TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – Os três candidatos à Presidência de Taiwan –o governista Lai Ching-te e os oposicionistas Hou Yu-ih e Ko Wen-je– trocaram acusações durante duas horas e meia neste sábado (30), durante aquele que foi o único debate entre políticos programado para antes da eleição, marcada para o próximo dia 13.
O debate ocorreu à tarde, madrugada no Brasil, e foi organizado pela rede pública taiwanesa, com transmissão ao vivo por 11 outras emissoras e portais jornalísticos, inclusive o canal de notícias Taiwan Plus, com tradução simultânea para inglês.
Embora tenham lamentado o foco dado ao assunto no debate, os três usaram o tempo no ar para lançar e se defender de ataques referentes a propriedades de suas respectivas famílias, que já vinham sendo feitos nas redes sociais sociais e em veículos de imprensa na última semana.
Lai é suspeito de ter uma casa construída irregularmente; Hou, imóveis alugados por alto preço a estudantes; e Ko, uma fazenda adquirida para especulação. Os três negaram e defenderam políticas públicas para habitação. Ko chorou e foi confortado pelos outros dois.
O comerciário Wang Shih-Han, que acompanhou o debate com a Folha e é eleitor de Lai, disse que era esperado o foco nas propriedades. Criticou os “30 segundos de Ko soluçando”, sem responder direito. Descreveu Hou como o menos “eloquente”, além de falar hokkien taiwanês, variante do chinês, de menor alcance. E disse que Lai teve “danos colaterais” com as acusações ao atual governo.
O debate começou com Lai, do Partido Democrático Progressista, identificado pela cor verde, apontando Hou como pró-China e dizendo que ele reduziria a preparação armamentista da ilha se eleito. Também acusou Ko de ser personalista, “partido de um homem só”.
Hou, do Kuomintang ou Partido Nacionalista da China, azul, abriu com uma lista de críticas, concentrando-se em suposta corrupção no atual governo, em que Lai é vice-presidente.
O segundo destaque na lista foi o “escândalo dos ovos” importados do Brasil, com questionamentos sobre o custo e prazo de validade dos produtos. A escassez de ovos frente à sua alta demanda no mercado taiwanês tornou-se uma questão política ao longo deste ano, e em setembro, a importação desses alimentos do Brasil foi alvo de diversas controvérsias, provocando inclusive a queda do ministro da Agricultura.
Também Ko, do Partido do Povo de Taiwan, branco, citou os ovos ao afirmar que a escassez de produtos teria sido causada pelo governo verde, há oito anos no poder. Acrescentou críticas a pontos como Taiwan ter hoje “a menor taxa de natalidade no mundo”.
Hou respondeu depois ao questionamento de Lai sobre ser pró-China, negando, mas repisando ser contra a “independência” da ilha e cobrando a posição de Lai. Este falou que “a soberania e independência de Taiwan pertencem aos seus 23 milhões de habitantes, não à República Popular da China”.
Nesta campanha, o candidato governista se distanciou da afirmação que fez em 2017, de ser um “trabalhador pragmático pela independência”, relembrada por Hou. Lai afirmou que “independência hoje se refere ao consenso em Taiwan de que não faz parte da República Popular da China, e que já é um país independente, chamado República da China”, nome oficial da ilha.
No debate, Hou disse que reativaria os contatos com a China continental e reafirmou seu apoio ao chamado Consenso de 1992 entre Pequim e Taipé, que defende a existência de “uma só China”, repetindo um dos motes de sua campanha. Mas negou ter aceito a fórmula “um país, dois sistemas”, que voltou a ser defendida pelo líder chinês Xi Jinping.
Ko, por sua vez, voltou a defender uma reaproximação comercial com a China continental, como tem feito, mas não política, neste momento. A retomada do comércio com Pequim tem sido uma das principais divergências entre Lai e os dois oposicionistas, que chegaram a anunciar uma candidatura única, depois abandonada.
Os levantamentos de intenção de voto mais recentes apontam vantagem para Lai, uma tendência que se mantém há meses, com Hou em segundo lugar. Nas pesquisas TVBS e TPOF, ambas divulgadas na sexta-feira, a diferença entre os dois candidatos é de quatro pontos percentuais, e na Formosa, divulgada na quinta, de onze pontos.
NELSON DE SÁ / Folhapress