Custo da tecnologia impacta reajuste da mensalidade escolar, que deve subir até 10%

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O investimento em tecnologias de ensino tem gerado cada vez mais impacto no custo das escolas particulares e, com isso, ganhou peso no reajuste do valor da mensalidade.

Uma pesquisa do Grupo Rabbit, consultoria de gestão do ensino privado no Brasil, aponta que as mensalidades de 2025 deverão ter um aumento, em média, de 8% a 10%, o dobro da inflação projetada para este ano, que é de 4,4%. O levantamento foi realizado entre maio e agosto com gestores de 680 escolas, clientes do Rabbit.

O valor de reajuste não está fora dos apontados pelo Rabbit nos anos anteriores. Em 2023 havia sido de 9,4%, e em 2022, de 10,9% (com a inflação acumulada, respectivamente, de 4,62% e 5,79%). Para a consultoria, esses reajustes, entre outros motivos, estão relacionados à tentativa de se recuperar perdas que aconteceram no ensino privado na pandemia, com a redução de alunos e o aumento da inadimplência.

Minas Gerais é apontado como o estado que terá reajuste de 10%. São Paulo vem na sequência, com 9,5%. Rio de Janeiro e as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste registram 9%. No Sul, a previsão é de um aumento médio de 8% nas mensalidades.

Presidente da Federação Nacional de Escolas Particulares (Fenep), Antônio Eugênio Cunha afirmou à Folha que, especialmente desde a pandemia, o custo da tecnologia aumentou de forma significativa nas escolas particulares. “A tecnologia avança muito rapidamente, é um investimento contínuo e caro”, disse. “Nos últimos anos, tornou-se um dos maiores pesos dentre os custos de investimentos das escolas.”

Cunha cita alguns exemplos de gastos com tecnologia na educação: plataformas que controlam o desempenho individualizado dos alunos, material didático digital, equipamentos cada vez mais sofisticados para laboratórios e salas de aula.

O relatório da pesquisa do Grupo Rabbit menciona a necessidade de se investir em tecnologia, inclusive a de se preparar para a utilização da inteligência artificial. Orienta as escolas a criarem um comitê de profissionais interessados nessa área e lembra que há startups e grandes empresas que oferecem serviços relacionados à tecnologia da educação.

O presidente da Fenep ressalta que o gasto com a tecnologia, embora tenha se tornado essencial, nem sempre é percebido pelas famílias. A reforma de uma quadra ou de uma sala de aula é algo que todos percebem. Já o gasto com tecnologia, ele diz, às vezes bem maior do que o de reformas assim, pode não ser notado.

Para Cunha, o reajuste das mensalidades é extremamente variado e depende também dos investimentos e da situação de cada escola. Se ela utiliza um imóvel alugado, exemplifica, e o reajuste do aluguel for mais alto, a mensalidade terá de subir também.

O reajuste é calculado a partir das previsões de custo com pessoal (salários e encargos trabalhistas), custos gerais e administrativos, como água, luz, limpeza, assessoria jurídica etc. e encargos sobre a receita, além dos investimentos. A equação envolve ainda uma estimativa sobre o número de matrículas.

Não há impedimento legal para que o reajuste das mensalidades seja acima da inflação, mas as escolas têm que ser transparentes sobre o aumento. O Procon diz que as famílias podem procurar as escolas para negociar descontos.

Embora a tecnologia pese na mensalidade, ela não aparece entre os principais diferenciais das escolas apontados por seus gestores e professores, de acordo com pesquisa do Grupo Rabbit. O acolhimento é o campeão de citações, mencionado por 55% dos gestores entrevistados e por 49% dos professores. Já o “ensino forte” vem na sequência, apontado por 10% dos dois grupos de profissionais. A tecnologia não foi listada pelos gestores e apareceu como resposta de apenas 1% dos professores.

LAURA MATTOS / Folhapress

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