SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (1º) que tem percebido análises que apontam para uma melhora no crescimento estrutural do Brasil, e citou um pacto cumulativo das reformas que vêm sendo feitas nos últimos anos sobre a atividade econômica do país.
“A gente começa a ver alguns economistas falando em mudança no crescimento estrutural. E a gente consegue ver alguns exemplos anedóticos disso. Então, tempo de abertura e fechamento de empresas melhorou, a parte de contratação e demissão melhorou. Melhorou a velocidade, melhorou o custo”, disse em almoço organizado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Segundo o presidente do Banco Central, tudo leva a crer que o crescimento estrutural, ou seja, a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) do país sem avanço da inflação, esteja um pouco melhor, o que significa que há uma tendência de o Brasil avançar mais, com menos alta de preços.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, o Ministério do Planejamento e Orçamento estima um aumento do PIB potencial do Brasil de 2% a 2,5%. Esse índice faz uma estimativa de qual seria o PIB na hipótese de todos os fatores de produção serem usados da forma mais eficiente, sem gerar pressões sobre o índice de inflação. Com ele, o governo busca ter mais informações sobre o cenário econômico do país para tomar decisões no médio e longo prazo.
Campos Neto também chamou a atenção para o fato de que a relação entre o mercado de trabalho e a inflação está em uma dinâmica mais favorável. “E aí tem o tema da reforma trabalhista e várias outras coisas que estão impactando”, ponderou.
O presidente do BC falou em uma sincronia de credibilidade fiscal e monetária que torna o ambiente econômico no país mais positivo, citando o novo arcabouço fiscal da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
No lado monetário, Campos Neto afirmou que o fato de o Brasil ter saído na frente com o ciclo de alta de juros contribuiu para que a inflação no país ficasse abaixo da tendência mundial, diferente do que costuma acontecer historicamente.
Ele voltou a falar sobre fazer uma política monetária com credibilidade no Brasil, para que as taxas longas da curva de juros não subam e o país tenha um efeito contrário do esperado com o ciclo de corte da Selic.
Campos Neto reafirmou que acredita que cortes de 50 pontos-base da Selic estão em um ritmo apropriado para as próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).
Atualmente, os juros básicos são de 12,25% ao ano, após três reduções seguidas de 0,50 ponto percentual na taxa.
O presidente do BC se esquivou de apresentar uma perspectiva com relação à taxa terminal da Selic ao final do ciclo de corte de juros, mas disse acreditar que a taxa básica precisa se manter em um campo restritivo, ou seja, que esteja em um nível elevado suficientemente para conter o consumo e, assim, controlar a inflação.
O banqueiro disse que os preços no Brasil estão qualitativamente melhores, mas ainda assim mencionou diversas variáveis que precisam ser analisadas reunião a reunião.
Quanto à lei que instituiu a autonomia do Banco Central, ele disse que o teste inaugural da autarquia ocorreu quando houve a primeira troca de governo após a aprovação da lei, citando um “ruído natural”. Segundo o presidente do BC, contudo, não houve retrocessos nesse processo.
“Às vezes o brasileiro fica muito preso a ruídos de curto prazo, mas se a gente olhar a história mais longa, nós tivemos várias melhorias institucionais que permanecem, e que vão sofrer melhorias. O próprio Banco Central agora quer fazer melhorias no processo de autonomia”, afirmou.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress