RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os países do G20 disseram ver “boas perspectivas” do chamado pouso suave para a economia global, mas alertaram sobre múltiplos desafios e riscos crescentes em meio a um cenário econômico de elevada incerteza.
Pouso suave é uma expressão usada para descrever uma situação de recuo da inflação com menor impacto possível na atividade econômica. O texto repete a linguagem acordada pelos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais em outubro, em Washington (EUA).
Desta vez, o texto não cita os motivos para o aumento dos riscos. No documento da trilha financeira, publicado no mês passado, havia menção a guerras e conflitos crescentes, fragmentação econômica, inflação mais persistente, impacto das mudanças climáticas, entre outros.
No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vem alertando para o ambiente externo desafiador. No último encontro, a autoridade monetária brasileira apontou como principal fator a incerteza nos Estados Unidos, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.
“Observamos boas perspectivas de um pouso suave da economia global, embora múltiplos desafios permaneçam e alguns riscos negativos tenham aumentado em meio à elevada incerteza”, diz trecho de documento obtido pela reportagem. Na versão a que a reportagem teve acesso, há uma indicação de que o parágrafo relativo à economia está fechado.
O texto repete que a atividade econômica se mostrou mais resiliente do que o esperado em muitas partes do mundo, mas que o crescimento tem sido “altamente desigual” entre os países, o que contribui para o risco de divergência econômica.
Os membros do G20 se dizem preocupados que as perspectivas de crescimento global a médio e longo prazo estejam abaixo das médias históricas. “Continuaremos a nos esforçar para reduzir as disparidades de crescimento entre os países por meio de reformas estruturais”, diz o texto.
A declaração fala ainda que os bancos centrais “permanecem fortemente comprometidos em alcançar a estabilidade de preços de acordo com seus respectivos mandatos.”
“Reiteramos nosso compromisso de promover ainda mais fluxos de capital sustentáveis e fomentar estruturas de políticas sólidas, notadamente a independência dos bancos centrais”, diz o documento, em trecho já usado pelos ministros de finanças.
No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a independência do Banco Central era “bobagem” e criticou reiteradas vezes o presidente da autoridade monetária brasileira, Roberto Campos Neto.
No comunicado, os países também reafirmam o compromisso de promover “um sistema financeiro aberto, resiliente, inclusivo e estável, que apoie o crescimento econômico e seja fundamentado na implementação completa, oportuna e consistente dos padrões internacionais acordados, apoiado pela coordenação contínua de políticas.”
Os documentos do G20 são importantes para apontar leituras e orientações comuns entre as maiores economias avançadas e emergentes do globo. O grupo representa cerca de 85% do PIB [Produto Interno Bruto] mundial.
NATHALIA GARCIA E RICARDO DELLA COLETTA / Folhapress