Criolo e Planet Hemp mesclam repertórios em show ensopado pela chuva no The Town

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com um pequeno atraso e bem na hora que a chuva no Autódromo de Interlagos apertou, o rapper Criolo subiu ao palco The One ao som de “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais”, de seu último álbum, “Sobre Viver”, de 2022.

A apresentação foi mais uma que fez uma ponte entre São Paulo e Rio de Janeiro numa espécie de passada de bastão simbólica entre o festival paulista e sua versão carioca, o Rock in Rio, dos mesmos organizadores.

Se mais cedo o Skyline, palco principal do festival, recebeu os paulistanos Hariel e Ryan SP ao lado do carioca Cabelinho, o show das 19h promoveu o encontro entre o rapper nascido no Grajaú, bairro colado no autódromo, que canta a paisagem paulistana em várias de suas músicas, e o Planet Hemp, máxima referência carioca do gênero.

Comandada por Marcelo D2, a banda com três décadas de trajetória começou sua participação no show logo depois de “Grajauex”, quando uma câmera no backstage mostrou os integrantes jogando dominó. O grupo subiu ao palco ao som de “Distopia”, canção lançada no ano passado em seu último álbum “Jardineiros.”

A partir daí, o cheiro da fumaça doce dos cigarros eletrônicos se misturou brevemente ao de maconha. Mas logo todos os cheiros foram interrompidos pela chuva torrencial, permaneceu até o fim da apresentação, espantando parte do público e ensopando o resto. Quem resistiu fez rodinhas de bate-cabeça em músicas como “Convoque Seu Buda” e “Mantenha o Respeito.” Foi uma participação rápida, mas a mais animada do show.

Em seus momentos sem o grupo carioca no palco, quando foi acompanhado pelo DJ Dan Dan, Criolo passou por canções de quase todos os seus álbuns. Apareceram, por exemplo, “Esquiva da Esgrima”, de “Convoque Seu Buda”, de 2014, e “Lion Man” e “Subirusdoistiozin” de “Nó na Orelha”, de 2011. Todas foram guiadas pelos sons dos atabaques.

O show também teve alguns momentos políticos. “Ogum Ogum”, de “Sobre Viver”, teve um apelo pelo fim da intolerância religiosa. “Jardineiro”, nova do Planet Hemp, foi ilustrada no telão por manchetes com casos de corrupção e o governo Bolsonaro como a cocaína no avião da FAB e o leilão de armas feito pelo Bope.

Antes da chuva cair mais forte, “Não Existe Amor em SP”, música de maior sucesso de Criolo, fez o público cantar e levantar os celulares em direção ao palco. Ao contrário da canção, o The Town exalta a capital paulista em todos os seus cantos. Mais paulistano que essa cena só se o show tivesse acontecido no palco Skyline, que imita o horizonte cinza de prédios da cidade.

LAURA LEWER / Folhapress

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