SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O encontro dos líderes do G20 reuniu, no Rio de Janeiro, um agregado de discussões caras à política e à diplomacia internacional. Juntou, na mesma medida, um rol de grandes momentos dignos da lembrança da cúpula na Cidade Maravilhosa.
A Aliança Global pelo Combate à Fome e à Pobreza foi ponto central dessa cúpula. Pelas tangentes, no entanto, alguns líderes deixaram suas marcas na narrativa do encontro.
FOTO DE FAMÍLIA QUASE COMPLETA
A “foto de família”, tradição mantida nesta cúpula, reúne todos os líderes presentes no evento. Ou deveria. A primeira versão, da segunda-feira (18), foi produzida sem a presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e do premiê do Canadá, Justin Trudeau, que estavam em reunião, e da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que também se atrasou.
A solução encontrada foi repetir a dose nesta terça-feira (19). Os três ausentes da véspera participaram desta vez, mas outros líderes também ficaram de fora do retrato na segunda tentativa.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, o presidente da Argentina, Javier Milei, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, não estão no segundo registro.
TRETA COM MILEI
O presidente Lula fez seu papel de anfitrião e recebeu um a um os líderes no Museu de Arte Moderna (MAM). Houve sorrisos, abraços e outros cumprimentos mais formais, mas um em especial chamou mais a atenção.
Javier Milei, presidente argentino que já despejou más palavras contra o petista, foi recepcionado num tom mais protocolar e frio. O momento gerou repercussão, e a montagem feita pela Folha com os retratos oficiais deixou ainda mais evidente a diferença de tratamento.
A energia entre os dois líderes vizinhos refletiu simbolicamente as discussões prévias e as que estavam por vir. Os argentinos travaram oposição em pontos relacionados à igualdade de gênero, sustentabilidade e pobreza -o que poderia comprometer os consensos na declaração final.
Milei balançou, reclamou, mas acabou cedendo -embora não sem reiterar suas discordâncias.
OPINIÕES FORTES, NÃO, JANJA?
Durante painel do G20 Social -programação paralela à cúpula principal que reúne membros da sociedade civil-, a primeira-dama brasileira, Rosângela da Silva, a Janja, afirmou não ter medo de Elon Musk e, para provar, proferiu: “Fuck you, Elon Musk” -o equivalente a “vá se foder”.
Janja também havia criticado os vizinhos argentinos por sua atuação na pauta da equidade de gênero. ‘Não consigo pensar em algum país que se negue a assinar uma declaração dessa’, afirmou, ao fazer referência à oposição dos hermanos a trechos no documento final sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino.
E a primeira-dama também se irritou com o apelido -Janjapalooza- dado ao festival que ela impulsionou.
FLOPOU?
O nome oficial do Janjapalooza, como a primeira-dama fez questão de ressaltar, era Aliança Global Festival Contra Fome e a Pobreza. A organização mirou grandes eventos semelhantes, como Live Aid, mas acertou alguns níveis abaixo.
Um grupo de inúmeros artistas brasileiros consagrados foi reunido para movimentar a cena carioca nos dias de cúpula; a agitação gerada, no entanto, não pareceu ser das mais expressivas.
A organização avaliou a presença como satisfatória e não considerou o evento um fracasso. Poderia ter sido melhor, mas cumpriu o seu papel, dizem.
BIDEN NA FLORESTA
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitou o estado do Amazonas antes de vir ao Rio de Janeiro para a cúpula do G20. Na capital, Manaus, o democrata defendeu a revolução de energia limpa de seu país, citou a preservação da floresta e o combate à crise climática.
Em paralelo à visita, a Casa Branca anunciou mais um investimento de US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia, que se soma a outro de mesmo valor prometido em fevereiro de 2023. A meta, a princípio, seria atingir US$ 500 milhões em cinco anos. Prestes a encerrar seu mandato, o patamar fica longe do prometido.
Ao fim da entrevista coletiva em meio à floresta, Biden encerra sua fala e anda em direção à mata, em uma cena no mínimo curiosa e, em última interpretação, simbólica.
AMERICANO CORTOU CAMINHO
O edifício imponente do MAM, símbolo da arquitetura modernista brasileira, convidava os líderes presentes a uma subida de rampa. Ao fim dela, o cumprimento do presidente Lula os aguardava.
Para o homem mais poderoso do mundo -ainda que em final de mandato antes de ceder a Casa Branca a Donald Trump- o caminho foi diferente. Biden, 81, preferiu sair do sol e subir por um caminho paralelo, de elevador. Foi o único dos chefes de Estado que usou essa alternativa.
CHINESES NO RIO
O Rio de Janeiro por si só já é repleto de turistas. Com a realização do G20 e a vinda das inúmeras delegações internacionais, grupos ainda maiores marcaram seu lugar. Xi Jinping, líder da China, teve um hotel reservado somente para sua delegação.
Pela cidade, a pompa de seu país se alocou. Ora expressando apoio -o suposto motivo de sua vinda-, ora não muito feliz, um grupo de cerca de 50 pessoas coloriu de vermelho -com estrelas amarelas, é verdade- os arredores e caminhos da delegação chinesa.
CORRE, MACRON!
Há muito o que discutir e decidir em cúpulas como o G20; há tempo, de todo modo, para uma corrida apreciativa pela orla de Copacabana. O presidente da França, Emmanuel Macron, provou que acordar pouco tempo mais cedo já é suficiente para o exercício matinal.
Antes de se embrenhar no último dia de reuniões diplomáticas, nesta terça (19), Macron saiu de seu hotel -rodeado de seguranças, por óbvio- para se exercitar na Avenida Atlântica. Turistas e cariocas aproveitaram a aproximação para selfies e rápidos gritos.
O presidente ainda cumpriu agenda após as reuniões visitando a região da Pequena África, onde estão diferentes locais de memória e homenagem a africanos escravizados na zona portuária do Rio de Janeiro.
GABRIEL BARNABÉ / Folhapress