RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Seis meses após receber um transplante de coração, o apresentador Fausto Silva, 73, passou por um transplante de rins nesta segunda-feira (26).
“O paciente Fausto Silva deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein no dia 25 de fevereiro para preparação para um transplante de rim, em função do agravamento de uma doença renal crônica, após o Einstein ter sido acionado pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo e realizado a avaliação sobre a compatibilidade do órgão doado”, afirmou em nota o hospital.
A situação pela qual passa o apresentador revela alguns dos desafios do pós-operatório enfrentado por pessoas transplantadas, uma vez que a alegria de conseguir um novo órgão que assegura a sobrevivência vem atrelada a uma série de cuidados e efeitos colaterais.
O primeiro deles decorre do uso de imunossupressores, medicação usada para evitar a rejeição do implante. Embora seja de extrema importância para a aceitação do novo órgão pelo corpo, são compostos que também deixam os indivíduos mais sujeitos a infecções oportunistas e até ao surgimento de algum tumor.
Além disso, em casos de insuficiência cardíaca, como o de Faustão, o coração pode ser incapaz de bombear o sangue em quantidade adequada, prejudicando a distribuição no organismo e afetando outros tecidos, especialmente a parte renal.
“Nessa situação, o próprio corpo vai priorizar a irrigação dos órgãos mais nobres como o cérebro. O afluxo de sangue para o rim fica comprometido e, consequentemente, sua função. Isso é bastante comum e conhecido como síndrome cardiorrenal”, afirma Diego Gaia, chefe da Cardiologia do Hospital Santa Catarina – Paulista.
Antes do transplante de rim desta segunda, Faustão estava fazendo sessões de hemodiálise desde o ano passado. O transplante de coração ocorreu em 27 de agosto do ano passado.
Faustão lidava com uma insuficiência cardíaca desde 2020, o que o levou a ser incluído em 2023 na fila única de transplantes, um serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) orientado em São Paulo pela Secretaria de Estado da Saúde.
O critério de prioridade para receber o transplante leva em consideração o tempo de espera, a tipagem sanguínea e a gravidade do caso. Antes do transplante, Faustão ficou três semanas internado à espera de um doador compatível e, 10 dias após a alta da cirurgia, fez nova internação devido a complicações pós-operatórias.
Segundo Gaia, o maior risco inicial para um transplantado é a rejeição do órgão, o que torna o uso de medicação indispensável.
“Por se tratar de um órgão pertencente a um doador, existe a possibilidade do corpo do receptor reagir contra o novo coração comprometendo sua função. Por isso é importante o uso de medicações imunossupressoras que impedem ou diminuem o risco da rejeição ocorrer”, diz o cardiologista chefe.
Desse modo, doenças que em um indivíduo sem transplante não seriam uma ameaça, podem se tornar um problema para os transplantados, podendo inclusive levar à morte em casos mais graves.
Para evitar esses problemas após o transplante, o paciente precisa fazer exames de rotina e estar atento ao aparecimento de sinais de insuficiência cardíaca, como falta de ar e diminuição da capacidade de atividades, que são indicativos de uma possível rejeição. “Além disso, sinais de infecção também precisam ser observados, como manchas na pele, boca, tosse, febre, queda do estado geral”, pontua Gaia.
Heron Rached, médico cardiologista, destaca que no pós-transplante de coração, além da rejeição do órgão, pode ocorrer ainda vasculopatias (aterosclerose que acomete os vasos sanguíneos), arritmias, insuficiência renal e disfunções no sistema digestivo, sendo que infecções podem levar a um quadro de septicemia.
“Em geral, quando um paciente é submetido a transplante de coração, já existe um comprometimento subclínico da função dos rins. Alguns pacientes recuperam essa função após o transplante, outros, dependendo das complicações, pioram essa função”, diz Rached.
A perda da função renal, de acordo com o médico, pode estar relacionada ao processo de aterosclerose, ao uso dos imunossupressores e mesmo à diminuição das forças de contração do coração transplantado.
DANIELLE CASTRO / Folhapress