SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Usuários de drogas que estavam nas ruas Conselheiro Nébias e Guaianases, em Campos Elíseos, migraram para a rua dos Protestantes, em Santa Ifigênia, na região central de São Paulo. O novo ponto está a três quadras da antiga cracolândia, instalada até o primeiro trimestre do ano passado no entorno da praça Júlio Prestes e da Sala São Paulo.
Foi da região da Júlio Prestes, chamada pejorativamente de praça do Cachimbo, que os dependentes químicos saíram em direção à praça Princesa Isabel, e depois, em maio de 2022, se dispersaram para diversas vias de Campos Elíseos, Santa Ifigênia e República, provocando protestos de moradores e comerciantes.
A rua dos Protestantes, entre a rua Vitória e a rua dos Gusmões, é de mão única e estreita. O perímetro abriga ferros velhos, pensões e um condomínio residencial. Há tempos prefeitura e governo paulista estudavam uma maneira de confinar a cracolândia em um local que causasse o menor impacto possível para comerciantes e moradores.
A mudança ocorreu na manhã da última sexta (30), conforme vizinhos, ao som de bombas disparadas pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) e com os dependentes químicos promovendo desde então pancadões, brigas e feira de drogas.
Moradores relatam que, em conversas informais, guardas-civis disseram que os dependentes químicos ficariam ali por ser uma rua sem comércio e com poucas residências.
Uma pessoa que trabalha com os usuários relatou que a mudança de endereço foi em comum acordo entre polícia e traficantes, como tentativa de não atrapalhar os comerciantes de outras ruas que se queixavam de prejuízos.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarou, em nota, que a concentração de usuários possui dinâmica própria e movimenta-se pelas ruas do centro, “especialmente quando observado seu padrão de acomodação ao longo do tempo”. Afirma também que a região é atendida pelo programa Redenção, que oferece acolhimento e tratamento para dependentes, e que o número de abordagens de saúde e assistência social cresceu em maio.
Já a Secretaria da Segurança Pública do estado afirma que “vem trabalhando para combater a criminalidade na região central, com o aumento de policiamento ostensivo e o trabalho de investigação”. Segundo a pasta da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), 1.300 criminosos foram presos até junho nas operações Impacto e Resgate, o que representaria alta de cerca de 40% em relação ao mesmo período de 2022.
A secretaria diz ainda que ampliou a comunicação com os comerciantes nas ruas dos Protestantes e do Triunfo em razão da nova concentração de usuários.
A reportagem esteve na rua dos Protestantes na tarde desta segunda-feira (3) e viu agentes da GCM portando armas de balas de borracha, além de policiais militares, nas duas extremidades da via e na paralela, a rua General Couto de Magalhães.
Uma moradora classificou a conversa com a reportagem como um pedido de socorro.
Segundo ela, há meses um grupo pequeno de dependentes químicos se instalou na rua dos Protestantes sob marquises de edifícios. Na sexta, foi diferente: cerca de 500 pessoas chegaram trazendo, nas palavras dela, uma feira legalizada de drogas e baile funk.
Na noite de sábado (1º) uma pessoa que estava no fluxo, como é chamada a aglomeração de usuários, chegou a ser espancada. Uma imagem registrada por um celular mostra o momento das agressões.
À Folha um morador disse estar sem dormir desde a chegada dos usuários. Ele chama a situação de caótica.
O homem, que pediu para não identificado, relatou ter presenciado diversos focos de conflitos entre guardas e dependentes químicos. De acordo com ele, de sua janela foi possível ver usuários atirando paus e pedras em agentes da GCM. Questionada se teve conhecimento desse tipo de caso, a prefeitura não respondeu até a publicação.
O novo endereço da cracolândia ocorre em um momento em que o antigo ponto, entre a rua dos Gusmões e Conselheiro Nébias, se tornou motivo de investigação por parte da polícia, do Ministério Público e da prefeitura por possível extorsão praticada pelo crime organizado e por guardas-civis contra moradores e comerciantes. A antiga localização ainda foi local de saques, roubos e furtos.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress