SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sob a saudação de 21 tiros de canhão, uma flotilha russa chegou ao porto de Havana nesta quarta (12) como uma demonstração de força militar de Vladimir Putin a cerca de 150 km da costa dos Estados Unidos, com quem o russo trava uma amarga disputa no contexto da Guerra da Ucrânia.
A festa cubana fez lembrar os tempos da cooperação entre União Soviética e o regime da ilha, que abraçou o comunismo após a revolução de 1959, e de forma mais imprecisa a grande crise dos mísseis de 1962, quando quase houve uma guerra depois que Moscou instalou armas nucleares no aliado.
Os tempos são outros, mas as similaridades, sombrias. Entraram no porto inicialmente as embarcações de apoio da flotilha, o navio-tanque Acadêmico Pachin e o rebocador Nikolai Tchiker, sob os olhos de pescadores e moradores que encararam a chuva leve que atingia a capital.
Depois vieram as estrela, a fragata Almirante Gorchkov e o submarino de ataque com propulsão nuclear Kazan, dois dos mais modernos navios russos, ambos capazes de lançar mísseis de vários tipos inclusive os hipersônicos Tsirkon, embora apenas o primeiro os opere de forma comprovada.
Na véspera, o Ministério da Defesa da Rússia havia divulgado que o grupo havia praticado disparos de longa distância com mísseis antinavio no Atlântico, atingindo alvos a 600 km.
Os EUA minimizaram a demonstração de Putin, lembrando que as visitas de embarcações russas são praticamente anuais a partir de 2013, com o país já recuperado do baque de suas capacidades militares no pós-Guerra Fria.
Não há armas nucleares nas embarcações, segundo o governo cubano apressou-se em dizer. Ainda assim, o recado dado por Putin é claro.
Na semana retrasada, os EUA uniram-se a outros aliados ocidentais e autorizaram o uso restrito de suas armas doadas à Ucrânia contra alvos no território russo. Na terça (11), o governo de Joe Biden informou que irá fornecer mais um sistema de defesa antiaérea Patriot a Kiev, o terceiro do tipo que o país irá receber ao menos um foi destruído.
Após semanas de ameaças nucleares, Putin acabou dizendo que sua resposta poderia ser com o fornecimento de armas avançadas para inimigos do Ocidente.
A narrativa condiz com a chegada dos navios russos a Havana, mas é mais uma encenação: não há nenhum relato de que eles carreguem armamentos a serem entregues para Cuba, que de resto não tem pretensão ou condição de atacar os EUA.
A flotilha deixou seu porto perto de Murmansk, no Ártico russo, no dia 17 passado, o que permite a Moscou dizer que a viagem nada teve a ver com a ameaça feita por Putin na semana passada, durante entrevista em São Petersburgo.
Seja como for, o que importa é o simbolismo, com os russos dizendo aos americanos que são capazes de operar a longa distância, no quintal estratégico de Washington. Em maio, em sua quarta visita a Moscou, o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que Putin sempre poderá contar com o apoio da ilha.
Os navios deverão participar de exercícios em torno de Cuba até a segunda (17). Depois, poderão ir à Venezuela do ditador Nicolás Maduro, outro rival regional dos EUA, mas não há confirmação disso.
IGOR GIELOW / Folhapress