Curvas de juros curtas caem após redução de 0,50 ponto na Selic

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As curvas de juros futuros curtos registraram fortes quedas nesta quinta-feira (3), após o Copom (Comitê de Política Monetária) realizar um corte de 0,50 ponto percentual na Selic. A redução foi maior que as projeções do mercado, e a autoridade monetária sinalizou novas quedas da mesma magnitude em suas próximas reuniões.

Além de ter promovido uma redução maior que a esperada pelo mercado, o Copom sinalizou que deve manter o ritmo de cortes de 0,50 ponto em suas próximas reuniões.

Com isso, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2024 caíram de 10,64% para 10,48%, enquanto os para 2025 foram de 10,67% para 10,50%. Já a curva de 2026 saiu de 10,04% para 9,98%.

Os contratos mais longos, porém, foram na direção contrária e registraram altas: os juros com vencimento em 2027 subiram de 10,08% para 10,13%, e os para 2028 foram de 10,30% para 10,41%.

Os juros futuros representam a expectativa de como estarão as taxas de juros brasileiras nos próximos anos e servem como referência para captação de crédito em todo o país..

Na tomada de um financiamento de longo prazo, por exemplo, para ser pago em cinco anos, a taxa de juros utilizada é a da curva para daqui a cinco anos, e não o nível de juros do momento da assinatura, como explica o economista Beto Saadia, sócio da Nomos.

“A Selic é a taxa de hoje, do momento atual, mas se ela for utilizada como referência para um empréstimo a ser pago nos próximos cinco anos, estaríamos considerando que ela não vai mudar ao longo do tempo. Por isso, é utilizada a expectativa de quanto ela estará no momento da quitação do financiamento”, diz Saadia.

Assim, os juros futuros funcionam como uma previsão sobre como estarão as taxas e a política monetária brasileira nos próximos anos, dando mais segurança a quem realiza esse tipo de operação.

O impacto da decisão do Copom nos juros futuros foi modulado pelo fato de que a maior parte do mercado esperava uma redução de 0,25 ponto percentual na reunião desta semana,

“Os contratos mais curtos estão reagindo à decisão, uma vez que havia uma dúvida no mercado sobre o tamanho do corte. Quando olhávamos para as opções de Copom, elas estavam mostrando 60% de chances de corte de 0,25 ponto percentual”, afirmou o economista Rafael Pacheco, da Guide Investimentos.

Sobre a alta nas curvas mais longas, o economista Alexsandro Nishimura, sócio da Nomos, afirma que o movimento já era esperado.

“Na ponta curta, com o corte maior e sinalização de prosseguimento, a curva embute a certeza na queda dos juros. Já nos contratos mais longos, os investidores costumam se proteger do sentimento de maior tolerância do Banco Central com a inflação”, diz Nishimura.

Ele aponta, ainda, a influência do exterior no movimento de alta das curvas mais longas, que foram pressionadas por títulos de dívida dos Estados Unidos. Após o rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Fitch, os vencimentos de 30 anos dos títulos americanos atingiram as máximas em nove meses, puxando as taxas futuras de prazos mais longos no Brasil.

Mesmo com as altas nas curvas mais longas nesta quinta, os juros futuros vêm registrando queda significativa no Brasil e operam em seus menores níveis do ano desde o fim de junho, com a consolidação das expectativas de que o Copom realizaria um corte na Selic na reunião desta semana.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o comitê em seu comunicado.

Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, o corte feito pelo Copom nesta semana foi adequado para o ciclo de redução de juros que se inicia, e que o ritmo de redução de 0,50 ponto não parece agressivo.

“Agora resta saber como o mercado vai reagir. Se o mercado vai apostar exatamente nessa sinalização de 0,50 ou vai testar ritmos mais fortes de baixa”, afirma Megale.

Com o corte maior que esperado pelo mercado, a tendência é que as projeções para a Selic no fim do ano sejam revisadas para baixo, o que daria ainda mais fôlego para a queda das curvas futuras de juros.

No boletim Focus desta semana, divulgado antes da decisão do Copom, analistas consultados pelo Banco Central projetavam que a Selic terminaria o ano em 12,0% no fim deste ano, mas apostavam num corte de 0,25 ponto nesta semana.

Já analistas que apontavam para um corte de maior magnitude veem a taxa básica de juros em nível menor no fim de 2023. O Bank of America, por exemplo, que já projetava queda de 0,50 ponto na reunião desta semana, projeta a Selic em 11,75% no fim do ano.

“Diante da deterioração do mercado de crédito, da desaceleração da atividade econômica e da diminuição da inflação, esperamos cortes de 0,50 ponto por reunião nos próximos meses, chegando a 11,75% ao final de 2023 e 9,50% em 2024”, diz David Becker, chefe de economia para Brasil do BofA.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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