PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Foi rápido, mas a seleção feminina de vôlei sentado de Ruanda teve um breve momento para vibrar nos Jogos de Paris no sábado (31).
Aconteceu no final do segundo set contra a Eslovênia, quando a equipe africana venceu por 25 a 23, para alegria das jogadoras, que pularam e comemoraram a parcial quase como título –e foram apoiadas pela torcida, que compareceu em bom número na Arena Paris Norte.
A equipe ruandesa, porém, não tem muito o que celebrar. A seleção está desfalcada da levantadora Claudine Bazubagira, 44, desaparecida misteriosamente em solo francês desde o dia 20 de agosto. O nome da atleta, antes não divulgado, foi revelado nos últimos dias por alguns veículos franceses, como o Le Parisien.
Na derrota de 3 sets a 1 para a Eslovênia (25/19, 23/25, 25/14 e 25/22), a seleção africana voltou a perfilar 11 jogadoras na execução do hino do país –uma atleta a menos que as rivais–, algo que já havia acontecido na partida perdida para o Brasil. Após a segunda rodada, as africanas estão praticamente eliminadas.
No sábado (31), após a derrota, as jogadoras passaram pela zona mista sem querer conversar com a imprensa. A única a parar foi a ponteira Solange Nyiraneza, que também não falou sobre a colega.
Claudine Bazubagira estava com a seleção na fase final da preparação, em Courbevoie, na região do Altos do Sena, entre Paris e Versalhes. Ela saiu para jantar perto das 19h, em um restaurante próximo ao local em que estava hospedada, e nunca retornou ao seu quarto.
Só uma semana depois o desaparecimento foi denunciado pelo presidente do comitê olímpico do país africano, Theogene Uwayo. O Ministério Público de Nanterre abriu uma investigação apenas na quarta-feira (28), poucas horas antes da cerimônia de abertura, realizada na praça da Concórdia.
A embaixada de Ruanda também acompanha o caso, ainda sem mais informações divulgadas.
Praticamente eliminada, a seleção africana volta à Arena Paris Norte nesta segunda (2) para enfrentar as canadenses, que perderam no sábado para o Brasil.
“Agora está difícil, mas vamos lutar. Se ganharmos do Canadá, teremos uma chance”, disse Nyiraneza.
A jogadora de 28 anos cresceu no país à sombra da guerra civil e perdeu vários parentes na época do genocídio em Ruanda. Seus pais morreram após um assalto quando ela tinha cinco meses. Assim, ela e o irmão foram criados pela irmã mais velha.
“O vôlei sentado salvou a minha vida. Se não fosse o esporte, não sei o que teria sido de mim”, disse a atleta, que participou das Paralimpíadas nas edições Rio-2016 e Tóquio-2020. Hoje, ela usa o dinheiro que consegue com o esporte para ajudar a irmã.
SANDRO MACEDO / Folhapress