Desfecho de julgamento de Trump pode mudar rumo da eleição nos Estados Unidos

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Um júri de 12 pessoas pode influenciar os rumos da eleição americana de maneira inédita. A qualquer momento a partir desta quarta-feira (29), será conhecido o veredicto de Donald Trump no julgamento por supostamente falsificar registros empresariais para encobrir pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels.

Nesta terça-feira (28), acusação e defesa apresentaram seus argumentos finais. É o fim de um processo que se estendeu ao longo das seis últimas semanas, no qual 22 testemunhas foram ouvidas e relatou-se em detalhes até a posição sexual adotada por um ex-presidente.

Todd Blanche, advogado de Trump, afirmou que não houve prova de crime e colocou em dúvida, mais uma vez, o depoimento de Michael Cohen, ex-aliado do empresário que diz ter sido encarregado por ele de efetuar o pagamento. Já o promotor Joshua Steinglass percorreu novamente os elos entre as evidências apresentadas para sustentar que o republicano violou a lei intencionalmente para esconder do eleitor, às vésperas do pleito de 2016, uma história que poderia prejudicá-lo.

Se o empresário for considerado culpado, é possível que ele perca o apoio de uma margem do eleitorado que, apesar de pequena, é essencial em uma eleição extremamente apertada. Por outro lado, se escapar de uma condenação, o veredicto será comemorado como uma vitória pela campanha republicana, reforçando o argumento de que Trump é supostamente perseguido por promotores democratas.

O julgamento, que transcorre na Justiça de Nova York, é o único que deve ser concluído antes do pleito, em 5 de novembro. Trump é alvo ainda de outros três processos criminais, mas seu time de defesa foi bem-sucedido até agora em protelar o andamento desses casos.

O júri tem a tarefa de decidir se o ex-presidente é culpado ou não em cada uma das 34 acusações apresentadas pela promotoria, que tratam da falsificação de diferentes documentos. Para chegar a um veredicto, todos os 12 membros precisam estar de acordo. Não há prazo para uma conclusão, e as deliberações podem levar de horas a semanas.

Se o grupo for capaz de chegar a um consenso para cada uma das acusações, há três desfechos possíveis: considerar Trump culpado em todas, em uma parte, ou em nenhuma. No entanto, se um acordo entre o júri for impossível –não é necessário mais do que uma pessoa para bloquear um veredicto–, o impasse obriga o juiz a anular o julgamento. Nesse caso, caberia à promotoria decidir se tenta levar o caso adiante novamente.

Para analistas, do ponto de vista do eleitor, uma condenação total ou parcial faria pouca diferença –o entendimento seria de que Trump foi considerado culpado e ponto. De modo semelhante, o ex-presidente seria visto como inocente tanto se não for condenado em nenhuma das acusações quanto se o julgamento for anulado em razão de um impasse.

A segunda opção é o maior temor de democratas –uma não condenação daria um impulso ao republicano em um momento em que a campanha começa de fato a entrar no radar do eleitorado, com o primeiro debate marcado para daqui a um mês.

Além de reforçar a narrativa de perseguição política, Trump também deve usar a falta de uma condenação como argumento de que esse deve ser o mesmo desfecho dos outros processos criminais contra ele, na tentativa de desarmar a desconfiança principalmente do eleitorado independente contra ele.

No entanto, se for condenado, mesmo que parcialmente, há motivo para o republicano se preocupar. Uma pesquisa de opinião Reuters/Ipsos divulgada há um mês mostra que Joe Biden amplia a vantagem de 1 para 3 pontos percentuais se ele for condenado pela Justiça. A margem sobe para 7 pontos se ele estiver cumprindo pena de prisão (uma sentença considerada pouco provável neste caso).

Outra pesquisa Ipsos, esta em parceria com a rede ABC, divulgada no início de maio, tratou especificamente do julgamento em Nova York. Entre eleitores do ex-presidente, apenas 4% afirmam que deixariam de votar nele em caso de condenação. Outros 16% dizem que reconsiderariam sua decisão. Os números podem ser pequenos, mas se tornam relevantes considerando que, neste momento, Trump está apenas 1,1 ponto percentual à frente de Biden na média das pesquisas eleitorais, segundo o agregador Real Clear Politics.

A campanha democrata debate a melhor forma de explorar uma eventual condenação. Até agora, para não reforçar as acusações de Trump de perseguição política, Biden praticamente não se manifestou sobre os processos criminais. Parte de seus aliados defende que ele siga mantendo distância, deixando para imprensa e redes sociais a repercussão do fato histórico da possível condenação criminal de um ex-presidente e candidato à Casa Branca.

Já outros membros do partido defendem tirar proveito da situação –a equipe de redes sociais de Biden, por exemplo, debateu recentemente começar a se referir ao republicano como “criminoso condenado” em caso de decisão nesse sentido, segundo a imprensa americana.

Um sinal de que o julgamento não será ignorado foi dado nesta terça. Enquanto defesa e procuradoria faziam os argumentos finais dentro da corte, Robert De Niro apareceu do lado de fora, acompanhado por assessores da campanha de Biden e de dois policiais que estavam no Capitólio no 6 de Janeiro. O ator recentemente fez a narração de uma propaganda democrata com ataques a Trump.

“Donald Trump quer destruir não apenas esta cidade, mas também este país e, eventualmente, ele poderia destruir o mundo”, disse.

Outros grupos contrários a Trump também se preparam para agir em caso de condenação. O Lincoln Project, por exemplo, uma organização que se define centrista, já está com propagandas políticas sobre a sentença engatilhadas para irem ao ar nos estados-pêndulo Arizona e Wisconsin, segundo o jornal The New York Times.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS