Criadora do caderno Jolie, queridinho dos anos 2000, revela mistério

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um mistério ronda a internet há anos e voltou a ser comentado nos últimos dias. Afinal, de onde surgiu a Jolie? A personagem que muitas pessoas conhecem nunca teve uma série animada ou filme, apesar do sucesso que fez.

Popular entre os anos 2000 e 2010, a Jolie faz parte de uma linha de cadernos da Tilibra. O nome é uma palavra francesa que significa “bonita” ou “feliz”, e cada uma das cinco diferentes meninas ilustradas nessas capas recebeu um nome diferente.

Júlia é a com aparência asiática, Olívia tem cabelo loiro, Laura é negra, Isabela é ruiva e Elisa possui cabelo castanho. Além dessa curiosidade, talvez você não saiba que a pessoa que fez as ilustrações entre 2005 e 2014 foi Tatiane Ferrigno, 42.

Designer gráfico formada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), ela contou à reportagem que o objetivo com as ilustrações que ficaram famosas era resgatar o encanto dos papéis de carta.

“A equipe de marketing da empresa teve a ideia de criar uma linha de desenhos românticos inspirados naquele encanto e inocência. E eu, que era jovem naquela época [24 anos], fui uma das escolhidas para desenhar, já que tinha esse forte pela ilustração”, conta Tatiane.

“Tentávamos brincar com a ideia de as meninas se identificarem com as personagens pela cor do cabelo. Enquanto trabalhei lá, toda a coleção envolvia quatro capas de cadernos diferentes, que destacavam a individualidade das meninas”, explica.

Tatiane detalha que se inspirava na moda vintage e buscava referências em ilustrações que remetiam a essa mesma corrente, para representar o visual inocente e atemporal que a personagem precisava. “Também nos inspiramos nas meninas que se vestem de Lolitas no Japão”, complementa.

SUCESSO INESPERADO

Tatiane conta que, para ela, o sucesso foi inesperado. Atualmente, ela tem até recebido mensagens agradecendo por ter feito algo que criou uma boa lembrança. “É muito legal ter esse reconhecimento, pois eu sempre me dediquei à minha arte e é algo mágico criar essa conexão com as pessoas”, diz.

“Um fenômeno. Depois de mais de dez anos que comecei a ter noção de como influenciei na vida das consumidoras e fiz parte dela, porque não tinha esse tipo de contato antes”, diz Tatiane.

A linha de cadernos cresceu e abriu espaço para produtos licenciados como ovos de páscoa, roupas e calçados. A responsável pelas ilustrações da época tenta encontrar uma razão para essa popularidade: “Acredito que aos poucos criei um mundo para a personagem, onde tudo era delicado, meigo e penso que isso conquistou as meninas, como se elas pudessem fazer parte daquilo.”

Cada coleção tinha um tema do que Tatiane considera “a vida perfeita”. A última coleção em que trabalhou foi uma na qual as personagens estavam em Paris, passeando pela cidade. “A Jolie era uma menina que representava esse sonho, esse universo da brincadeira, do lúdico”, considera.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Tilibra, que reforçou que a Jolie é uma das principais marcas do portfólio da empresa, acompanha gerações e segue cativando novas fãs.

“Jolie ganhou o coração das consumidoras ao trazer capas de cadernos com visual encantador, com um estilo único que une características de bonecas e lembranças do design vintage dos papéis de carta”, diz a marca em nota.

DE DESENHOS MEIGOS PARA O UNIVERSO DA TATUAGEM

A ilustradora sempre desenhou e brinca que é uma atividade que desenvolve desde que aprendeu a segurar um lápis. “Copiava os desenhos das personagens que via na televisão e, desde os 5 anos, lembro das professoras notarem meu interesse”.

O tempo passou e, quando estava no ensino médio, Tatiane assistiu a uma apresentação sobre o curso de Desenho Industrial da Unesp, que passou a posteriormente se chamar Design Gráfico.

“Foi aí que tive a certeza que era o que eu queria cursar, já que unia arte e conhecimentos necessários para trabalhar em algo comercial. Prestei um único vestibular, pois não tinha condições de pagar pela universidade, e fui aprovada aos 17 anos.”

Aos 22, ela conseguiu um emprego fixo na Tilibra, localizada na cidade de Bauru. “Era o início da minha carreira como designer e, apesar de trabalhar em uma linha tão fofa como a Jolie, também ilustrei a Plush Poison, com um visual mais rock e divertido”.

Paralelo a isso, Tatiane fazia ilustrações sem fins comerciais, com figuras femininas tatuadas, com estilo pinup. “A tatuagem apareceu nessa época, no visual das minhas ilustrações e sempre foi algo marcante no meu estilo pessoal”, destaca.

Porém, a oportunidade de tatuar surgiu somente durante a pandemia da covid-19. “Fiquei disponível e havia cursos online de tatuagem. Comprei meu primeiro kit e treinei em peles artificiais. Fiquei apaixonada e senti a certeza de entrar nessa carreira”, conta.

Tatuei alguns amigos e por mais alguns meses até que resolvi abrir meu estúdio. Sabia que ia dar certo, e deu. Hoje tenho um [estúdio] privado em Campinas e estou feliz com a minha escolha.

O que aprendeu com a Jolie, apesar da transição de carreira, não foi desperdiçado. “Uma das minhas especialidades é desenhar cachorros e gatos porque fiz muito isso com a Jolie”, fala com orgulho.

LAÍS SEGUIN / Folhapress

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