Desgaste é ruim para a Caixa, diz presidente sob fritura

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Com a Caixa Econômica Federal na mira de integrantes do centrão, que pressionam o governo Lula (PT) por uma reforma ministerial ampla, a presidente Maria Rita Serrano diz não se sentir insegura no comando do banco, mas vê a exposição como negativa tanto para sua imagem quanto para a da instituição pública.

Questionada por jornalistas sobre como tem sido trabalhar sob fritura, Serrano parafraseou declarações dadas pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, diante dos rumores de uma eventual troca de comando.

“Vi uma entrevista dela [ministra Nísia Trindade], que acho que retrata o [meu] sentimento. Ela falou assim: eu não me sinto insegura, mas essa exposição é muito ruim. Ela é ruim inclusive para o banco, porque cria uma insegurança”, disse.

“Não envolve só a mim, é um processo de tentativa, na realidade, de desgaste do próprio governo. Não estão falando só de mim e da Caixa. Estão falando de todos os ministérios, principalmente dos ministérios onde as mulheres estão”, complementou.

A representatividade feminina no primeiro escalão da gestão petista caiu para 10 mulheres titulares (em vez de 11), com a exoneração de Daniela Carneiro do Ministério do Turismo.

A presidente da Caixa disse estar cumprindo o seu papel e minimizou o peso de uma possível substituição. “Obviamente, a exposição é ruim. Agora, faz parte da democracia. Tem interesses, negociações que envolvem o processo democrático de base do governo, então, essa disputa faz parte da democracia”, acrescentou.

Como mostrou a Folha, Serrano tem sido alvo de críticas no governo e do próprio PT. Aliados do mandatário avaliam que, diante disso, deve ser mais fácil ceder o comando do banco. O nome mais citado para substituí-la é o de Gilberto Occhi (PP), que foi ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff (PT) e já presidiu a Caixa.

Quanto às recomendações do presidente Lula nos encontros que tiveram recentemente, Serrano conta que o chefe do Executivo apenas a “mandou” trabalhar. A Caixa é o banco responsável por realizar os pagamentos das parcelas do programa Bolsa Família e também por liberar financiamentos para o Minha Casa, Minha Vida.

“A única orientação do presidente é que o banco tem que trabalhar. Tem que dialogar com todo o setor público, em especial com os bancos públicos, atender adequadamente e com qualidade o pessoal do Bolsa Família”, disse.

“No caso do Minha Casa, Minha Vida, a expectativa é nós nos estruturarmos, já estamos estruturados inclusive, para poder dar conta da demanda”, complementou.

A presidente da Caixa diz ter assumido a gestão de um banco “completamente desmantelado”, citando como exemplo a falta de investimento em tecnologia, e alega que a gestão anterior era baseada no “medo, perseguição e assédio”. O ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, é réu por casos de assédio sexual contra funcionários do banco.

“O banco parou de investir em tecnologia no último período, o que deixou o banco um passo atrás do sistema financeiro, isso tem um preço para a gente. Agora estamos correndo atrás do prejuízo”, disse.

“Nós estamos desde janeiro tentando reconstruir o banco e focá-lo naquilo que interessa para o governo como instituição pública, desenvolvimento do país e, ao mesmo tempo, competir no sistema financeiro porque o banco precisa ter rentabilidade”.

A Caixa foi alvo de críticas do governo Lula pelo anúncio de cobrança de tarifa pelas transferências por meio do Pix feitas por pessoas jurídicas. Depois de ordem do Palácio do Planalto, o banco recuou e suspendeu o início das operações.

Segundo Serrano, os números obtidos pelo banco em seis meses de gestão são promissores. “Crescemos nas operações de crédito quase 9%, estamos com número recorde de empréstimo para infraestrutura, são quase R$ 9,2 bilhões financiando estados e municípios”, exaltou.

Para ela, a retomada do protagonismo da instituição “talvez seja um dos motivos de tanta pressão”.

Serrano é a quarta mulher a presidir a Caixa. Antes dela, o cargo foi ocupado por Miriam Belchior (secretária-executiva da Casa Civil), Maria Fernanda Coelho (secretária-executiva da Secretaria Geral da Presidência) e sua antecessora, Daniella Marques.

A atual presidente é funcionária da Caixa há 33 anos e ocupou diversos cargos na instituição. Era representante dos trabalhadores no conselho administrativo do banco e foi presidente do Sindicato dos Bancários entre 2009 e 2012.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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