SANTIAGO, RS (FOLHAPRESS) – As metas para descarbonizar a aviação devem impactar a demanda do setor no Brasil se não forem acompanhadas de políticas públicas. É o que aponta Sergey Paltsev, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em estudo da instituição apresentado nesta quarta-feira (10) durante evento da Iata (associação internacional do setor aéreo, na sigla em inglês) em Santiago, no Chile.
De acordo com o estudo, o RPK (indicador que mede a demanda do mercado) pode cair cerca de 8% até 2050 no Brasil. No Chile, a queda deve variar entre 7% e 10%.
A pesquisa teve apoio da Airbus e da Latam e ainda é preliminar. Novos dados serão apresentados em breve.
No mundo inteiro, a meta é que o setor atinja a descarbonização até 2050. A maior aposta do segmento é a produção de SAF (combustível sustentável de aviação), que reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa em até 80%.
No entanto, representantes do setor pedem ajuda dos governos locais para arrefecer os custos dos combustíveis. Sem políticas públicas, o preço do SAF aumentaria, de acordo com Paltsev.
Segundo Paltsev, a ajuda do governo deve ser ampla, contemplado produtores e companhias aéreas.
Ele também disse que o mercado deve olhar para além do SAF e pensar alternativas para melhoras na eficiência operacional. “Não dá para pensar que vamos produzir SAF e a emissão de carbono vai zerar. Isso não vai acontecer”, diz.
Hoje, o uso de SAF ainda é escasso no setor. De acordo com a Iata, em 2023, o volume de SAF produzido no mundo havia superado o patamar de 600 milhões de litros o dobro do registrado no ano anterior.
O número, porém, correspondeu a somente 0,2% do uso global de combustível de aviação pela indústria.
Também no evento, o vice-presidente local da Iata, Peter Cerdá, disse que custos com o QAV (querosene de aviação) no Brasil representam 40% de toda a despesa operacional do setor brasileiro hoje. No resto do mundo, o índice gira em torno dos 30%.
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O jornalista viajou a convite da Iata
PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress