SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eles ainda representam menos de 0,3% dos casos envolvendo veículos levados por ladrões na capital paulista. Mas furtos e roubos de carros, utilitários, caminhões e motos elétricos ou híbridos mais que dobraram no primeiro trimestre deste ano na cidade de São Paulo, na comparação com o mesmo período de 2024, e começam a chamar a atenção nas estatísticas policiais.
Levantamento feito pela empresa de rastreamento Ituran, a partir de pedido da reportagem, com base em boletins de ocorrência registrados pela Polícia Civil, mostram que de janeiro a março foram 34 ocorrências desse tipo de crime no município. Nos três primeiros meses do ano passado foram 15 casos, ou seja, 126% a mais.
Os dados somam automóveis de passeio, SUVs (utilitários esportivos), VUCs (veículos urbanos de carga) e motocicletas.
O aumento das queixas envolvendo os eletrificados é um pouco menor que o crescimento da frota deles nas ruas. De acordo com dados da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), em março (dado mais recente) havia 28.802 veículos elétricos ou híbridos registrados na cidade de São Paulo, contra 14.745 no mesmo mês do ano passado, alta de 95%.
De acordo com a ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos), no primeiro trimestre de 2023 foram comercializadas 2.410 unidades desse tipo de veículo, em suas diversas variações, no município. No mesmo período do ano seguinte, houve o salto para 5.318 e agora para 6.292.
Ou seja, em dois anos (de 2023 para 2025), o número de novos veículos elétricos vendidos no primeiro trimestre teve um aumento de 160%.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) diz não comentar pesquisas cuja metodologia desconhece e nem desmembra os elétricos e híbridos dos casos de roubo e furto de veículos. Mas afirma que esses tipos de crimes estão em queda na capital.
No primeiro trimestre deste ano, diz a pasta, foram 275 ocorrências a menos do que no mesmo período de 2024. “Ao mesmo tempo, a produtividade policial aumentou em todo estado e mais de 13 mil veículos foram recuperados.”
A quantidade de roubos e furtos de elétricos neste primeiro trimestre supera os 33 casos de todo o ano de 2023. Nos 12 meses do ano passado foram 89 queixas registradas na polícia.
De acordo com Fernando Correia, gerente de operações da Ituran, o crescimento no roubo e furto de elétricos e híbridos aponta para o surgimento do mercado clandestino de peças. “Ainda não são vendidas em desmanches, mas podem estar sendo comercializadas pela internet”, afirma.
O gerente de operações da empresa de origem israelense também cita a dificuldade de se encontrar peças de reposição, pelo fato de esse ser um mercado novo e a maioria dos modelos disponíveis serem importados, como motivador para a criminalidade. “Há relatos de espera pela importação de peças”, afirma.
O levantamento mostra que do total de casos, 55,28% desses veículos foram roubados, contra 44,72% de furtos. Segundo Correia, isso ocorre, assim como no caso dos carros de luxo, por uma maior dificuldade de se acessar e ligar os veículos, com a necessidade de chaves codificadas, por exemplo.
Também porque seus proprietários são mais cuidadosos ao estacionarem, não deixando o carro em qualquer lugar.
Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que além do crescimento na venda, esse tipo de veículo tende a ter desvalorização alta, atraindo compradores de modelos usados possivelmente sem recursos para aquisição de peças novas e, por isso, acabam atraídos ao mercado paralelo.
“O preço dele [do elétrico] cai rapidamente depois que é comprado novo, o que facilita que vá para o mercado secundário com preço mais baixo depois. E os compradores desses usados podem ser pessoas que não têm recursos para adquirir peças ou fazer as revisões em oficinas autorizadas”, diz.
Segundo ele, é preciso que a polícia faça uma ação mais efetiva no enfrentamento a esse tipo de crime. “É preciso que a Secretaria de Segurança Pública esteja focada nesse delito, porque ele tende a gerar muitos problemas para a sociedade.”
Em nota, a pasta da segurança diz que as polícias Civil e Militar seguem atuando de forma constante e estratégica no combate ao roubo e furto de veículos.
“As ações incluem reforço de policiamento em áreas com maior incidência criminal, além de operações específicas para desarticular quadrilhas especializadas”, afirma trecho do texto.
“Apenas neste ano, a Polícia Civil, por meio da Divecar [Divisão de Investigações sobre Infrações contra o Patrimônio Veículos], fiscalizou 63 estabelecimentos suspeitos de envolvimento com receptação, desarticulando diversos esquemas criminosos.
COROLLA CROSS É PREFERIDO PELOS BANDIDOS
O Toyota Corolla Cross HEV foi o veículo elétrico ou híbrido mais roubado ou furtado no primeiro trimestre de 2025 na cidade de São Paulo. Com 25 queixas na polícia, o SUV representa 73,5% dos 34 registros.
Em segundo lugar do ranking aparece o hatch BYD Dolphin EV, com oito boletins de ocorrência.
Na lista dos dez mais roubados ou furtados há duas motos: Voltz EV01 e Mottu-E, com seis e cinco boletins de ocorrência, respectivamente. São modelos usados, principalmente, por entregadores.
No ranking também há ainda uma van (Ford Transit EV (seis registros na polícia) e um modelo de caminhão pequeno, o JAC iEV1200 (quatro queixas).
FÁBIO PESCARINI / Folhapress
