Derrite diz que parte da imprensa é canalha e trabalha a favor de criminosos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em discurso em defesa dos dez meses de sua gestão, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou, em evento na manhã desta quarta-feira (25), que parte da imprensa paulista é canalha, publica “fake news” e trabalha a serviço do crime.

Os ataques foram feitos durante palestra em evento privado, o 3º Congresso de Operações Policiais (COP), realizado na capital paulista, cuja plateia era formada por integrantes das forças policiais e por empresários ramo de armas e tecnologia voltadas às operações policiais.

O secretário da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou no balanço o combate ao tráfico de drogas, em especial no enfrentamento na cracolândia, na região central, e também ressaltou a Operação da Escudo, na Baixada Santista, que deixou ao menos 28 mortes.

Foi ao falar da operação no litoral que Derrite fez os ataques à imprensa, afirmando que parte das notícias veiculada era falsa.

“Os senhores acham que aquela conversa furada de uma imprensa, uma parte da imprensa canalha, que solta fake news dizendo que o indivíduo foi torturado, arrancaram as unhas e depois executado, nenhum laudo do Instituto Médico Legal apontou hematomas, muito menos sinais de tortura”, afirmou Derrite.

Nesse mesmo contexto, o secretário fez ligação dos jornalistas com criminosos. “Como diria um ex-comandante meu: esses indivíduos, não é que eles torcem para o outro lado. Eles trabalham a favor do crime, esses covardes”, prosseguiu o secretário da Segurança.

Em setembro, após missão de emergência no litoral paulista, o Conselho Nacional de Direitos Humanos recomendou que a gestão Tarcísio interrompesse imediatamente a Operação Escudo e listou em relatório preliminar 11 relatos de supostas violações que incluem assassinatos sumários, sequestro e remoções forçadas sem mandado judicial.

Derrite foi ovacionado quando afirmou que criminosos que atentarem contra a vida de policial civil ou militar serão caçados. “Quando eu falo ser caçado, preferencialmente será preso. Eu sei que tem órgãos na imprensa aí que estão loucos para soltar uma notinha”, disse.

Embora tenha falado por cerca de 40 minutos, o secretário não abordou os trabalhos feitos ou propostas para tentar melhorar a segurança nas escolas. Na segunda (25), a capital paulista sofreu o segundo atentado fatal em sete meses.

Deputado licenciado pelo PL e aliado da família Bolsonaro, Derrite, em tom de campanha, saiu em defesa do ex-presidente.

“Não é possível que em 2023, tenha gente que ainda pense no discurso de que, olha, a culpa da criminalidade é que o presidente Bolsonaro flexibilizou [o armamento]. Isso é uma coisa de quem é cego, ou é enviesado, ou não sabe nada de segurança pública. Dessas 119 armas, nenhuma arma é do atirador, coronel, ou secretário. Todas do mercado ilícito”, falou Derrite.

A reportagem apurou que homens das polícias Civil e Militar foram convocados a comparecer à palestra. O auditório recebeu o maior público durante a explanação do secretário, grande parte com uniforme.

Derrite esteve acompanhado do comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas, e do delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur José Dian.

O evento, embora tenha caráter privado, foi apresentado pelos três como a oportunidade de integração entre as policiais e troca de experiências. Questionado se os oficiais foram convocados e também se a presença deles poderia trazer algum prejuízo ao patrulhamento, o trio não respondeu essas perguntas.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirma que Derrite foi convidado para o congresso e que “os demais policiais e academias de polícia puderam realizar inscrição voluntária para participar do evento”.

“O COP, assim como outros congressos com profissionais do setor, conta com palestras que podem auxiliar na formação dos profissionais”, diz a pasta.

O evento foi organizado por João Sansone, que na internet se diz patriota, empreendedor vocacionado e obstinado defensor da atividade policial e dos direitos de liberdade.

O sociólogo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que o evento não tem tradição na área e é mais uma feira de negócios. “Algo recente e muito ligado ao mundo das armas”, disse.

CARLOS PETROCILO E ROGÉRIO PAGNAN / Folhapress

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