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De origem biológica, autismo apresenta desafios para diagnóstico preciso

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Dificuldade de socialização, transtorno de comunicação, interesses restritos e questões sensoriais. Esses são alguns dos sintomas comuns a pessoas com autismo, e a apresentação desses padrões é a principal forma de diagnosticar a condição atualmente. No entanto, especialistas defendem a importância de se atentar a marcadores biológicos associados ao autismo, mesmo que ainda não esteja claro quais são esses marcadores.

O autismo começou a ser visto como uma condição de saúde passível de diagnóstico na década de 1940, afirma Maria Luísa Magalhães Nogueira, professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e coordenadora da pós-graduação em autismo na mesma universidade. Inicialmente, a ideia principal foi que o autismo era uma condição de origem biológica, um distúrbio inato e raro.

Mas essa percepção passou por mudanças quando trabalhos apontaram a falta de afeto materno como uma possível causa do autismo. O austríaco Bruno Bettelheim, que não tinha experiência em medicina ou psicologia, foi um dos principais nomes por trás dessa teoria. Ele desenvolveu essa hipótese a partir da sua experiência como prisioneiro de um campo de concentração nazista.

“Assim como os colegas dele de prisão adoeciam pela falta de contato, de afeto e de proteção, as crianças autistas eram resultado também de falta de cuidado materno”, explica Nogueira em referência ao pensamento de Bettelheim.

Anos depois, a concepção de que o autismo tem base biológica voltou à tona e continua sendo um importante fator para explicar a causa da condição. No entanto, a medicina ainda não consegue explicar totalmente a relação entre genética e autismo. Nogueira menciona o caso de gêmeos univitelinos, aqueles que compartilham o mesmo material genético, em que um apresenta um quadro de autismo e o outro, não.

Ana Luiza Martins, professora associada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisadora das causas genéticas do autismo, acredita que um problema é buscar uma base biológica em comum para todas as demonstrações da condição. Por conta de diferentes possibilidades de quadros de autismo, a professora pensa que “não podemos esperar encontrar uma causa subjacente única ou mesmo predominante para o comportamento autista em todos os indivíduos”.

Essa hipótese levantada por Martins talvez explique porque, até o momento, não existem marcadores biológicos sólidos para o autismo. Alexandre Hatem, médico psiquiatra pela UFMG e especialista no atendimento de pacientes com o transtorno, afirma que marcadores biológicos fornecem informações precisas para entender o quadro de um paciente, auxiliando no diagnóstico, acompanhamento e escolha de tratamento.

Existem hipóteses de alguns marcadores. Proteínas, substâncias encontradas no microbioma intestinal e componentes inflamatórios em fluidos corporais como urina e sangue são alvo de investigação por cientistas. Padrões neurais atípicos também já foram observados em crianças com alto risco para a condição. Todos eles, no entanto, ainda carecem de evidências mais precisas, afirma Martins.

Consolidar esses marcadores seria importante por diferentes razões no caso de autismo. “Ainda sabemos pouco sobre como ocorre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) no cérebro e temos limitações em definir os prognósticos. Entender melhor isso através de biomarcadores seria fundamental para ter uma maior acurácia diagnóstica e também poderíamos investir melhor os recursos que realmente funcionariam para cada caso”, afirma Hatem.

Diagnóstico precoce seria uma das vantagens ligadas aos biomarcadores. Por exemplo, ao ter um diagnóstico precoce, é possível proporcionar um ambiente que controle a evolução do transtorno. Isso acontece porque, embora exista um fator genético da doença, a questão social é também relevante para o autismo.

Terapias de aprendizagem são exemplos. Esses componentes terapêuticos buscam aprimorar os estímulos sociais em crianças com autismo ou com risco para a condição. A ideia é que proporcionar esse tipo de ambiente pode melhorar as habilidades interativas e comunicativas dessas crianças, diminuindo os impactos que o transtorno causa nos menores.

Nogueira concorda que o aspecto ambiental é muito importante quando se fala de autismo. “Existe uma dimensão genética, mas a condição não é puramente genética, existem os atravessamentos culturais, como com os recursos efetivos que uma família consegue proporcionar para uma criança com autismo”, afirma a professora da UFMG.

SAMUEL FERNANDES / Folhapress

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