Denúncias de racismo crescem 50% em competições da Conmebol neste ano

PORTO ALEGRE, RS, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Libertadores e Sul-Americana, que entram nesta terça-feira (22) em suas fases decisivas, tiveram crescimento nas denúncias de racismo: o número de casos analisados é 50% em relação ao ano anterior.

Um levantamento do Observatório do Racismo aponta que 18 casos de denúncia de racismo ocorreram em partidas de competições continentais até agora em 2023. Em todo o ano de 2022 foram 12 casos.

Os últimos dois anos também tiveram uma explosão de casos: entre 2014 e 2021, foram registrados 39 casos, enquanto só em 2022 e 2023, o número chega a 30, deixando clara uma curva acentuada de crescimento.

“Temos um crescimento de denúncias de racismo em competições sul-americanas principalmente ligadas a jogadores brasileiros. Isso se dá pelo debate que fazemos no Brasil. Se olharmos para o futebol brasileiro, as denúncias também aumentaram. Principalmente pela conscientização que temos aqui. Temos discutido muito o racismo na sociedade e essa conscientização se reflete no futebol. Temos jogadores e torcedores denunciando, todos mais atentos e entendendo que o racismo não é só insulto, xingamento. O torcedor brasileiro é mais atento”, afirma Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

PENAS BRANDAS, QUANDO APLICADAS

Um dos fatores apontados como motivos para o crescimento nos casos é a impunidade: segundo os números do Observatório do Racismo, em 51 denúncias feitas entre 2014 e 2022, apenas 15 casos foram julgados e punidos. Em 2023, dos 18 casos, apenas oito foram julgados, com envolvidos punidos.

Toda vez que temos um caso de racismo num estádio de futebol com torcedores identificados mas sem punição, a mensagem que a gente percebe é que os racistas que vão para o estádio sabem que nada vai acontecer. A mudança que temos hoje é o torcedor brasileiro identificando isso e fazendo com que os racistas sejam presos quando o crime acontece no Brasil. Isso muda o comportamento e vemos mais denúncias. Mas, se não se pune o infrator, as pessoas acham que podem fazer o que quiserem. A impunidade é um dos motivos para os casos aumentarem”, diz Carvalho .

MAPA DO RACISMO

Entre 2014 e 2022, Brasil e Argentina são os países com mais denúncias, com 15 cada. Em seguida vem o Uruguai, com sete, e o Paraguai, com seis.

No Brasil, estão presentes no estudo sete denúncias em São Paulo, três no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, e uma na Bahia e em Minas Gerais.

Entre os times punidos, os argentinos Independiente e Boca Juniors são os que mais aparecem no trabalho, junto com os paraguaios do Olimpia, todos com duas punições.

O QUE PENSA A CONMEBOL

A Conmebol afirma que está preocupada com atos racistas e diz que toda manifestação neste tom, ou em qualquer forma de violência, é considerada totalmente inaceitável.

Em 2022, a entidade ampliou as penas aplicáveis em casos julgados de racismo nos estádios. A multa aos clubes aumentou e foi estabelecida a possibilidade de partidas serem realizadas com portões fechadas.

Recentemente, a Conmebol ainda firmou parceria com o Observatório do Racismo para realização de campanhas de conscientização, educação, consultoria e apoio na luta antirracista.

MARINHO SALDANHA E IGOR SIQUEIRA / Folhapress

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