cerca de 120 policiais militares atuam no policiamento da área.
Responsável pelo tema cracolândia no âmbito estadual, o vice-governador Felicio Ramuth (PSD) foi procurado pela reportagem para comentar a tentativa frustrada de mudar a cracolândia de endereço, mas não atendeu aos pedidos de entrevista. É a segunda vez na semana que ele não atende ao pedido de entrevista.
Principal aposta de Ramuth para reduzir a concentração de frequentadores da cracolândia, o centro de tratamento inaugurado em frente ao parque da Luz em abril fez cerca de 3.400 atendimentos em três meses e 42% foram de frequentadores da cracolândia.
MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress