SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, lamentou nesta sexta-feira (5) a morte de Edneia Fernandes Silva, 32, mãe de seis filhos que morreu em Santos, no litoral paulista, numa ação policial da Operação Verão.
Foi a primeira vez que o secretário comentou publicamente a morte de Silva, que aconteceu no último dia 27. Ela foi uma das últimas vítimas da operação da PM paulista, que deixou 56 mortos e foi encerrada na segunda (1º).
Na terça (2), o secretário afirmou que não sabia que o saldo oficial de mortes da operação tinha chegado a esse total. Nesta sexta, ele voltou a afirmar que a operação cumpriu seus objetivos de “asfixiar financeiramente o crime organizado” e não fez reparos ao alto índice de letalidade.
A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) não atribui a morte de Silva à PM apesar de testemunhas afirmarem que o único tiro teria partido dos policiais e diz que ainda é necessário investigar o caso para ter certeza sobre a autoria do crime.
“Se o crime organizado não estivesse instalado da maneira como se instalou no litoral, eu tenho certeza que isso não teria acontecido. Mas de qualquer forma é lamentável, e a gente fica triste, deixo registrado nossos sentimentos”, disse Derrite.
O secretário também comentou a conduta de PMs que agrediram um jovem com golpes de cassetete e um cadeirante, com chutes, durante uma abordagem em Piracicaba, no interior paulista. Ele disse que os policiais descumpriram os protocolos operacionais da própria Polícia Militar durante a ação, mas também afirmou que seu afastamento das ruas não é um “castigo”, e sim uma fase de reforço do treinamento.
“Foi um erro, eles cometeram um erro. Aquilo não é o procedimento correto, mas a gente tem de entender o contexto geral”, ele afirmou. “[Os PMs envolvidos] estão afastados temporariamente das atividades operacionais? Sim. Mas para quê, como castigo? Não. Eles estão passando por 15 dias de treinamento intensivo sobre procedimentos operacionais, para que eles não mais cometam falha procedimental.”
As declarações de Derrite, que é cotado para a disputa de uma vaga ao Senado em 2026, representam uma mudança em relação a discursos recentes. Na terça (2), ele lembrou das mortes de três policiais no litoral e afirmou que “essa é a vida real, não o mundo utópico de ‘olha, teve número xis de mortes'”.
Ele disse que o caso de Piracicaba deve motivar uma rodada de treinamento de policiais militares no interior do estado. Essa rodada de treinamento para reforçar as regras de abordagem a suspeitos e de legislação.
“Vamos pegar policiais das tropas de elite, do Gate, da Rota, do Choque, e esses policias vão até as regiões metropolitanas do interior, começando por Piracicaba e não é coincidência, é justamente para aproveitar esse fato em que houve uma falha procedimental do policial, levá-los [ao interior] e vamos treinar a abordagem policial, vamos fazer um nivelamento de legislação policial para todos”, afirmou o secretário.
Integrantes de alguns desses batalhões especializados, como Rota e Choque, estão envolvidos justamente nos casos em que há denúncia de assassinato de pessoas desarmadas e tortura nas operações Escudo e Verão, na Baixada Santista, desde o ano passado. Dois PMs da Rota tornaram-se réus, sob acusação de terem tentado manipular as gravações de câmeras corporais e forjar provas.
Sobre esses casos, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) tem dito que “todas as ocorrências dessa natureza são rigorosamente investigadas pelas polícias Civil e Militar, com a supervisão das respectivas corregedorias e o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário”.
Derrite foi questionado sobre uma declaração do ouvidor das polícias, Cláudio Aparecido da Silva, que enxerga uma situação de descontrole das tropas, mas não comentou diretamente a afirmação.
“Eu confio no treinamento e conheço”, ele respondeu. “Nossa formação é muito sólida, é a polícia militar do Brasil que tem a maior grade curricular de direitos humanos para sua formação.”
OPERAÇÃO MAIS LETAL DESDE O CARANDIRU
A primeira fase da Operação Verão começou em 18 de dezembro, com foco no reforço da segurança das cidades do litoral durante a alta temporada de verão. E entrou em uma nova fase após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35, no dia 2 de fevereiro ele foi assassinado durante patrulhamento em uma favela de palafitas na periferia de Santos.
Após Derrite dizer não reconhecer excessos por parte da PM, a Ouvidoria da Polícia disse ter encaminhado ao governo do estado 27 queixas de abusos na operação entre janeiro e fevereiro.
Diante da violência que atinge a região, organizações de direitos humanos denunciaram na ONU as ações da PM no litoral. O governador chegou a dizer “não estar nem aí” para as possíveis denúncias de violações apresentadas para o colegiado internacional.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que a operação vivia um período de dez dias sem mortes quando o Tarcísio fez essa declaração. As ações letais recomeçaram no dia seguinte, e deixaram mais 19 vítimas.
TULIO KRUSE / Folhapress