SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A capital paulista virou uma vitrine para artistas, designers e artesãos brasileiros. Nesta quarta-feira, começa a DW, a Semana de Design de São Paulo, evento que aposta no caldo cultural do Brasil para atrair o público e promover o design nacional.
“O país é uma potência criativa”, diz Lauro Andrade, idealizador da DW. “Temos uma grande diversidade racial. Então, esse sincretismo cria um caldeirão cultural muito forte.”
Mais de mil profissionais terão os seus trabalhos expostos até 24 de março em diversos pontos da capital paulista. São nomes como o do artista indígena Uruhu Mehinako, que expõe uma coleção de bancos, e de José Paulo Oliveira, que levou um conjunto de mobiliário elaborado com madeira e azulejos. Haverá também a participação de empresas como a Artefacto e a Cité Arquitetura.
Além de jogar luz sobre a miscelânea cultural do Brasil, a Semana de Design busca democratizar o acesso ao design promovendo atividades em 130 pontos de São Paulo.
O centro histórico da cidade receberá, por exemplo, instalações, exposições e palestras em edifícios icônicos, como o Itália e o Martinelli. Também haverá exposições nas zonas sul, norte e oeste. “São Paulo é uma cidade-país. Ela precisa ter essa distribuição nas diversas regiões para que as pessoas possam conhecer os autores brasileiros.”
A organização do evento dividiu a cidade em sete distritos, seguindo a localização de rios e córregos aterrados.
“Durante o festival, haverá o Dia Mundial da Água, que virou nosso tema”, diz o idealizador Lauro Andrade, acrescentando que a inspiração para o conceito veio de “Entre Rios”, documentário que conta a história de São Paulo a partir de rios e córregos.
Um dos trabalhos que estão expostos no festival é a série “Cães de Fé”, do artista visual pernambucano Fernando Portela. São 17 peças de argila que reproduzem as feições de animais como cachorros, enguias e morcegos.
Em comum, todos elas exibem grandes dentes, característica que as aproxima das carrancas –esculturas feitas para proteção contra energias negativas. “Considero o dente como essa materialização da agressão biológica que está contida tanto no organismo humano como no meio animal. E agressão pode ser um elemento de preservação da vida”, diz Portela.
O artista afirma que cada peça é singular em virtude da variação de cor gerada durante a confecção. Ele usa uma técnica chamada modelagem em acordelado, método no qual une tiras de argila umas nas outras até formar um bojo. A última etapa do processo é a queima da peça, que pode acontecer tanto em forno a gás quanto a lenha.
Ele diz que a maior parte das peças expostas na DW foram queimadas a lenha, em fornos de Olinda e Tracunhaém –cidade a 59 quilômetros do Recife conhecida como a capital da cerâmica no Brasil.
“No forno a lenha, as peças ficam mais interessantes por causa da variação de cor causada pela lambida do fogo, já no forno a gás elas tendem a ficar mais uniformes”, diz ele. “Essa série é uma matilha em expansão perene, ou seja, ela cresce de forma contínua, mas não de maneira industrial.”
A confecção das peças leva em média quatro dias, tempo que pode ser maior ou menor a depender do clima. “A cerâmica é temperamental. Se tem sol, é uma coisa. No inverno, a peça pode levar até duas semanas para ficar pronta.”
Portela é um dos 70 expositores que fazem parte da Feira na Rosenbaum, evento da DW. A plataforma criativa busca promover o design independente das diferentes regiões do Brasil. “A gente fomenta essas manifestações artísticas para que elas possam continuar acontecendo”, diz Cris Rosenbaum, que idealizou o projeto ao lado do arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum. “O objetivo é colocar esses artistas em outro patamar e mudar a vida deles.”
DW! SEMANA DE DESIGN DE SÃO PAULO
Quando: De 14 a 24 de março
Onde: São Paulo
Link: https://dwsemanadedesign.com.br/
MATHEUS ROCHA / Folhapress