RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Com o aumento da procura por trabalho no início do ano, a taxa de desemprego do Brasil subiu a 7,8% no trimestre até fevereiro, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O indicador estava em 7,5% nos três meses anteriores, encerrados em novembro de 2023, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
A leve alta era esperada por economistas, que ainda enxergam sinais de um mercado de trabalho aquecido, como o avanço da renda.
Apesar do crescimento, a taxa de desemprego de 7,8% é a menor para o trimestre até fevereiro desde 2015 (7,5%).
O resultado veio em linha com a mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg também esperavam 7,8%.
A coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, associou o avanço da taxa a pessoas que, eventualmente, tinham interrompido a busca por trabalho e que voltaram a procurar ocupação nos meses iniciais deste ano.
Trata-se de um movimento que costuma ocorrer nesse período ao longo da série histórica. “O resultado, de modo geral, reprisa movimentos registrados em anos anteriores”, disse Beringuy.
BRASIL TEM 8,5 MILHÕES DE DESEMPREGADOS
O número de desempregados aumentou 4,1% no trimestre até fevereiro, para 8,5 milhões. O contingente era de 8,2 milhões nos três meses anteriores.
De acordo com o IBGE, esse foi o primeiro aumento da população desocupada desde o trimestre finalizado em abril de 2023. No período até fevereiro do ano passado, o crescimento havia sido maior, de 5,5%.
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem ocupação e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo nas estatísticas oficiais.
A Pnad abrange atividades formais e informais, incluindo desde empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.
A população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimada em quase 100,3 milhões até fevereiro. Assim, não apresentou uma variação estatisticamente significativa na comparação com o trimestre anterior (100,5 milhões), afirmou o IBGE. A baixa foi de 0,3%.
RENDA SEGUE EM ELEVAÇÃO
Já a renda da população ocupada seguiu em alta. O rendimento real habitual de todos os trabalhos foi de R$ 3.110 até fevereiro.
O valor representa um avanço de 1,1% ante o intervalo até novembro (R$ 3.076) e de 4,3% na comparação com igual período de um ano antes (R$ 2.982).
Beringuy afirmou que o crescimento dos salários está associado a fatores como a criação de vagas formais nos últimos meses. Empregos desse tipo costumam pagar mais do que postos sem carteira assinada ou CNPJ.
No trimestre até fevereiro, o número de empregados no setor privado com carteira (exceto domésticos) chegou a 37,995 milhões.
A categoria não teve uma variação significativa (0,7%) ante novembro (37,727 milhões), mas renovou o recorde de toda a Pnad, iniciada em 2012, indicou o IBGE.
Outra máxima foi registrada pelo indicador que mede a soma dos salários recebidos pela população ocupada. A chamada massa de rendimento real habitual renovou seu recorde ao chegar a R$ 307,3 bilhões até fevereiro.
O avanço ante novembro (R$ 304,3 bilhões) foi de 0,9%, o que não é uma variação estatisticamente significativa, segundo os critérios da pesquisa do IBGE. No trimestre anterior, o aumento havia sido de 3,2%.
Para a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, os dados ainda mostram um mercado de trabalho aquecido.
Segundo ela, a leve alta do desemprego não representa uma tendência para os próximos meses, porque fevereiro é um período no qual o indicador tradicionalmente aumenta.
“O fato é que a taxa permanece em um patamar historicamente baixo para o padrão brasileiro”, diz.
Moreno, contudo, afirma que o cenário de salários elevados e desemprego baixo pressiona a inflação de serviços. Isso, avalia a economista, traz desafios para a convergência da inflação à meta.
“Os dados da Pnad seguem mostrando um mercado de trabalho resiliente”, afirma João Savignon, diretor de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.
De acordo com ele, os números seguem corroborando um horizonte de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) acima do consenso atual para 2024.
“Com a ocupação e a renda nesses níveis, há um suporte ao consumo das famílias e, especificamente, do setor de serviços, mesmo considerando a saída do efeito positivo do agronegócio e a política monetária ainda restritiva no país”, aponta Savignon.
DESALENTO TEM PRIMEIRA ALTA DESDE 2021
Apesar do desemprego em patamar considerado baixo por analistas, o número de pessoas desalentadas chegou a 3,7 milhões até fevereiro. A alta foi de 8,7% na comparação com novembro, o equivalente a mais 293 mil nessa condição.
Trata-se da primeira elevação do contingente desde o trimestre encerrado em abril de 2021, disse o IBGE. À época, a economia era afetada pela pandemia de coronavírus, que dificultava a geração de empregos e a busca por vagas.
O grupo dos desalentados reúne pessoas que desejam trabalhar e que estariam disponíveis para as atividades. Elas, porém, desistem de procurar as oportunidades por temor de que não terão vez no mercado.
Segundo Adriana Beringuy, do IBGE, ainda não está claro o motivo por trás do crescimento dessa população após o longo período em baixa.
“A gente ainda não sabe se isso é só um movimento episódico da virada de ano, que pode estar ligado ao menor funcionamento das atividades por conta de períodos de menor produção”, declarou.
“A gente tem de esperar os próximos meses para ter uma avaliação se isso é um outlier [ponto atípico] ou se vai voltar a crescer”, completou.
LEONARDO VIECELI / Folhapress