Desemprego recua a 6,9% e volta ao menor nível da série para o 2º trimestre

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,9% no segundo trimestre deste ano, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o resultado, o indicador retornou ao menor patamar da série histórica para o intervalo de abril a junho, que também foi registrado dez anos atrás, em 2014 (6,9%).

A taxa estava em 7,9% no primeiro trimestre de 2024. A série da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) começou em 2012.

Considerando os diferentes trimestres do levantamento, a menor taxa de desocupação ocorreu no quarto trimestre de 2013 (6,3%), antes de a economia brasileira mergulhar em recessão.

Já o maior patamar (14,9%) foi registrado nos períodos até setembro de 2020 e março de 2021, quando o mercado de trabalho amargava os impactos da pandemia de Covid-19.

O novo resultado (6,9%) veio em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro. A previsão dos analistas consultados pela agência Bloomberg também era de 6,9%.

O número de desempregados foi estimado pelo IBGE em 7,5 milhões no segundo trimestre deste ano. Isso representa uma redução de 12,5% (menos 1,1 milhão) ante o período até março, além de uma baixa de 12,8% (menos 1,1 milhão) na comparação com um ano atrás.

A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo nas estatísticas oficiais.

POPULAÇÃO COM TRABALHO RENOVA RECORDE

A coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, disse que a queda do desemprego está associada ao aumento significativo da população ocupada com algum tipo de trabalho.

No segundo trimestre, o número de pessoas ocupadas foi estimado em 101,8 milhões. Trata-se do novo recorde da série. O crescimento foi de 1,6% no trimestre (mais 1,6 milhão) e de 3% em um ano (mais 2,9 milhões).

Beringuy chamou atenção para um “efeito cumulativo” da melhoria do mercado de trabalho nos últimos períodos de análise.

Segundo a pesquisadora, a volta de atividades presenciais após a pandemia e o desempenho positivo de indicadores macroeconômicos beneficiam esse movimento.

“É um mercado de trabalho que vem respondendo satisfatoriamente à melhoria do quadro macroeconômico geral”, declarou.

A técnica também lembrou que, tradicionalmente, o desemprego costuma cair no segundo trimestre, após alta no início do ano.

A Pnad abrange tanto atividades formais quanto informais. Ou seja, contempla desde os empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.

O IBGE afirmou que, novamente, o número de empregados do setor privado foi recorde: 52,2 milhões.

O resultado, disse o instituto, foi impulsionado pelas novas máximas dos contingentes de trabalhadores com carteira (38,4 milhões) e sem carteira (13,8 milhões).

RENDA VOLTA A SUBIR

Outro destaque da pesquisa foi o crescimento da renda média habitual dos ocupados, estimada em R$ 3.214 por mês. Na série histórica da pesquisa, valores mais altos do esse só foram verificados durante a pandemia.

À época, porém, o rendimento médio foi impulsionado por uma mudança na composição da população ocupada, e não por uma melhoria macroeconômica, por exemplo.

A crise sanitária expulsou do mercado principalmente os informais, que costumam ganhar menos. O reflexo disso foi a alta da média de renda dos profissionais que permaneceram na ativa. O recorde do indicador na Pnad foi registrado no trimestre até julho de 2020 (R$ 3.255).

Ao marcar R$ 3.214 no segundo trimestre de 2024, o rendimento cresceu 1,8% frente aos três meses anteriores (R$ 3.158). Também avançou 5,8% na comparação com um ano antes (R$ 3.037). Os dados são divulgados em termos reais, ou seja, corrigidos pela inflação.

De acordo com Beringuy, uma combinação de fatores explica o aumento da renda. A inflação em nível mais controlado do que em períodos anteriores e a geração de vagas formais fazem parte da lista.

Do total de 1,6 milhão de novos ocupados ante o primeiro trimestre, uma parcela menor, de 380 mil, estava em vagas informais, sem carteira ou CNPJ.

A massa de rendimento, conhecida como a soma dos salários, atingiu novo recorde (R$ 322,6 bilhões).

AVALIAÇÃO DE ANALISTAS

Parte dos economistas pondera que o crescimento contínuo da renda pode dificultar a trégua da inflação de serviços. Em tese, os sucessivos ganhos de poder de compra podem pressionar a demanda e, consequentemente, os preços.

O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC (Banco Central), divulga nesta quarta o patamar da taxa básica de juros (Selic), que serve como instrumento de controle da inflação. A expectativa do mercado é de que o colegiado mantenha a Selic em 10,5% ao ano.

Na visão de Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, para que os ganhos salariais sejam mantidos e esse crescimento se sustente, seria importante um “aumento na eficiência da economia brasileira”.

“O crescimento sustentável do país dependerá de ganhos maiores de produtividade”, afirma.

Conforme Salles, a taxa de desemprego deve permanecer relativamente estável e encerrar o ano perto de 7%. Isso, diz, tende a contribuir para um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024 acima da projeção atual do banco (2,2%).

“Sabemos que é repetitivo, mas os dados da Pnad seguem revelando um quadro bastante robusto do mercado de trabalho doméstico”, aponta relatório da Kínitro Capital.

Para a gestora de recursos, a taxa de desemprego em baixa reforça um cenário de crescimento do PIB acima do consenso das previsões em 2024.

A Kínitro diz estar retomando sua projeção de antes das enchentes no Rio Grande do Sul (2,5%). A gestora também vê suporte da ocupação e da renda em alta para o consumo das famílias.

A taxa de desemprego já havia marcado 7,1% no trimestre encerrado em maio. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre períodos com meses repetidos, como é o caso dos intervalos finalizados em maio e junho.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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