Cruzeirense morto em emboscada de palmeirenses era motoboy, pai e ‘cara do bem’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – José Victor Miranda, 30, era motoboy, pai de um menino de sete anos, e “um cara do bem”, segundo sua prima, Camila Vieira, 36. Foi ele o torcedor do Cruzeiro morto numa emboscada feita por palmeirenses na rodovia Fernão Dias, em São Paulo, na madrugada deste domingo (27).

A vítima morava em Sete Lagoas, na região sudeste de Minas Gerais, e largava quase qualquer compromisso, menos o trabalho, para acompanhar o time do coração em todo o Brasil . Sempre que ia aos estádios o fazia junto à torcida organizada Máfia Azul, da qual era um dos líderes.

Há dois meses, levou seu filho para um jogo do Cruzeiro pela primeira vez, no Mineirão, em Belo Horizonte. Segundo familiares, foi um dos momentos mais emocionantes da vida dele.

Todos os mais próximos se preocupavam com o envolvimento do jovem com a torcida organizada. Ele já havia relatado ameaças recebidas em redes sociais. Seu pai pedia para ele largar o grupo.

José Victor morreu por volta das 5h deste domingo, na altura do km 65 da rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo, em uma briga entre torcedores cruzeirenses e palmeirenses. Ao menos outros 20 indivíduos ficaram feridos.

Segundo a PRF, sete pessoas sofreram traumatismo craniano e uma foi baleada no abdômen, mas não corre risco de morte. Os feridos –todos torcedores do Cruzeiro– foram levados aos hospitais Franco da Rocha e Anjo Gabriel, em Mairiporã. Os agressores fugiram antes da chegada da polícia. Até o momento, ninguém foi preso.

O confronto envolveu 120 pessoas. O ônibus da Máfia Azul (Cruzeiro) foi interceptado pela Mancha Verde (Palmeiras). Esse ataque, que ocorreu no sentido Belo Horizonte, foi um revide a um confronto entre eles ocorrido em setembro de 2022, na mesma rodovia, mas em solo mineiro. Naquela ocasião, entre os agredidos estava o atual presidente da Mancha, Jorge Luis.

Na emboscada deste domingo, a torcida do Cruzeiro voltava de um jogo contra o Athletico Paranaense, em Curitiba. O Palmeiras havia jogado contra o Fortaleza, na capital paulista.

Rena Bohus advogado dos torcedores cruzeirenses, disse que eles estavam dormindo no momento do ataque praticado pela Mancha Verde. “Os torcedores rivais jogaram pregos na via e quando o ônibus parou eles arremessaram coquetel molotov, rojão, várias bombas. Invadiram o ônibus com pedaços de pau e agrediram as pessoas.

O Ministério Público de São Paulo chamou o ataque de “selvageria” e afirmou que vai tratar a Mancha Verde como organização criminosa. “Tal episódio é inaceitável e representa uma grave afronta à segurança pública e à convivência pacífica em nossa sociedade”, afirma a nota. A Procuradoria-Geral da Justiça determinou que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) participe das investigações.

O Ministério Público de Minas Gerais se colocou à disposição das vítimas e dos familiares.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) repudiou o ataque aos torcedores do Cruzeiro, disse que futebol não deve ser sinônimo de nada similar e prometeu punição severa.

Em nota, o Cruzeiro lamentou o episódio de violência entre torcedores. “Não há mais espaço para violência no futebol, um esporte que une paixões e multidões. Precisamos dar um basta a esses atos criminosos”, afirma.

A Sociedade Esportiva Palmeiras repudiou o episódio. Em nota, o clube declara que o futebol não pode servir como pano de fundo para brigas e mortes. “Que os fatos sejam devidamente apurados pelas autoridades competentes e os criminosos, punidos com rigor.”

BRUNO LUCCA / Folhapress

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