SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro debate entre pré-candidatos a prefeito de São Paulo, ocorrido na noite desta quinta (8) na Band, foi marcado por exageros do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em feitos de sua gestão, omissão de Guilherme Boulos (PSOL) com relação à Venezuela e desvios de José Luiz Datena (PSDB) quanto ao seu projeto de governo.
O evento teve ainda distorções do ex-coach Pablo Marçal (PRTB) sobre uma condenação existente contra ele e uma imprecisão da deputada federal Tabata Amaral (PSB) acerca de um boletim de ocorrência registrado pela mulher de Nunes.
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NUNES EXAGERA SOBRE TER INCENTIVADO TRANSPORTE PÚBLICO
Questionado sobre o que faria para melhorar o trânsito na cidade, o atual prefeito afirmou que está “incentivando o transporte coletivo”. “Eu estou com a tarifa do ônibus congelada há quatro anos. Nós estamos fazendo muitas obras para poder melhorar inclusive a questão do ônibus”, declarou.
“Vamos fazer agora o BRT Radial Leste, já está licitado, contratado e assinado. [E também o] BRT Aricanduva. Estou fazendo a reforma dos corredores. Por exemplo se você pegar Itaquera-Líder, eu já entreguei. O corredor de reforma no Imirim, Amador Bueno, Interlagos e Itapecerica da Serra. Melhorar a questão da locomoção dos ônibus na cidade para poder incentivar o transporte coletivo.”
Em sua gestão, a malha de corredores de ônibus à esquerda cresceu apenas 4,1 km de 131,2 km para 135,3 km, referente a um trecho ampliado na zona leste. Ele exalta ter pintado 52 km de faixas à direita, medida considerada paliativa por especialistas. Por outro lado, Nunes foi o prefeito que mais gastou em asfalto nos últimos dez anos.
BOULOS SE OMITE SOBRE DITADURA NA VENEZUELA
As acusações de fraude nas eleições da Venezuela e a escalada repressiva pela ditadura de Nicolás Maduro foram abordadas por três pré-candidatos, Datena, Marçal e Nunes, em perguntas para Boulos, mas o deputado não respondeu em nenhuma das oportunidades sobre a sua opinião em relação ao tema.
Datena disse: “Depois eu quero saber se você é democrata, porque parece que não é. Quem apoia Maduro e a ditadura da Venezuela Você devia ser prefeito lá em Caracas”. Já Marçal sugeriu que Boulos “vive elogiando o Maduro”, enquanto Nunes afirmou que o deputado precisa “responder quem é Maduro”.
Boulos chegou a se defender a respeito de seu voto que absolveu o deputado André Janones (Avante-MG) da acusação de “rachadinha” na Câmara dos Deputados, pelo qual também foi criticado, mas não entrou no tema da Venezuela. Janones fez campanha intensa para Lula em 2022, que disse que “não tem nada de anormal” nas eleições do país vizinho.
MARÇAL DISTORCE FATOS SOBRE CONDENAÇÃO CONTRA ELE
Perguntado por Tabata sobre uma condenação existente contra ele, sobre uma operação da Polícia Federal da qual foi alvo e sobre um áudio em que o presidente do seu partido diz ser ligado à facção criminosa PCC, Marçal respondeu: “Não há condenação, se tiver eu deixo essa disputa imediatamente”.
Ele afirmou que a rival “se confundiu com sua heroína chamada Dilma Rousseff”, citou a condenação de Lula na Operação Lava Jato e a desafiou “a dizer o que que eu toquei, o que eu peguei, que eu devolvo”. Foi quando ele escalou na agressividade, chamou a deputada de adolescente e “jornalistazinha militante” e se referiu a Boulos como “comedor de açúcar”.
Marçal foi condenado em 2010 por participar de uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos em meados de 2005, quando tinha 18 anos. O grupo criava sites falsos de instituições financeiras, como a Caixa, disparava emails acusando vítimas falsamente de inadimplência e roubava informações.
De acordo com o Ministério Público Federal, Marçal capturava emails de vítimas, além de consertar os computadores dos criminosos. O ex-coach admite que colaborou com o grupo, mas diz que não tinha conhecimento dos atos ilícitos. Sua pena foi extinta em 2018 por prescrição retroativa.
DATENA INSISTE EM PROMESSAS GENÉRICAS PARA A CIDADE
O apresentador foi questionado por diferentes adversários sobre suas propostas de governo para São Paulo em áreas como saúde e educação, mas voltou a desviar do assunto com acusações aos pré-candidatos e a dar respostas genéricas, como já havia feito em outras entrevistas.
“Minha proposta para a saúde é muito simples. Você ter remédio e equipamentos de saúde. Funcionar pelo menos as UBSs [unidades básicas de saúde] mais duas horas por dia. […] Se possível pelo menos dois ou três equipamentos de saúde funcionando 24 horas por dia das subprefeituras de São Paulo”, declarou Datena.
Depois, ele foi instado por Nunes a dizer o que faria para ampliar os parques. “A gente gostaria de ter construções com áreas verdes”, disse e em seguida gaguejou. “A gente gostaria de ter mais parques na cidade, mas com licitações sérias e não entregar para qualquer um. Ônibus elétricos, de origem ecológica, […] mais árvores na cidade, porque a mudança climática é importante, eu sou extremamente ambientalista.”
TABATA COMETE IMPRECISÃO AO FALAR EM B.O. DE MULHER DE NUNES
Durante o debate, a deputada federal afirmou que “a esposa [de Nunes] lhe acusou de ter sofrido agressão, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher”. Ele então respondeu: “Eu nunca levantei um dedo para a minha mulher, que inclusive está aqui”.
No registro feito na delegacia em 2011, Regina Carnovale Nunes fala que o marido “não lhe dá paz”, “vem efetuando ligações proferindo ameaças” e “vai em sua casa onde faz escândalos e a ofende com palavrões”, mas não cita especificamente agressão física, como sugerido pela adversária.
A Folha de S.Paulo, porém, teve acesso em 2020 a publicações nas redes sociais em que o perfil de Regina relata brigas por pensão alimentícia, chama o político de bandido e responde ao comentário de uma pessoa que pede para ela ter cuidado: “Amiga tenho provas de que ele sempre me bateu e sempre foi um crápula”.
Posteriormente, ela disse que teve a conta hackeada.
Quando o caso foi revelado, Regina afirmou em nota que havia dito no boletim de ocorrência “coisas que não são reais”. Depois, durante a campanha de Covas, mudou a versão e disse não se lembrar de ter feito o registro. Durante sabatina do UOL e da Folha no mês passado, Nunes sugeriu que o B.O. foi forjado, o que foi refutado pela polícia.
JÚLIA BARBON E CAROLINA LINHARES / Folhapress