SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em sua terceira passagem pela CVC, Fabio Godinho assumiu em 2 de junho o comando da companhia, fundada por Guilherme Paulus, cuja família também está retornando à empresa e de quem Godinho é pessoa próxima e de confiança.
Godinho, que tem 15 anos de experiência no setor de turismo, também já presidiu outros negócios de Paulus, como a Webjet Linhas Aéreas, que foi comprada pela Gol e depois encerrada, e a rede hoteleira GJP Hotels & Resorts, que mudou de nome no ano passado e agora se chama Grupo Leceres.
Ele assumiu a CVC com inúmeros desafios. Além dos efeitos negativos da pandemia sentidos pelo setor de turismo e entretenimento até hoje, a empresa enfrenta problemas de endividamento e, em março deste ano, anunciou acordo com debenturistas para renegociar R$ 900 milhões em débitos.
A empresa viu suas ações caírem do patamar de R$ 56 no início de 2019 para R$ 38 em janeiro de 2020, e depois desabarem para os atuais R$ 3 desde a turbulência da pandemia de Covid-19.
Em sua primeira entrevista para falar de suas expectativas à frente do negócio, Godinho falou à reportagem seus planos para recuperar a empresa e criticou a Reforma Tributária aprovada na Câmara, que excluiu boa parte do setor de turismo das exceções previstas pelos deputados.
O executivo da CVC se disse otimista com o apoio do governo federal ao setor, argumentando que os planos da gestão atual estão alinhados aos do turismo, que é o de facilitar o acesso para que os brasileiros viajem e gerar novos empregos.
“Eu acho que o governo está muito alinhado com o turismo, não só pelos interesses da grande classe média, que tem todo o sonho de tirar férias, mas também pela economia dos polos turísticos que dependem que os turistas cheguem lá. Quem possibilita isso são os intermediários, os agentes de viagem, as operadoras. E quando falamos de turismo estamos falando de cerca de 13 milhões de empregos diretos”, disse.
Godinho afirmou que pretende ampliar a oferta de produtos exclusivos da CVC e continuar facilitando as condições para que os brasileiros consigam viajar.
“Hoje a CVC tem produtos oferecidos em dez vezes sem juros, e a gente tem um custo financeiro elevado para fazer esse financiamento, mas é isso que possibilita a 15 milhões de pessoas viajarem anualmente só dentro da nossa estrutura”, afirmou.
O executivo da CVC diz que a empresa investiu, nos últimos anos, R$ 500 milhões em sistemas, tornando a empresa uma das poucas do setor no mundo com uma conexão total do mundo digital com as lojas físicas, segundo ele.
DE VOLTA AO PASSADO: A FÓRMULA DA RECUPERAÇÃO
Em uma breve fala sobre a reestruturação da CVC, Godinho disse que trouxe junto com ele um time de profissionais com amplo conhecimento não só do setor de turismo como da própria companhia.
“Trago comigo todo um time de pessoas, que têm amplo conhecimento do setor e da empresa. O mercado de turismo é bastante específico, e exige bastante conhecimento, e nós sabemos quem são essas pessoas que têm capacidade de fazer a companhia andar no ritmo que a gente quer, como sempre andou.”
O executivo da CVC também citou a volta da família fundadora da empresa para o negócio.
“Eu sou apenas uma representação, como presidente, mas também tem todo um grupo comigo, como o Gustavo Paulus [filho de Guilherme Paulus], que está voltando como investidor e trazendo a família. Tem também o Valter Patriani que, de alguma forma, estamos organizando um comitê para ele”, afirmou.
No fim do mês passado, a CVC divulgou que o conselho de administração da companhia aprovou a precificação da oferta subsequente de ações ordinárias da empresa, levantando R$ 550 milhões. Segundo fato relevante da empresa, no contexto do acordo de investimento, o GJP Fundo de Investimento em Ações, que é da família Paulus, investiu R$ 100 milhões.
Segundo a assessoria de imprensa da CVC, o aporte se deu por meio de uma gestora do fundo, a Mar Capital Gestão de Recursos, que é controlada por Gustavo Paulus.
O episódio marca a volta da família Paulus para a empresa, após o fundador da empresa se desfazer de sua participação no contexto em que fechou um acordo de delação premiada referente a uma investigação que apontou propina no âmbito do Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais).
REFORMA TRIBUTÁRIA
Godinho disse acreditar que o Senado vai alterar o trecho da Reforma Tributária que trata do turismo.
Em uma mudança de última hora na semana passada, os deputados, atendendo a demandas do setor, colocaram o turismo como um dos setores com acesso a um regime especial, para usufruir de uma alíquota menor.
Mas apenas uma parte do setor os segmentos hoteleiro e de parques de diversões, bares, restaurantes e companhias aéreas regionalizadas obtiveram o benefício. As agências de viagem e eventos, por exemplo, e as companhias aéreas que operam rotas mais longas acabaram caindo no regime padrão, com a alíquota cheia.
Atualmente, o setor paga 3,65% de tributos federais referentes a PIS e Cofins, e de 2% a 5% do tributo municipal ISS, que varia de acordo com a cidade. Com a alíquota padrão da reforma estimada em cerca de 25%, em alguns casos as empresas do setor podem ver sua carga tributária quadruplicar.
“Não podemos ter esse desalinhamento tributário, que parte do setor entra, e parte do setor não entra na exceção”, disse.
DEMANDA AQUECIDA
Godinho disse que a demanda está aquecida tanto do turismo doméstico como do internacional. Segundo o executivo, no Brasil os cruzeiros vivem um forte crescimento. “Quase 30% do mercado interno marítimo já é vendido dentro das lojas da CVC”, diz.
No turismo internacional, os principais destinos da companhia são Argentina e Europa.
“Argentina, obviamente, pela questão da moeda e pela atratividade. O brasileiro gosta muito de ir para Bariloche e de ir para Buenos Aires. A gente praticamente esgotou todos os fretamentos que a gente tinha para Bariloche. Para Buenos Aires também estamos vendendo absurdamente”.
Com relação à Europa, Godinho conta que a malha aérea já retornou aos níveis de 2019. “O nosso carro-chefe são os circuitos europeus de ônibus, que é uma viagem muito legal e você consegue conhecer vários lugares em uma viagem só, já com translado garantido”.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress