Depois que ele se foi, nós morremos junto, diz mãe de Genivaldo em julgamento

ESTÂNCIA, SE (FOLHAPRESS) – Maria Vicente de Jesus, mãe de Genivaldo de Jesus Santos, prestou depoimento durante 15 minutos sob forte emoção nesta quarta-feira (27), no segundo dia de júri do caso e sem presença dos réus, no Fórum de Estância, em Sergipe. Genivaldo foi asfixiado em uma ação policial na cidade de Umbaúba (a 101 km de Aracaju), em 2022.

Os três ex-agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Kléber Nascimento Freitas e William de Barros Noia são acusados dos crimes de tortura e de homicídio triplamente qualificado.

O advogado Glover Castro, responsável pela defesa de William, alega que não houve intenção de praticar o crime de homicídio. José Rawlinson Ferraz Filho, advogado que faz a defesa de Paulo Rodolpho, reiterou a inocência do ex-policial e classificou sua prisão como uma grave injustiça.

A defesa de Kléber Freitas, representada pelo advogado Carlos Barros, disse que o julgamento vai esclarecer a verdade e que a atuação de seu cliente esteve plenamente alinhada ao cumprimento de suas funções como policial.

A mãe da vítima respondeu as perguntas feitas pelos procuradores do MPF (Ministério Público Federal) sobre como era a convivência com o filho e sobre como agora convive com sua ausência. Já a acusação fez apenas uma pergunta.

Maria Vicente entrou na sala de audiência por volta das 8h30 e contou sobre sua vida após a morte de seu filho. “Nós morremos junto com Genivaldo depois que ele se foi”, disse.

À reportagem, depois do júri, a mãe de Genivaldo falou ainda que a ausência do filho é muito dolorosa e a deixou ainda mais doente.

“À noite eu acordo lembrando do sofrimento que ele passou, porque foi uma morte muito triste”, afirmou.

“Ele era um filho muito bom, eu sofro todos os dias e me pergunto porque fizeram isso com meu filho. Me perguntaram se eles vieram me pedir desculpas, nunca os vi, nem na televisão tenho coragem de vê-los e, se vierem, me pedir, não desculpo, eu quero justiça”, reivindica a mãe.

Segundo ela, desde a morte, a família não recebeu nenhum apoio. Apenas duas cestas básicas foram enviadas pela prefeitura logo após a morte dele.

Ela diz que conta com ajuda de amigos para se deslocar até Estância. “Nós somos muito fracos [pobres] e não temos condições de estar aqui todos os dias, então qualquer ajuda a gente aceita.”

Os depoimentos devem seguir até o final do dia. A expectativa é de que nove testemunhas sejam ouvidas nesta quarta.

Na terça, primeiro dia de julgamento, prestou depoimento o sobrinho de Genivaldo, Walison de Jesus Santos. Ele presenciou a abordagem dele por ex-agentes da PRF.

“Estar aqui já é muito difícil porque eu tenho que relatar e reviver aquele momento. Mas o mais difícil é ver meu sobrinho [como ele chama o filho de Genivaldo] desenhar o pai morando no céu”, disse, emocionado.

Genivaldo tinha 38 anos, era diagnosticado com esquizofrenia e pai de um menino que na época tinha 7 anos. Ele foi morto em 25 de maio de 2022 quando policiais soltaram spray de pimenta e uma bomba de gás lacrimogêneo dentro do porta-malas da viatura em que ele foi colocado após uma abordagem. Na ocasião, ele havia sido parado por trafegar de moto sem capacete.

Antes de ser colocado na viatura, foi imobilizado, atingido com spray nos olhos, jogado ao chão e recebido chutes dos policiais. As investigações apontaram que a Genivaldo ficou 11 minutos e 27 segundos em contato com os gases tóxicos na parte de trás da viatura.

ELIENE ANDRADE / Folhapress

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