FOLHAPRESS – “Deadpool & Wolverine” está mais para um enterro de uma Marvel do passado do que a celebração da chegada dos mutantes X-Men –o que é surpreendente, mesmo o filme tendo se vendido desde o início como o reencontro dos personagens vividos por Ryan Reynolds e Hugh Jackman.
O tom de sátira aos super-heróis domina a sequência, que tem por alvo a venda dos estúdios da 21st Century Fox à Disney –um tema recente e caro aos fãs pela aquisição dos mutantes. Mas o longa também atende a um saudosismo por um capítulo encerrado pela compra, indo além da piada e abraçando o passado.
O alarde da vez é a chegada de Deadpool ao universo dos Vingadores. O protagonista fantasia sobre o Thor a todo momento e, no começo, exuma o cadáver do Wolverine de “Logan”, de 2017, para o usar como arma de combate.
Apesar dessas brincadeiras, “Deadpool & Wolverine” tem muito respeito pelo que veio antes. O filme de Shawn Levy segue o caminho de “Vingadores: Ultimato”, recriando a máquina de nostalgia e de entrega de cenas esperadas. Mas o saudosismo da vez envolve as adaptações fracassadas dos personagens da editora feitas no passado pela Fox.
A comédia debochada dos dois “Deadpool” ganha contornos anabolizados aqui, enquanto a metalinguagem abusa do literal –boa parte da trama acontece em um lixão, para ficar no exemplo. Ele é quase uma página da Wikipedia sobre o noticiário das produções da Fox nos anos 2000, ridicularizando os projetos que nunca aconteceram.
Nesse ponto, a continuação evita o caminho de “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, que fazia algo parecido com o passado do aracnídeo nas telonas. O longa prefere o riso à passagem de bastão, de olho nas expectativas que formou e que pode atender.
Ao mesmo tempo, o longa tem carinho pelos seus alvos. Na história, Deadpool e Wolverine buscam uma forma de salvar as suas famílias.
O momento ajuda a explicar o porquê desse tom emocional. Terceiro filme da série, “Deadpool & Wolverine” é a quarta incursão de Reynolds e a décima de Jackman como os personagens do título. Os dois atores não se despedem como em “Logan”, mas são o centro de uma celebração que diz respeito aos seus legados.
Por isso, a aventura aos poucos se transforma em uma maçaroca. Enquanto Deadpool metralha piadas e faz da quarta parede uma porta giratória, Levy aos poucos instaura um clima de ternura. O paradoxo é óbvio e até irônico, considerando que um dos vilões se chama Paradoxo –o que pode ser uma piada involuntária da história.
O limite entre a comemoração e a ridicularização fica para trás, tratado como um enigma inútil, e o ritmo doido exaure a comédia e o drama –a ação ainda deixa a desejar.
Para os estúdios Marvel, é ótimo, porque o processo vira uma forma de se livrar das comparações com as outras adaptações. O fã, também, deve se deliciar com cada velharia arremessada na tela.
O restante do público, enquanto isso, termina refém das comemorações alheias, que fazem tributo direto ao passado, incluindo as suas porcarias. Eis aí um problema da nostalgia –ela só faz sentido quando é boa.
DEADPOOL & WOLVERINE
Quando: Qui. (25)
Onde: Nos cinemas
Classificação: 18 anos
Elenco: Ryan Reynolds, Hugh Jackman e Emma Corrin
Direção: Shawn Levy
Avaliação: Regular
PEDRO STRAZZA / Folhapress