De Beyoncé a Ana Castela, estética cowboy retoma seu lugar no mundo pop

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Beyoncé anunciou o lançamento de “Renaissance Act II”, o intitulado “Act II: Cowboy Carter”, para esta sexta (29), dando início a sua nova era, a country. Essa estética já se destacava visualmente na turnê e no primeiro ato do disco “Renaissance”, e em outros trabalhos dela, como a faixa “Daddy Lessons”, do premiado “Lemonade”, de 2016. Esse gênero não é uma novidade, especialmente na cultura norte-americana, mas, nos últimos anos se intensificou no mundo pop –principalmente entre artistas negros.

O country ganhou ainda mais força com um dos desfiles mais recentes da Louis Vuitton, criada pelo diretor criativo (e músico) Pharrell Williams. A nova coleção causou um alvoroço na internet e voltou todos os holofotes para a Semana de Moda Masculina, que aconteceu em Paris, em janeiro. Fugindo das básicas silhuetas que dominam as roupas de homens, Pharrell trouxe referências oitentistas e uma bela homenagem ao Velho Oeste norte-americano, bebendo da fonte do western. Camisas de cowboy, chapéus, jeans, couro e cintos marcantes, algo visto nos mais recentes looks de Beyoncé (que usou peças da Louis Vuitton no Grammy deste ano).

“Quando você vê cowboys retratados, vê apenas algumas versões. Você nunca realmente consegue ver como alguns dos cowboys originais pareciam. Eles pareciam conosco. Pareciam comigo. Eram negros e eram nativos americanos”, a consultora e pesquisadora de moda do Bureau de Estilo, Carol Garcia, parafraseia a citação de Pharrell Williams nos bastidores do desfile da Louis Vuitton.

Beyoncé e Pharrell Williams foram os responsáveis pelo efeito western nos primeiros meses de 2024. Entretanto, lá em 2019, o rapper Lil Nas X surgiu com uma roupagem completamente glam e futurista desse gênero. “Old Town Road”, música com o ícone do country norte-americano Billy Rae Cyrus (pai da Miley Cyrus), e “Montero” traduzem bem essa fusão, que une moda com música.

“Essa releitura afrofuturista do movimento cowboy core, repleta de beleza e resgate ancestral é um manifesto, uma retomada da estética, incorporada a elementos contemporâneos, porém em uma narrativa que inclui as pessoas pretas”, explica a stylist e figurinista Yakini Rodrigues. Ela cita a relevância de grandes artistas trazerem os holofotes para fatos importantes da história afro-americana. O mais recente single de Beyoncé, “16 Carriages” aborda o apagamento cultural, pontua Yakini.

Garcia pontua que outras marcas, como Prada, Dries Van Noten, Wales Bonner, Diesel, também carregam essas referências em suas coleções mais recentes. “É uma tendência que volta de maneira bastante literal, ainda que com um toque de sofisticação e modernidade nas modelagens e materiais. Já nas fast fashion, só neste ano, nos Estados Unidos e no Reino Unido lançaram 240% mais estilos novos de botas de cowboy e camisas de denim do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a empresa de inteligência de varejo Edited.”

Para além das passarelas, a estética reforça sua marca na TV com uma das séries de sucesso do momento, “Yellowstone”, e com as primeiras temporadas de “Westworld”.

O movimento acontece, naturalmente no cinema, vide o mais recente filme de Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”, que além do lado faroeste, tem as referências indígenas dos povos nativos-americanos. Já Pedro Almodóvar visa mostrar o lado latino da estética com o média-metragem “Estranha Forma de Vida”, que tem o diretor criativo da Saint Laurent, Anthony Vaccarello, assinando o figurino do western, estrelado por Pedro Pascal e Ethan Hawke.

A estética cowboy, ou western, se faz presente em Hollywood e na moda há muitos anos. No entanto, sempre foi representada de forma embranquecida.

“Enquanto os cowboys arquetípicos na tela são retratados como brancos, historiadores estimam que um em cada quatro cowboys era, na verdade, negro”, explica Carol Garcia. “Uma releitura com influências afrofuturistas busca corrigir essa narrativa e destacar a visibilidade da população negra”, diz a pesquisadora.

Trazendo o recorte para o Brasil, um dos maiores nomes da música atual é a sertaneja Ana Castela, mostrando que o estilo boiadeira veio para ficar. Sempre com um chapéu de cowboy e muito brilho, a cantora mostra que carrega essa estética de vaqueira glam de uma forma mais regional. Em 2023, ela foi a artista mais ouvida no Spotify, junto com Henrique & Juliano e Marília Mendonça, inseridos no gênero country também.

Carol Garcia reflete também sobre como as tendências de moda são diversas e podem coexistir atualmente, não se limitando apenas ao Brasil ou ao estilo “cowboy core”.

A música pop exerce uma grande influência, assim como o sertanejo para certos grupos. Mas essa percepção pode variar dependendo do contexto. Um exemplo disso, é a influência de Beyoncé nos looks de Carnaval. Os chapéus de cowboy e elementos dos anos 1980 brilharam em fantasias de foliões no país, referências ao visual da cantora na tour Renaissance.

RAÍSSA BASÍLIO / Folhapress

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